Guerra pode travar venda de fábrica de fertilizantes da Petrobras

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                        Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN 3)em Três Lagoas

Apesar de o valor envolvido não ter sido informado pelas empresas, o governo de Mato Grosso do Sul informou que a Petrobras gastou mais de R$ 3 bilhões para construir a fábrica. Parte desse dinheiro se perdeu com a deterioração dos equipamentos ao longo dos anos, desde a suspensão da obra em 2014.

“O acesso do Banco Central e das empresas russas às suas reservas e a ativos em dólar estão bloqueados e foram cancelados do sistema de pagamento internacional, o Swift. Sem poder movimentar dinheiro, a Acron não pode fechar o negócio, pelo menos por enquanto”, afirma Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Esse não é um problema para a Petrobras, pois a assinatura do contrato não estava prevista nos próximos dias. Segundo uma fonte da petrolífera, alguns trâmites internos ainda têm de ser cumpridos, o que costuma levar meses. A questão é que os dois lados estavam empenhados em acelerar o processo para que a empresa russa começasse a operar a fábrica já em julho.

“O negócio só será inviabilizado se a guerra e os efeitos da sanção econômica se estenderem e a Acron perder o fôlego para novas aquisições”, afirma Leão.

Pompa

No dia 11 de fevereiro, quando a guerra ainda era uma tensão geopolítica, o vice-presidente da empresa, Vladimir Kantor, foi a Mato Grosso do Sul acompanhado de representantes da Petrobras, para conversar com o governador Reinaldo Azambuja. O encontro foi comemorado pelo governo local, que há anos aguarda por um investidor na UFN-III.

A unidade começou a ser construída em 2011. Três anos depois, as obras foram paralisadas com 81% das instalações de pé. Hoje, a fábrica é um esqueleto em Três Lagoas, e o esforço da Petrobras se limita a evitar a degradação dos equipamentos.

O encontro dos executivos com o governo local foi marcado exatamente para acelerar o início das operações. Um grupo de trabalho foi formado para elaborar o documento que vai oficializar os benefícios fiscais oferecidos pelo Estado à retomada da obra. “Temos toda intenção de concluir essa venda no prazo mais rápido possível”, afirmou, no dia, a gerente executiva de Gestão de Portfólio da Petrobras, Ana Paula Saraiva.

Mudança de planos 

A UFN-III foi planejada em um momento em que a Petrobras idealizou o uso do futuro gás do pré-sal como matéria-prima em diferentes negócios, um dos principais era a produção de fertilizantes, importado em larga escala pelo setor agrícola brasileiro. Em 2014, porém, sob nova gestão, voltada a resolver as finanças da estatal, a Petrobras decidiu vender todos os ativos não relacionados a seu negócio principal, a exploração e produção de petróleo bruto e gás, em águas profundas e ultraprofundas.

Para a Acron, o negócio é vantajoso. A empresa é uma das líderes mundiais no fornecimento de fertilizantes. Em seu site, diz ter vendido seus produtos a 74 países em 2020. Entre seus principais mercados, estão “Rússia, Brasil, Europa e Estados Unidos”, nesta ordem. Na UFN-III, ela teria a chance de produzir 3,6 mil toneladas por dia de ureia e 2,2 mil toneladas por dia de amônia, a partir de 2,2 milhões de m³ por dia de gás.

Para entender

  • Sonho grande

A Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III da Petrobras, em Três Lagoas (MS), começou a ser construída em 2011, quando a estatal tinha política expansionista

  • Crise

Com a crise econômica e política no segundo mandato de Dilma Rousseff, a obra foi interrompida em 2014, quando estava 80% pronta

  • Desinvestimento

Com as obras paradas, a unidade entrou na lista de desinvestimentos da Petrobras. Uma tentativa de venda foi frustrada em 2019

  • Solução russa

Em 4 de fevereiro, foi anunciada a venda para a empresa russa Acron, mas a guerra na Ucrânia pode atrapalhar

Bolsonaro comemorou na época a venda da fábrica de fertilizantes da Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro comemorou o acordo da Petrobras com o grupo russo Acron para a venda da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados), em Três Lagoas (MS). O acordo foi assinado no dia 4 de fevereiro.O tema, inclusive, foi tratado na viagem da comitiva brasileira à Rússia no mês de fevereiro.”Dez anos depois a Petrobras anuncia sua venda para iniciativa privada. Brevemente produzirá fertilizantes para a agricultura, diminuindo nossa dependência externa”, escreveu o mandatário nas redes sociais.A Petrobras colocou a UFN3 à venda em setembro de 2017, dentro do plano de desinvestimento da companhia, alegando não ter mais interesse em seguir no ramo de fertilizantes. O presidente Jair Bolsonaro afirmou nas redes sociais que a unidade, que começou a ser construída em 2011, agora será tocada pela iniciativa privada. UFN3 teve a obra paralisada em dezembro de 2014, após a Petrobras romper o contrato com o consórcio responsável pela construção da fábrica.