Um mar que não para de dar frutos

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Em breve: o melhor camarão do Brasil a preço baixo. Bastou pendurar uma faixa anunciando a abertura do primeiro restaurante Vivenda do Camarão, na Alameda dos Arapanés, em Moema, em 1984, para que o empresário Fernando Leite Perri atraísse mais de mil pessoas apenas na noite de inauguração. “Marcamos para o dia 12 de junho, imaginando atrair alguns casais de namorados”, afirma Perri, relembrando a história de 29 anos atrás. “Tínhamos apenas 110 lugares, e a fila de espera era tão grande que ninguém conseguia transitar pela rua. Moema parou.”

CAMARÃO GLOBAL Fernando Perri numa câmara frigorífica em Cotia. Ele exportava crustáceos – agora exporta um modelo de restaurante (Foto: Rogério Cassimiro)

Foi preciso uma queda no abastecimento de energia para obrigar o dono a fechar as portas naquele Dia dos Namorados, com movimento muitas vezes acima do calculado. “Pedimos desculpas e não cobramos nada de ninguém”, diz Perri, que antes de abrir o restaurante havia sido operador da Bolsa de Valores e dono de uma empresa de importação. Surpreso, ele acabava de descobrir uma nova oportunidade de negócio. “Percebi que servir pratos de camarão a bom preço tinha futuro. Em apenas 20 dias vendemos um contêiner de camarão que estava estocado num armazém refrigerado da Ceagesp. Nossa ideia era vender aquele estoque em seis meses.” Passados menos de dois anos, uma filial na Rua Groenlândia, no Jardim Paulista, era frequentada por famosos, como Bruna Lombardi, Faustão e Mário Covas, que tinha uma mesa cativa. Três décadas depois, a rede conta com quase 160 unidades, das quais apenas 43 franqueadas, e uma linha de produtos congelados à venda nas lojas do Grupo Pão de Açúcar.

O movimento mais recente de expansão se deu no fim de novembro, com a abertura da primeira loja com a marca Shrimp House nos Estados Unidos. Lá, a Vivenda do Camarão encontrou um sócio que ajudou a montar um plano de negócio considerado pela associação comercial da Flórida como o melhor dos últimos dez anos. Moldado para atrair investidores estrangeiros que pretendam obter cidadania americana, já conta com uma fila de 12 interessados. “Eles podem ser nossos sócios, abrir franquias ou receber o dinheiro de volta após cinco anos, com juros de 0,5% ao ano.”

O governo dos EUA concede Green Card para quem  investe a partir de US$ 500 mil numa empresa no país que crie dez empregos diretos. E é nessa perspectiva que Perri e seu sócio apostam – além, é claro, de acreditar que seu produto surpreenderá o público, acostumado a comer nas praças de alimentação de lá, onde a variedade é pequena e dominada pela culinária asiática, italiana e hambúrgueres. “Fomos procurados pelo grupo Simon, que controla quase 250 shoppings em todo o território dos EUA.” A meta é estar em oito deles até o fim de 2014 e em 25 depois de mais um ano.

Os números da Vivenda (Foto: ÉPOCA SP)

É curioso pensar que todo esse sucesso começou por uma dessas mudanças de regras típicas da inconstante política econômica brasileira. Depois de ter iniciado a carreira no mercado financeiro, nos anos 1970, Fernando Perri era dono de uma empresa de importação de material gráfico.  Para fazer jus a suas cotas de importação, ele precisava também exportar. E o produto que se mostrou mais lucrativo na ocasião foi o camarão criado na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Ele se associou a exportadores da região que já atendiam às normas sanitárias exigidas nos EUA para poder manter suas cotas de importação. Até o dia em que a Câmara de Comércio Exterior (Cacex) também as revogou. Foi assim que ele se viu com um contêiner de 40 pés, abarrotado de camarões congelados, num frigorífico da Ceagesp.

De lá saiu a matéria-prima que sustentou a primeira Vivenda por 20 dias. Dali em diante, o negócio só cresceu. “Os restaurantes brasileiros pagavam caro para ter camarão ruim porque havia uma série de intermediários no meio do caminho. Eu comprava direto de quem vendia para os EUA, então tinha qualidade e preço”, afirma. A partir de agora, seu desafio será vender não a matéria-prima, mas servir o camarão à moda brasileira para os americanos. “Vamos continuar inventando moda lá, como fizemos aqui, onde copiaram tudo o que levamos para os shoppings”, diz, otimista.