Adriano Pires, Dir.do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).

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Adrio Pires
Adrio Pires

Enfrentando escassez de fornecedores nacionais,Petrobras e BNDES se unem para fazer com que empresas de bens de consumo eautopeças produzam para o pré-sal

Preocupados com a capacidade da indústria naval brasileira de atender àforte demanda por equipamentos de exploração de petróleo, a Petrobras e BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) saíram em busca de empresasdispostas a fazerem frente ao aumento da demanda decorrente dopré-sal e se tornarem fornecedoras do setor de óleo e gas.

O alvo inclui até companhias que não têm nenhuma experiência no setor, como asgaúchas Tramontina e a Randon – a primeira fabrica talheres e utensílios de açoinoxidável e a segunda atua no setor de autopeças. A empreitada visa amenizaros problemas enfrentados pela Petrobras para cumprir a cota de conteúdo localnos projetos, que é exigida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) no momentoem que as empresas exploradoras de petróleo participam do leilão de concessão.Segundo a ANP, o índice de nacionalização ideal é de 65%.


A empreitada do BNDES e da Petrobras é considerada uma “atitude desesperada”,na avaliação de Adriano Pires, professor da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). “Alémde transformar a nossa indústria em uma das mais caras do mundo, corremos o riscode ter empresas ineficientes que não conseguirão competir com as estrangeiras”,afirmou o especialista ao site de VEJA.

Segundo Pires, a produção de petróleo no Brasil tem aumentado em velocidadeaquém do esperado e uma das razões é a falta de capacidade da indústria navalbrasileira em fornecer equipamentos. “O governo, com essa política de conteúdonacional mínimo, condiciona a dinâmica da produção de petróleo à capacidade daindústria local, que é baixa”, diz.

A parceria entre a Petrobras e o BNDES ilustra uma situação alarmante?
Todaa produção de petróleo da Petrobras está atrasada, por vários motivos. Faltadinheiro na empresa para fazer investimentos tão elevados; mão de obraqualificada para o setor; e empresas brasileiras fornecedoras de equipamentos.O governo, com essa política de conteúdo nacional mínimo, condiciona a dinâmicada produção de petróleo à capacidade da indústria naval nacional, que éincipiente. E essa política gera distorções no mercado. No desespero, o BNDEScomeçará a subsidiar aquelas empresas que não têm experiência e tecnologia naárea, o que acabará por transformar a nossa indústria de serviços e produtos offshore em uma das mais caras do mundo.

Quais são os riscos dessa empreitada? Além de impactar nacompetitividade dos produtos, a atitude do governo faz com que corramos o riscode ter empresas ineficientes. Um exemplo de como isso já acontece é o navioJoão Cândido, encomendado pela Petrobras ao estaleiro Atlântico Sul, que nãosaiu do lugar até hoje. O navio demorou 50 meses para ser construído, enquantoum navio de mesmo porte em estaleiros estrangeiros leva apenas 12 meses. Semcontar que custou 180 milhões de dólares, enquanto o custo lá fora é de 60milhões de dólares. Isso atrasa a produção de petróleo nacional, que já temcrescido muito lentamente.

Hoje, a Lupatech, que fornece equipamentos para exploração de petróleo, estáquebrando, porque, em 2008, a empresa acreditou nas promessas da Petrobras deque o volume de encomendas ia crescer muito mais do que realmente cresceu.

É possível comparar a política de conteúdo nacional na indústria dopetróleo com o que o governo está fazendo no setor automotivo e de tecnologia,intensificando a produção de carros e tablets em território nacional? Aessência da política é a mesma, mas não vai funcionar no setor petroleiro. Ovolume de investimentos necessário para explorar petróleo é muitas vezes maiordo que o dinheiro usado para produzir tablets ou automóveis. São setorescompletamente diferentes. É uma indústria que necessita de alta sofisticaçãotecnológica e de mão de obra experiente, enquanto um tablet pode ser montado emqualquer país que disponha de uma força de trabalho barata, como as naçõesasiáticas.

Indústria naval brasileira pode se tornar a mais cara do mundo 



A indústria naval brasileira não sairia ganhando? Énecessário incentivar essa indústria de alguma forma, mas com critério, e nãocom essa reserva de mercado. Caso contrário, atrasaremos ainda mais a produçãoe teremos a indústria mais cara e ineficiente do mundo. Sem contar o risco queuma empresa estrangeira corre ao vir ao Brasil fornecer para a Petrobras: comoa estatal é praticamente o único comprador, se acontecer algo com a empresa,ela leva toda a cadeia junto.