A procura pelo Endurance, um olhar para o passado

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Se o Endurance for encontrado’, diz o Times, ‘os submersíveis fotografarão e examinarão os restos, mas não os tocarão, pois o naufrágio é protegido como monumento histórico.O Endurance preso no gelo, em foto do membro da expedição Frank Hurley

Ele é um dos mais icônicos navios do mundo. Foi com ele que o explorador e navegador Ernest Shackleton escreveu uma das mais belas sagas da história naval quando pretendia atravessar a pé a Antártica. Mas a expedição não saiu como planejada. O navio ficou preso e, posteriormente, foi esmagado e afundado pelo gelo no Mar de Weddell em 1915. Mais de cem anos depois, começa a procura pelo Endurance.

Um olhar para o passado

A frase é de uma matéria do New York Times, que conta que um quebra-gelo sul-africano está a caminho do mar de Weddell, com uma equipe de exploradores, cientistas e técnicos empenhados em encontrar os destroços.

Trata-se, como diz a matéria, de uma expedição que não é apenas olhar para o passado. Há também cientistas de gelo a bordo que irão coletar amostras e analisar o gelo de Weddell, procurando sinais de como as mudanças climáticas podem afetá-lo no futuro.

A história da conquista da Antártica é farta em momentos de angústia, sofrimento, e muita coragem de seus protagonistas. A começar pela descoberta do Continente Branco, o único a ter três descobridores simultaneamente.

Passado o período da descoberta, começava outro, ainda mais interessante e inigualável em termos de expedições aos mais ermos rincões do planeta: a fase heroica, da qual Shackleton é a maior expressão.

Os protagonistas do período heróico

São muitos os que colocaram seus nomes no topo deste período que, segundos historiadores, começou em 1895 depois do Sexto Congresso Geográfico Internacional.

E são referências figuras legendárias como Roald Amundsen, Robert Scott, Adrien de Gerlache, o primeiro a invernar no continente; e, especialmente, Ernest Shackleton.

A procura pelo Endurance

‘A expedição Endurance22, cujo site você pode acompanhar neste link,  como é conhecida, espera navegar pelo notório gelo do Weddell até a área onde o navio afundou e então lançar alguns drones submarinos, também chamados de submersíveis autônomos, para procurá-lo’.

‘Se o Endurance for encontrado’, diz o Times, ‘os submersíveis fotografarão e examinarão os restos, mas não os tocarão, pois o naufrágio é protegido como monumento histórico’.

‘Com uma tripulação de 46 pessoas e uma equipe de expedição de 64 membros, o Agulhas II deixou a Cidade do Cabo no início de fevereiro, com destino ao Mar de Weddell’.

‘Chegar lá não será fácil. Esmagado pelo gelo em 1915, o Endurance de 144 pés de comprimento está afundado a pouco mais de  3.000 m de água. E esta não é uma água qualquer: no Weddell, uma corrente rodopiante sustenta uma massa de gelo marinho espesso e desagradável que pode ser páreo até mesmo para quebra-gelos modernos’.

A maior caça aos naufrágios de todos os tempos

“É o naufrágio mais inacessível de todos os tempos”, disse Mensun Bound, arqueólogo marinho e diretor de exploração da expedição Endurance22, “o que torna esta a maior caça aos naufrágios de todos os tempos.”

                    O mapa da viagem do Endurance com a sinalização do local onde afundou

Shackleton não conseguiu atingir seu objetivo, mas quando voltou para a Grã-Bretanha com toda sua tripulação, depois de uma jornada épica de barco aberto por mares traiçoeiros, foi saudado como um herói. Ele ainda é idolatrado hoje, em livros, filmes e até em cursos de administração, onde a expedição é considerada um estudo de caso em liderança eficaz‘.

“Estou tão fascinada por Shackleton e Endurance quanto qualquer um”, disse Caroline Alexander, autora e co-curadora de uma exposição de 1999 sobre a expedição Endurance no Museu Americano de História Natural em Nova York. Do naufrágio, ela disse, “seu significado é quase emocional, em vez de, digamos, estritamente histórico”.

Custo da expedição: mais de US$ 10 milhões

Segundo o Times, ‘a expedição para encontrá-lo, financiada a um custo de mais de US$ 10 milhões por um doador anônimo, terá menos de duas semanas para localizar os destroços assim que o quebra-gelo chegar ao Mar de Weddell’.

Se o Endurance for encontrado, os drones tirarão fotos e farão vídeos e varreduras a laser precisas dos destroços. Mas o local não será perturbado, pois foi declarado monumento histórico nos termos do Tratado da Antártida, um acordo internacional assinado em 1959 destinado a preservar o continente para fins pacíficos’.

Espera-se que o naufrágio esteja em condições relativamente boas por causa da água fria e da ausência de organismos que se alimentam de madeira nos mares da Antártida.

“Sabemos muito bem para onde precisamos ir”, disse John Shears, líder do Endurance22, que está fazendo sua 25ª expedição à Antártida. E até agora nesta temporada (verão antártico) as imagens de satélite mostram que o gelo não está tão ruim. “Estamos muito otimistas de que vamos alcançar o local do naufrágio com o navio”, disse Shears.

Bloco de gelo à deriva

Segundo o New York Times, ‘uma mudança nos ventos ou uma queda repentina na temperatura podem mudar as coisas rapidamente, como Shackleton aprendeu da maneira mais difícil. Caso o gelo impossibilite a chegada ao local do naufrágio, a expedição tem um audacioso Plano B. Ele envolve o uso de dois helicópteros para enviar equipamentos e técnicos para um bloco de gelo à deriva, onde eles farão um buraco de um metro de largura e lançarão os submersíveis de lá’.

O navio esmagado. Foto de Frank Hurley. Começava a saga que transformou Shackleton em personagem admirada e cultuada até hoje

Expedição anterior à procura pelo Endurance

O New York Times explica que esta não é a primeira tentativa de encontrar o Endurance. ‘Uma expedição anterior, três anos atrás, terminou em fracasso quando um submersível de tecnologia mais antiga foi perdido antes que os técnicos pudessem determinar se haviam localizado o naufrágio. Os submersíveis mais novos serão conectados à superfície por um cabo de fibra ótica que pode entregar imagens e dados em tempo real’.

Fonte: Mar Sem Fim