Águas profundas em Rio Grande

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A construção dos Molhes da Barra teve inicio em 1911, sendo inaugurada em 1915. Foi o marco para o crescimento econômico de Rio Grande. Até hoje é considerada uma das maiores obras da engenharia hidráulica

por Wilen Manteli*

No início do século passado, a navegação no então precário porto de Rio Grande era considerada impraticável. A barra de Rio Grande era conhecida como “Cemitério de Navios” e “Barra Diabólica”. Pouquíssimos navegadores se arriscavam por aquelas águas, cheias de mistérios e fantasmas. Autoridades da época diziam que o Rio Grande do Sul não poderia ter porto e que a solução seriam os portos de Santa Catarina ou de Montevideo.

Como “navegar (era) e é preciso”, os gaúchos não se deram por vencidos, com determinação inquebrantável enfrentaram os desafios da “Barra Diabólica”. Resultado desses esforços concluiu-se, em 1915, a construção dos molhes, que exigiu a contratação de milhares de trabalhadores brasileiros e uma gigantesca movimentação de grandes blocos de pedra. Os molhes foram compostos por dois quebra-mares que avançam adentro do Oceano Atlântico. Devido a esses notáveis esforços, o Rio Grande do Sul passou a ter seu próprio porto.

 

“Esse empreendimento de engenharia oceânica foi considerado a segunda maior obra do mundo na época, sendo a primeira a do Canal de Panamá, inaugurada em 1914”.

 

No momento em que se comemoram 105 anos daquela verdadeira epopéia gaúcha, a Superintendência do Porto de Rio Grande, sob o comando de Fernando Estima, num elogiável esforço enfrentou vários obstáculos, não mais os da fúria do mar, mas os criados por vários órgãos públicos que interferem nos serviços de dragagem, conseguiu atender todas as exigências e concluir o empreendimento, dotando o canal de acesso ao porto com 18 metros na parte externa e 15 metros na interna. Nesta obra foram investidos R$ 500 milhões de recursos federais.

O porto gaúcho equipara-se, hoje, aos grandes portos internacionais. Além dos novos calados existem outras vantagens competitivas, como as áreas disponíveis para abrigar novos empreendimentos; a sua localização, no centro do Mercosul, próximo da África e no caminho da Ásia; e um conjunto de modernos terminais de uso público e privado que lá operam.

A missão de um porto é colocar todas as facilidades portuárias à disposição dos seus usuários e promover o desenvolvimento econômico da região. Para bem cumprir com esses objetivos, a administração do porto teria que ter autonomia administrativa, operacional e financeira, desvinculada das amarras estabelecidas pelas estruturas de Brasília.

“Com o propósito de fortalecer o porto, o governo estadual está trabalhando para substituir a atual autarquia que administra o mesmo por um modelo similar às gestões dos portos internacionais”.

Seria indispensável que essa nova entidade para que tenha continuidade na sua gestão deveria ser de Estado e não de governo, e contar com administradores empreendedores e que vejam nos portos e nas hidrovias indutores de negócios, de riqueza e postos de trabalho. Oxalá, que tenham o mesmo arrojo daqueles homens de 1915. O Rio Grande do Sul agradecerá.

(*) Presidente da Associação Hidrovias do RGS – HidroviasRS