Porto de Rio Grande recebe 80% dos grãos de soja colhidos no RS

0
868
IMPRIMIR
A cada safra, cerca de 150 navios deixam o porto de Rio Grande carregados com a soja gaúcha. Uma única embarcação leva, em média, 60 mil toneladas
A cada safra, cerca de 150 navios deixam o porto de Rio Grande carregados com a soja gaúcha. Uma única embarcação leva, em média, 60 mil toneladas

por Maurício Gasparetto /RBSTV

A cidade de de Rio Grande, no Sul do Rio Grande do Sul, muda quando a safra de soja chega ao município, de quase 208 mil habitantes, segundo o IBGE. Isso porque 80% dos grãos colhidos no estado chegam ao porto em caminhões, que descarregam a carga em navios para distribuição no exterior.

O fluxo alcança 6 mil veículos por dia na BR-392. Trabalho para os donos de restaurantes, postos de combustíveis e até para a polícia rodoviária. Desde o início do ano, o assunto é debatido em reuniões do chamado Plano Safra. “Para a gente alinhar algumas ações e para evitar o acúmulo de veículos na estrada e, com isso, evitar acidentes e a grande movimentação de cargas no entorno de Rio Grande”, explica o agente José Dourado.

O desafio não é fácil, devido à grande demanda. A principal mudança começou em 2007, quando a direção do maior terminal de grãos do porto tomou uma decisão: para descarregar, só com hora marcada. O agendamento diminuiu as filas. Por dia, dois mil caminhões passam pelos tombadores. Em oito minutos, o veículo está liberado. Os grãos seguem pelas esteiras até chegarem aos navios.

“O agendamento é fundamental, ele traz as quantidades certas do produto certo no momento do embarque. Com isso, nós conseguimos tirar o melhor resultado da logística”, destaca o diretor do terminal portuário, Guilhermo Dawson Jr.

O principal comprador de soja do Rio Grande do Sul é a China, como já foi mostrado em reportagem anterior da série. Os chineses recebem 85% da safra gaúcha, o que equivale a 3,5 bilhões de dólares, ou 9 milhões de toneladas do produto.

Grande parte da demanda da China é para a produção de farelo que vai alimentar gado e peixe para o abate. só uma pequena parcela é usada para produzir alimentos.

Outros compradores são o Vietnã e a Espanha. O total de soja exportado no ano passado chegou a 10 milhões de toneladas.

Os terminais para exportar os grãos são administrados pela iniciativa privada. A ideia do agendamento foi copiada pelos portos de Santos, em São Paulo, e Paranaguá, no Paraná.

Essa agilidade fez com que produtores do Mato Grosso também exportem por Rio Grande. Mesmo mais distante, o importador prefere pagar o frete de 2 mil km para chegar ao porto de Rio Grande. Isso porque cada dia de navio parado nos portos de Santos ou de Paranaguá representa 50 mil dólares de prejuízo.

A cada safra, cerca de 150 navios deixam o porto de Rio Grande carregados com a soja gaúcha. Uma única embarcação leva, em média, 60 mil toneladas. Se transformadas em dinheiro, são R$ 60 milhões que ficam para os agricultores. Uma fortuna gerada pelo agronegócio e viabilizada pelo porto.

A agricultura nunca foi a principal atividade econômica de Rio Grande. A cidade produz menos de 1% de toda a soja colhida no estado. Quarenta por cento de todas as mercadorias que são movimentadas pelo cais são grãos, óleo ou farelo de soja. Se o porto gera 10 mil empregos diretos na cidade, boa parte deles se mantém por causa do principal produto agrícola gaúcho.

João Serra é uma prova. O filho de agricultores saiu de casa quando jovem para estudar. No terminal do porto que mais exporta soja, conseguiu o primeiro emprego, há 43 anos. O agricultor virou gerente operacional e hoje organiza a fila de caminhões. Graças à safra, conseguiu realizar seu sonho: hoje, é formado em duas faculdades.

“Eu sei o que é um produtor lá do outro lado pra plantar sua lavoura dependendo de clima, dependendo de câmbio, da comercialização. E a gente ter essa estrutura para oferecer para que ele consiga diminuir os custos, é gratificante para gente saber que do outro lado tem outras famílias e a gente aqui contribui”, destaca João.