por Diniz Júnior
Os holandeses têm todos os motivos para temerem as bravas águas do Mar do Norte. A longa relação da Holanda com o mar originou tecnologias que ajudam no combate ao aquecimento global e a desastres ambientais. A água está no DNA dos holandeses, faz parte da identidade nacional. Ao longo dos séculos, o país travou diversas batalhas contra a água. Moinhos foram usados para controlar seu nível e diques foram construídos para manter os holandeses secos. Após a tragédia de 1953, quando uma tempestade causou enchentes e mais de 1.800 mortes, os esforços nacionais foram redobrados.
Uma mega tempestade atingiu o Mar do Norte na noite de 31 de janeiro de 1953. Essa tempestade, combinada com uma maré excepcionalmente alta (que ocorre regularmente quando a força gravitacional da lua se junta à do sol) resultou em desastre. Os diques não aguentaram e o que era fazenda e cidade voltou a ser mar sem aviso prévio.Em 2009, a convite do governo holandês conheci várias obras de infraestrutura nos portos, aeroportos e estradas na Holanda, juntamente com um grupo de jornalistas brasileiros. Uma das visitas incluía as Obras do Delta, um grande sistema de defesa contra inundações que protege os estuários dos rios Reno, Mosa e Escalda.
O grande diferencial é que a Holanda aprendeu a não combater mais a água, mas a conviver com ela. Por todos os lados foram criadas bacias de coleta, garagens, parques e praças que também servem como reservatórios, para quando o mar e cursos d’água avançam e ameaçam inundar a região.
São duas estruturas imensas, dois braços de 350 metros de comprimento ao todo, dispostos frontalmente, nas margens do rio Reno. A função é criar uma barreira artificial para conter o avanço das águas do mar do Norte, caso subam a mais de três metros de sua normalidade, a barreira ajuda a proteger todas as partes do território que se encontram abaixo do nível do mar. Em 22 anos, as barreiras só foram fechadas duas vezes para proteger a costa das inundações/ Arquivo Pessoal
As portas da barreira são enormes pontões flutuantes que podem ser preenchidos com água em caso de tempestades. O peso adicional faz com que elas afundem e se tornem uma enorme barreira. Quando a situação volta ao normal, a água é bombeada para fora dos pontões.
Todo esse processo é automático e controlado por computador. A primeira vez na história da Holanda em que todas as cinco maiores barreiras contra tempestades foram fechadas foi em 2018.
Engenheiros e arquitetos desenvolveram esse projeto pioneiro para permitir que os holandeses convivessem com a água, em vez de combatê-la, assim protegendo a terra ao redor do delta Reno-Mosa-Escalda. Uma das obras mais destacadas desse complexo é a Maeslantkering, uma barreira móvel contra tempestades que protege o porto de Roterdã.
Foram investidos 10 anos de estudos para a concepção do projeto e outros seis anos para sua construção, num investimento de 505 milhões de euros. Desde sua conclusão, em 1996, nunca houve necessidade de usá-lo, embora simulações sejam feitas uma vez por ano.
Os holandeses não se cansam de lembrar da devastadora inundação de 1953, quando um terço do país foi destruído. Tamanho investimento é plenamente justificável: 50% da Holanda fica a menos de um metro do nível do mar e 20%, abaixo. O desastre de 53 foi tema do filme holandês De Storm, de 2009.
ACOMPANHE A SÉRIE DE REPORTAGENS
13/ Segunda-feira – NA MIRA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
14/ Terça – UM PAÍS QUE APRENDEU A CONVIVER COM AS ÁGUAS
15/ Quarta- INUNDAÇÃO DA MARÉ ALTA NOS EUA BATE RECORDES
16/ Quinta- A VEZ DOS NAVIOS ELÉTRICOS: HEINEKE USA CONTÊINERES COM BATERIA PARA DISTRIBUIR CERVEJA SEM EMISSÕES
17/Sexta- O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA REDUZIR OS RISCOS CLIMÁTICOS?