Por que o Brasil importa fertilizante da Rússia?

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Apesar de grande exportadora de commodities agrícolas – como grãos, tal qual a soja -, 70% da matéria-prima dos fertilizantes usados nos plantios vêm do exterior, aponta a consultoria Cogo

Com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, cresce a preocupação entre os agricultores em relação à compra de fertilizantes para o plantio da safra 22/23. A Rússia é a principal origem do insumo usado nas lavouras brasileiras.Cerca de 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados em 2021 vieram da Rússia, aponta o levantamento do Comex Stat, do Ministério da Economia.

Isso faz com que o Brasil seja o único dos grandes polos agrícolas que tem dependência da importação, apontou Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria, em entrevista ao g1 em novembro de 2021.

Na época da entrevista, o Brasil já enfrentava dificuldades para conseguir fertilizantes e agrotóxicos devido à crise energética em países fornecedores, como a China, além da Rússia.Existem duas razões para o Brasil depender de outros países, segundo o professor Carlos Eduardo Vian da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

ele não possui a matéria-prima;
quando possui, simplesmente não a utiliza para esse fim.

Os fertilizantes químicos são uma ferramenta usada pelos agricultores para aumentar a produtividade do solo.

“Talvez um cidadão comum urbano tenha uma imagem de que é só plantar, que tudo dá no Brasil. Isso não é verdade. Os nossos solos são, em grande parte, pobres em nutrição e a gente precisa corrigir a capacidade nutricional para ter produtividade”, diz Fábio Mizumoto, coordenador do MBA de agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Falta de infraestrutura

No caso dos fertilizantes, o Brasil tem o gás para obter os nitrogenados, por exemplo, mas não tem infraestrutura para o seu escoamento nas plataformas marítimas, perdendo parte expressiva do insumo. É do gás que sai o elemento químico necessário para obter os fertilizantes. O caso citado se trata da categoria dos nitrogenados, que são muito usados na cultura de milho. Deste tipo, 20% da importação vêm da Rússia, segundo dados do Itaú BBA.

O Brasil tem apenas duas rotas de escoamento marítimo em funcionamento e algumas outras terrestres que levam aos centros de distribuição, disse Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), à jornalista.
O Brasil possui apenas 40 mil km de dutos para escoar o gás. Os Estados Unidos, por exemplo, possui 400 mil km.A Rússia seguiu um caminho diferente do Brasil na produção. Ela se desenvolveu como exportadora de commodity e também como potência energética na obtenção dos gases para os fertilizantes.

 

“Adubo é uma coisa muito simples. Eles são misturadores, mas necessitam de grandes quantidades de energia, transporte e armazenamento desses produtos”

O governo federal em novembro de 2021 já estudava lançar o Plano Nacional dos Fertilizantes. Ele tem por objetivo diminuir a dependência externa, por meio de implementação de propostas legislativas para facilitar a produção do item no país.
O debate de retomar as fábricas brasileiras de fertilizantes voltou perante ao cenário de crise do insumo e tem dois lados interessantes a serem considerados, diz o presidente da associação que reúne os fabricantes CropLife Brasil, Christian Lohbauer.Para ele, os produtos podem acabar saindo mais caros ao serem feitos no Brasil, mas, por outro lado, isso geraria fornecimento garantido, independentemente da situação externa.

Fertilizante x agrotóxicos

Os fertilizantes químicos funcionam como um tipo de adubo, usados para preparar e estimular a terra para o plantio. Já os agrotóxicos, também conhecidos como pesticidas e defensivos, são usados para proteger as plantações de pragas e animais.

Você sabe a diferença entre fertilizantes e agrotóxicos? Descubra

Os agrotóxicos são divididos em três categorias, cada um com seu alvo em específico:

Herbicida: age contra ervas daninhas;
Fungicida: contra fungos que causam doenças;
Inseticida: contra insetos;

Fonte: g1