Boas práticas contribuem com a busca por um combustível de qualidade

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A necessidade de se ter uma atenção especial com a mistura de diesel e biodiesel vem sendo estudada há alguns anos pela doutora em ciências Fátima Menezes Bento, professora do Departamento de Microbiologia, Parasitologia e Imunologia, do Instituto de Ciências Básicas da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).As pesquisas contribuíram para que a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o Sest Senat elaborassem o manual “Procedimentos para a Preservação da Qualidade do Óleo Diesel B”. Muitos resultados dos estudos da pesquisadora estão detalhados na publicação. Na avaliação da especialista, o manual contribui para o uso racional e responsável do combustível.

Interessados em conhecer o manual podem ler a versão eletrônica ou solicitar, e receber em casa, uma cópia da versão impressa – basta preencher um formulário.

Leia trechos da entrevista que a professora Fátima Bento concedeu à Revista CNT Transporte Atual:

Por que o cuidado com o manuseio do diesel B é tão importante?
O armazenamento em qualquer escala de diesel sempre demandou cuidados, mas que foram, muitas vezes, e são ainda, negligenciados. A falta de cuidados na estocagem criou um problema crônico em óleo diesel. Com a introdução de biodiesel, que tem características distintas do diesel de petróleo, tem-se verificado no mundo inteiro uma maior suscetibilidade da nova mistura (diesel e biodiesel) à formação e ao aumento de sedimentos biológicos. Dois problemas que geralmente aparecem quando o processo de contaminação microbiana está instalado são o entupimento de filtros e a incidência de corrosão, influenciada por micro-organismos presentes nos tanques. Outras consequências, como a redução na estabilidade química ou o aumento da corrosividade do combustível, geralmente ocorrem concomitantemente. Dessa forma, com a circulação da nova formulação do diesel brasileiro, que desde 2008 vem recebendo biodiesel, são necessários procedimentos específicos para seu armazenamento e manuseio.

Qual dica é importante reforçar para quem é do setor de transporte e precisa estar atento à correta utilização desse combustível?
A principal dica passa pela drenagem e limpeza do tanque, se possível. Tanques muito antigos, independentemente do material em que são fabricados, são suscetíveis à formação de biofilmes, que são depósitos de material biológico não uniforme, composto por várias espécies microbianas. Pode ser formada uma espécie de tapete. E, em algum momento, o material adquire uma espessura maior, podendo desprender-se e ficar em suspensão na massa do combustível e ser uma forma contínua de recontaminação.

A quais pontos os postos de combustível precisam ter mais atenção?
A mistura diesel e biodiesel criou novas condições nos tanques, do veículo ao posto de abastecimento, devido a peculiaridades do biocombustível e do diesel brasileiro. O biodiesel brasileiro – cerca de 80% do combustível é produzido a partir de óleo de soja – é muito menos estável quimicamente do que o biodiesel produzido a partir de canola, como na Europa. Hoje encontramos óleo diesel sendo comercializado em todo território nacional com diferentes percentuais de enxofre. As novas formulações estão chegando ao mercado e encontrando muitas vezes os sistemas de armazenamento antigos, quase entrando em colapso.

É verdade que muitos postos de combustíveis estão se adaptando às novas exigências ambientais, substituindo tanques antigos (de até 30 anos) por novos. Mas sabe-se do custo envolvido, especialmente quando se trata de pontos de baixa rotatividade. A adoção de rotinas rígidas é a primeira etapa na conscientização da importância de medidas preventivas. As boas práticas irão, a longo prazo, contribuir com a busca por um combustível de qualidade em toda a cadeia.

Quais os benefícios do biodiesel adicionado no diesel?
A introdução do biodiesel na matriz energética brasileira ocorreu a partir do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, criado por decreto lei em 2003 e complementado pela lei nº 11.097, de 2005. O biodiesel é um combustível derivado de óleos vegetais e gordura animal. Recentemente, novas questões despertaram o interesse pelos biocombustíveis, como a diminuição da dependência externa de petróleo, por razões de segurança de suprimento ou impacto na balança de pagamentos, minimização dos efeitos das emissões veiculares na poluição local, principalmente nos grandes centros urbanos, e para o controle da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.

O apelo por combustíveis renováveis e menos poluentes continua sendo motivo de pesquisa e desenvolvimento no mundo. O biodiesel apresenta inúmeras vantagens, que o credenciam como um sucessor natural para o diesel de petróleo. No entanto, é um combustível extremamente instável, notadamente quando exposto à ação da umidade e do oxigênio do ar.

 

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Cynthia Castro / Agência CNT de Notícias