Soja: por que o principal produto exportado pelo porto de Rio Grande também é alvo de ladrões

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Soja representa quase metade da movimentação de cargas no porto de Rio Grande, mas desperta a atenção de criminosos

por Diniz Júnior

Ela é da cor do ouro. E para a economia do Rio Grande do Sul, tem a mesma importância do que o metal precioso. De janeiro a outubro deste ano, o porto de Rio Grande movimentou 32 milhões de toneladas. Deste total, cerca de 13 milhões de toneladas apenas do complexo soja: grãos, óleo e farelo. Não é à toa que o principal produto agrícola é o termômetro do agronegócio. A safra recorde está amenizando o ano de turbulência na economia e redução na movimentação de cargas. Enquanto isso, a eficiência dos terminais e os bons números reforçam a posição do porto de Rio Grande como referência nacional no embarque de grãos.

PRF e caminhoneiro se deparam diante de mais um ataque na BR-392

No mercado internacional, a soja também segue em alta. Uma saca de 60 kg foi negociada por cerca de R$ 70,88 nesta sexta-feira (27), um excelente preço que aumenta o interesse dos agricultores. Segundo a CONAB, a projeção é de crescimento de até 6,8% na produção de soja na safra 2015/2016, chegando a 102,8 milhões de toneladas colhidas nas lavouras brasileiras.

E não é que os criminosos também voltaram suas atenções para os grãos dourados de soja? É o que vem acontecendo em Rio Grande. Na BR-392, a Polícia Rodoviária Federal e a concessionária Ecosul passaram a registrar uma ocorrência até então inusitada. No km 18 da rodovia – a única que dá acesso aos terminais – os motoristas são alvos de ladrões quando fazem um retorno para chegar no pátio de espera. No exato momento em que o veículo reduz a velocidade, os homens se aproximam eabrem a tampa traseira, fazendo a soja cair no chão. “Eu não consegui ver como eles subiram no caminhão. Quando estacionei, já tinha dos dois pinos abertos”, relata um caminhoneiro que prefere não se identificar.

As ações acontecsoja estrada 01em, principalmente, no horário entre a 0h e às 4h. Neste ano, foram mais de 90 ataques.Em cada um deles, os ladrões chegam a levar até três toneladas do grão. Isso porque a soja que tombada no esquema criminoso é varrida para o acostamento da rodovia pela concessionária para evitar acidentes no trecho. Quando o dia amanhece, os grãos são recolhidos por pessoas envolvidas na fraude e vendidos no mercado negro – já que a soja serve como alimento para animais, por exemplo. “Nós temos sugerido aos caminhoneiros e às empresas que coloquem cadeado para dificultarem”, sugere José Dourado, chefe da PRF em Rio Grande.

Outra ação criminosa para roubar a soja movimentada no porto foi alvo de uma operação policial nesta sexta-feira. Batizada de “Limpa Trilho”, a ação mobilizou 75 policiais civis, que cumpriram 16 mandados de busca e apreensão. Quatro pessoas foram presas. Entre os detidos, um homem suspeito de participar do descarrilamento de um trem da América Latina Logística (ALL) que carregava soja, há cerca de três meses. Três armas, munição, 250 g de maconha, 50 pedras de crack, R$ 4 mil, pneus de caminhões, rádios de comunicação e até uma espada ninja foram apreendidos. Além disso, policiais encontraram com os suspeitos ferramentas utilizadas nos crimes. Uma delas especialmente para danificar os trilhos do trem. Segundo a delegada Ligia Furlaneto em entrevista à Rádio Gaúcha, trata-se de uma organização criminosa que age especificamente na região portuária de Rio Grande. Os criminosos acabam vendendo a soja e os equipamentos furtados ou roubados.

“Eles conseguiram modificar os trilhos do trem e, com isso, provocaram acidente ferroviário. Pretendemos erradicar esse tipo de crime que vinha provocando bastante preocupação, tanto em relação aos caminhoneiros que tinham sua  soja furtada, quanto as empresas que faziam transporte da soja e empresas que tinham seus vigilantes rendidos sob ameaça de arma de fogo”, disse Ligia.

As investigações sobre a ação criminosa iniciaram com a morte de um vigilante do terminal de grãos Tergrasa, em agosto do ano passado. Moacir Ruiz Moncks, 47 anos, levou um tiro na cabeça de três homens que estavam dentro de um bote, no mar, e que tentariam roubar soja de um navio. Os investigados foram presos por latrocínio. Em 2011, a Polícia Federal já havia flagrado a ação de homens que roubavam a soja quando era embarcada em navios do porto.

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