Por que tantos eventos extremos acontecem de uma vez?

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Chuvas que quebram recordes. Secas fora do comum. Tempestades arrasadoras. Estações extremamente quentes. Ondas de frio inaudito. São eventos que se sucedem recentemente

Um artigo quase obscuro publicado na última edição da revista científica PNAS americana ajuda a explicar como funcionam esses momentos em que o clima parece estar louco. São ondas de eventos extremos. Um fenômeno que deve ficar mais comum num mundo que passa por mudanças climáticas.

Os pesquisadores, liderados por Vladimir Petoukhov, do Instituto Potsdam de Impacto Climático, na Alemanha, estudaram o ciclo que começou em 2010, com onda de calor recorde na Rússia e enchentes destruidoras no Paquistão, depois veio com a seca nos EUA em 2011 e mais seca em 2012 com enchentes na China. Segundo os pesquisadores, a cada vez que um evento desses aconteceu, uma sequência de ondas fortes tomou conta da atmosfera, circundando o mundo nas latitudes médias. “Essas ondas planetárias são parte do fluxo normal de ar na atmosfera”, diz Petoukhov. “Mas em alguma ocasiões elas ficam mais fortes do que o normal, e ajudam a causar os eventos extremos em várias partes do mundo.”

O gráfico abaixo compara dois verões no Hemisfério Norte. A sequência superior, de julho de 1980, foi um verão comum. A inferior, de julho de 2011, foi um verão anormal, com secas que quebraram safras nos EUA, surpreenderam a Europa e com enchentes na China. As cores indicam o quanto os ventos para Norte estavam fora do normal. Quanto mais vermelho, mais os ventos estavam fortes além da média. Quanto mais azul, mais fraco estavam em relação à média.

Segundo Petoukhov, normalmente, o deslocamento de ar nessa latitude da Terra funciona de forma cíclica. As ondas de ar oscilam irregularmente entre os trópicos e o Polo Norte. Quando vão para o norte, essas ondas trazem as massas quentes dos trópicos para a Europa, Rússia e EUA. Quando voltam para o sul, trazem ar frio do Ártico. Isso em situação normal.

“Durante um período de evento extremo, o cíclo se interrompe. Em vez de se alternar, trazendo ar quente e frio, a onda se fixa numa direção só”, afirma Petoukhov. No mapa acima, as ondas de ar estão levando ar quente sem parar dos trópicos para o norte sobre os EUA. Por isso a onda de calor e a seca.

(Alexandre Mansur)

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo