Praticagem se recusa a entrar com navio da Guiné no Porto de Santos

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A Praticagem se negou a realizar a manobra de atracação do navio, que chegou de uma região conhecida como marco zero do vírus Ebola, enquanto não fosse realizada uma inspeção a bordo / A Tribuna

 

Com informações de José Claudio Pimentel

O navio Tasman, proveniente da Guiné, na África, deverá ser submetido hoje (31) a uma vistoria sanitária. A inspeção será realizada por um médico particular, contratado pela empresa responsável pelo cargueiro. A embarcação teve nesta segunda-feira (30) a recusa da manobra de atracação no Porto de Santos pela Praticagem de São Paulo por questões de segurança.

A Praticagem se negou a realizar a manobra de atracação do navio, que chegou de uma região conhecida como marco zero do vírus Ebola, enquanto não fosse realizada uma inspeção a bordo. A embarcação, com oito tripulantes e fundeada na Barra de Santos, está no período de quarentena – quando há risco dos marítimos terem contraído alguma doença, mas ainda não apresentarem sintomas.

Apesar de estar ciente da situação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a entrada do cargueiro na última quarta-feira (25), enquanto ele fazia a travessia do Oceano Atlântico. A emissão do documento conhecido como Livre Prática ocorreu à distância, seguindo protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O receio dos práticos, que são representados nessa negativa pelo Sindicato dos Práticos dos Portos de São Paulo, é que ocorra a entrada de doenças no Brasil. No final do último semestre, uma embarcação proveniente da mesma região chegou ao cais, também no período de quarentena, com tripulantes com malária e febre amarela.

A descoberta dos marítimos contaminados ocorreu após a atracação, que também foi liberada pela Anvisa à distância. No caso atual, o Tasman está a seis dias de completar o período (21 dias) considerado mínimo para descoberta de doenças a bordo. Apesar disso, pela Autoridade Portuária, ele estava programado para entrar ontem (30) à noite no Estuário.

“É uma situação atípica. Por mais que o documento (Livre-Prática) seja legítimo, é importante que uma vistoria aconteça”, afirmou o diretor do sindicato, Carlos Alberto de Souza Filho. Ele se refere à chegada de um navio vindo de uma região da África onde a presença do vírus Ebola é considerada endêmica, ou seja, tem presença constante.

O chefe do posto da Anvisa no Porto de Santos, Rogério Gonçalves Lopes, informou que seguiu procedimentos internacionais. “Nós liberamos via rádio, uma vez que foi afastado qualquer risco de doença”, afirmou, ao descartar a possibilidade de embarcar algum agente sanitário no navio, mesmo após o pedido dos práticos.

A situação fez com que a Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP, a Autoridade Marítima) determinasse a realização da manobra pelos práticos, uma vez que o serviço é essencial e não deve ser negado. A ordem foi dada ao longo do dia, antes de uma solução para o caso ser apresentada: a contratação de um médico particular pela agência do navio.

O Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar) intermediou a discussão, que poderá ter um fim hoje. Com a recusa da Anvisa em disponibilizar um agente, a empresa responsável pelo cargueiro Tasman contratou um profissional de saúde, que deverá atestar as condições sanitárias da embarcação.

Se o profissional detectar possíveis sinais de doenças contagiosas, os práticos não vão realizar a manobra de entrada no estuário e de atracação, programada para o Armazém 29, na Margem Direita do Porto (Santos). Se estiver tudo regular a bordo, o procedimento será realizado normalmente, conforme acordado entre as entidades envolvidas na noite de ontem.