O que fazer com a frota velha?

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Por Senador Clésio Andrade, presidente da CNT e do Sest Senat​

Entraram em circulação nas ruas e estradas do Brasil, em abril passado, mais 289 mil veículos, sem contar as 146 mil novas motos. Na primeira quinzena do mês de maio, ainda sem o novo incentivo da redução de impostos, outros 150 mil automóveis e comerciais leves, nove mil caminhões e outras 85,8 mil motos passaram a circular.

 

As medidas do governo de incentivo ao consumo, inclusive com favorecimento do crédito, têm reflexo efetivo no crescimento da economia. É positivo esse aquecimento que gera empregos e favorece a renda, alimentando o círculo da demanda e oferta.

 

Esse movimento, porém, tem merecido algumas críticas pelas consequências imediatas que gera. Em primeiro lugar, o aumento da frota agrava a situação já caótica do trânsito nas grandes e médias cidades brasileiras, elevando os índices de poluição e reduzindo a qualidade de vida de todos que precisam se locomover – especialmente daqueles que dependem do transporte coletivo.

 

Olhado um pouco além das cores brilhantes dos novos veículos, é possível perceber um grave problema para o futuro: o que fazer quando eles envelhecerem, enferrujarem se tornarem inservíveis?

O alto valor de mercado dos veículos usados no Brasil ainda não permitiu que se criasse um mercado natural para o desmanche lucrativo dos veículos antigos. A atual política tributária, pelo contrário, favorece a preservação de carros e caminhões mais antigos.

 

É oportuno que as autoridades, indústria e a sociedade comecem a buscar, já com atraso, soluções. Preocupa-nos especialmente a questão dos caminhões, pelas implicações que têm nas perdas de produtividade, nas ameaças à segurança e ao conforto dos motoristas e no comprometimento do meio ambiente.

 

É indispensável revigorar e fortalecer programas de renovação de frota, retirando veículos antigos de circulação. A receita, mais uma vez, é a desoneração tributária e até o subsídio à renovação. A troca pelo velho por um zero ou por um mais novo, de modo favorecido principalmente para os caminhoneiros independentes.

 

A atual frota brasileira de caminhões está chegando aos 1,6 milhão de unidades, dos quais 46% têm idade média de 19,3 anos e pertencem a autônomos. Nada menos que 32% da frota total têm mais de 20 anos de uso e 17% deles têm mais de 30 anos de uso. As estatísticas para os carros de passeio não são animadoras. Temos 16 milhões deles com mais de 15 anos de uso.

 

É preciso planejar, com urgência e profundidade, soluções compensatórias para um quadro que se agrava com o incentivo dado ao consumo de veículos.  É preciso, agora, incentivo para o descarte de forma sustentável dos inservíveis ou antieconômicos e inseguros.