Li Jinzhang: “A China quer deixar um legado de inovação”

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"Todo mundo, incluindo a China, está interessado na tecnologia de agricultura brasileira", diz Li Jinzhang, o embaixador da China no Brasil (Foto: Divulgação)

Por NATHALIA PRATES / Revista Época

Quando criança, no início da década de 1950, Li Jinzhang sonhava em ser motorista de trem. Filho de ex-operários de linhas ferroviárias, cresceu em uma China essencialmente agrária, atrasada e guiada por uma política econômica fechada. Ingressou na diplomacia em 1976, ano em que morreu o líder comunista Mao Tse-Tung, marcando o fim da Revolução Cultural e, dois anos mais tarde, o início do processo de abertura da economia do país. Li não imaginava que um dia se tornaria embaixador, muito menos da segunda potência mundial. O diplomata representa os interesses chineses no Brasil desde o início deste ano. Antes, serviu em Cuba e Nicarágua, foi embaixador no México e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China. Li fala a ÉPOCA sobre os avanços em educação e tecnologia para modernizar a indústria de transformação chinesa e afirma que a ampliação da demanda interna dos brasileiros e chineses está criando condições ainda mais favoráveis para a cooperação comercial entre os dois países.

ÉPOCA- Qual é a tendência para a importação de bens de consumo pela China nos próximos anos?


Li Jinzhang – Com o crescimento econômico do país, a renda per capita dos chineses está aumentando. Isso faz crescer a demanda por produtos importados, mas tentaremos manter a nossa balança comercial equilibrada. Nos próximos cinco anos, o volume total de importações chinesas deve ultrapassar US$ 8 trilhões. No ano passado, nossas importações somaram US$ 1,7 trilhão. O governo chinês vem anunciando uma série de medidas para incentivar e facilitar as importações, como a redução de tarifas e melhorias de administração externa. Isso trará boas oportunidades para todos os países, inclusive o Brasil, de fazer negócios com a China.

 

ÉPOCA – Assim como o Brasil, a China possui uma necessidade de investimentos muito alta. Empresas brasileiras podem esperar atuar em projetos de infraestrutura na China nos próximos anos?


Li – As empresas brasileiras são muito bem-vindas. Já existem companhias poderosas atuando na China, como a Vale e a Embraer, que certamente fizeram bons negócios. Estamos dispostos a criar um ambiente cada vez mais atrativo. Queremos facilitar os investimentos brasileiros e fornecer toda a ajuda e o apoio necessários. Investir na China hoje é completamente diferente do que há 30 anos, quando demos início à nossa abertura econômica. Mais de 190 países já investem na China e muitos outros já se mostram interessados, o que torna o ambiente ainda mais competitivo.

ÉPOCA- Quais são os principais aspectos que tornam tão bem sucedido o modelo atual de educação na China? Como ele deve evoluir nos próximos anos?

Li – Em 2008, a China ampliou o programa que prevê educação pública obrigatória em todo o país. Com isso, o acesso à educação universal foi popularizado, deixando de ser um privilégio da elite chinesa. Nosso objetivo é que nenhuma criança fique pra trás. É claro que proporcionar uma educação de qualidade para 1,3 bilhão de pessoas não é tarefa fácil. Ainda é preciso alcançar as crianças de áreas rurais e minorias étnicas. A China é um país em desenvolvimento, com problemas típicos de países em desenvolvimento, como a precariedade na educação. Mas estamos progredindo. Em 2009, a província chinesa de Xangai ficou em primeiro lugar na classificação geral do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Aluno), realizado pela OCDE (deixando pra trás os outros 64 países participantes, como Coreia, Finlândia e Canadá.O Brasil ficou entre as 53ª e 57ª posições). Nossos investimentos em educação correspondem hoje a 4% do PIB. (O Brasil investe 5%). Vamos aprofundar os estímulos também ao ensino técnico e à qualificação profissional.

ÉPOCA- A China está se tornando, rapidamente, uma potência tecnológica. Quais são as principais características dessa política bem sucedida?


Li –
Incentivar a inovação é uma das prioridades de nossa política. Ciência e tecnologia são fundamentais para um crescimento sustentável. Como resultado dos nossos investimentos, conseguimos avanços inéditos em áreas como nanotecnologia, informática quântica e veículos híbridos – sem falar no constante aumento do número de registros de patentes. Também apresentamos resultados significativos em energia solar, eólica e biológica. Hoje, a China é o maior produtor de equipamentos de energia solar do mundo. Mas ainda falta intensificar a utilização dessa energia limpa nas indústrias, bem como tecnologias mais modernas para elevar o nosso nível de transformação industrial. Vamos investir ainda mais em pesquisas e estabelecer vínculos com universidades e organizações de alto nível para aumentar a competitividade das nossas empresas. Assim, conseguiremos deixar um verdadeiro legado de inovação.