Pesquisa revela o aquecimento global e o derretimento das geleiras

0
2029
IMPRIMIR
Torre instalada em Martin’s Head,na costa sul da ilha de Rei George nas ilhas Shetland do Sul para coleta de dados atmosféricos ( Foto: Laboratório de Estudos do Oceano e da Atmosfera (LOA- Denni Ferreira)

Por DINIZ JÚNIOR / Expedição Bravo Zulu

Um Brasil e meio. Mais precisamente 1,6 vezes o território brasileiro. Esse é o tamanho do continente antártico, com quase 14 milhões de km2. A imensidão desta porção sul do globo é somada a mais 36 milhões de km2 de Oceano Austral, fazendo com que o mundo antártico – toda a área situada abaixo do paralelo 60° Sul – corresponda a 7% do planeta Terra. Cientistas acreditam que nesta vastidão de terras e mares, ainda pouco desvendada, estão as respostas para futuros dilemas da humanidade.

Motivos não faltam: 70% da água doce do planeta estão na Antártica, na forma de gelo, resultando em uma gigante massa de geleiras que influencia o clima em escala global. Entre os países da América Latina, Argentina, Chile e Brasil são responsáveis pelos maiores investimentos em programas antárticos. A Argentina possui 13 estações: seis funcionam por todo ano e sete são bases de veraneio. O Chile mantém sete bases, um refúgio e dois abrigos.

Na segunda reportagem da série sobre a Ciência na Antártida  conheça o trabalho realizado por Marcelo Freitas Santini  meteorologista Pós-doutorando do Laboratório de Estudos do Oceano e da Atmosfera (LOA), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE que participou da 38ª Operação Antártica (Operantar XXXVIII) a bordo do navio Polar da Marinha brasileira Almirante Maximiano da Fonseca. Operantar que foi acompanhada durante 22 dias dia pela equipe da Expedição Bravo Zulu.A série é uma parceria com o Jornal Agora impresso e online e site Portos & Mercados.

 Quais as pesquisas que o INPE está realizando neste ano na Antártida?

 Estamos realizando atividades do projeto ATMOS que foi aprovado no ultimo edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPqque busca entender quais são as conexões entre o clima na Antártida em relação ao clima na América do Sul. O projeto é dividido em observação e modelagem numérica. Sou responsável pela parte da coleta de dados oceanográficos e atmosféricos. Para cumprir essas atividades instalamos neste ano na Antártida uma torre que vai fornecer informações de como a atmosfera e o oceano estão interagindo. Outra atividade que realizamos foi a ancoragem de uma boia para medidas de ondas que tem relações diretas com a cobertura de gelo e suas variações. Já sabemos que o gelo marinho no continente tem conexões com várias regiões do planeta, inclusive com o Brasil, alterando e modelando o clima de acordo com suas concentrações.

Qual a sua avaliação da logística da Marinha para as pesquisas no continente antártico?

O suporte que a Marinha presta para a ciência brasileira é imprescindível para a realização de nossas atividades. O Brasil não tem estrutura privada e institucional para suprir nossas demandas. A Marinha consegue desde 1982 apoiar todas as pesquisas, seja no transporte de equipamentos coletas embarcadas em navios, e em regiões oceânicas. Sem esse apoio seria inviável para nos brasileiros desenvolvermos nossas pesquisas.

A parte leste da calota polar da Antártica se manteve estável nos últimos 8 milhões de anos, apontou estudo de um time de cientistas de universidades dos Estados Unidos e da Nova Zelândia. Dessa forma, o leste da Antártica deve se manter à medida que avança o presente aquecimento global.

O pesquisador não fica apenas nos laboratórios dos navios. Muitas vezes “pega pesado” para viabilizar as pesquisas.

 Exatamente. Em função das redes sociais a gente acaba muitas vezes compartilhando momentos descontraídos, com belas paisagens, mas muitas pessoas não têm noção de quanto é difícil trabalhar na Antártida. Ficamos expostos as baixas temperaturas, muitas vezes transportamos equipamentos e materiais pesados que necessitamos para a execução de nossas atividades. Em função das baixas temperaturas as mãos ficam ressecadas, os lábios rachados e muitas vezes temos que dormir em barracas nos acampamentos atingidos por fortes tempestades. É interessante as pessoas saberem um pouco desse lado difícil que é realizar estudos na região antártica.

Já sabemos que o gelo marinho no continente tem conexões com várias regiões do planeta, inclusive com o Brasil

Pesquisas apontam que nos últimos cinco anos a Antártida no geral está mais perdendo do que ganhando gelo. Como o senhor acompanha esse processo?

Na Antártida Oriental, onde está o polo Sul, há acúmulo de gelo, o que significa uma pequena tendência de resfriamento. Já na Antártida Ocidental, que abrange as ilhas Shetlands do Sul, na península antártica, foi registrado um aquecimento oceânico, e atmosférico nos últimos anos, o que está ocasionando perda de calotas polares e de plataformas de gelo. De 1982 a 2004, na parte oceânica, foi registrado um aumento de mais de 3 graus na península antártica (porção mais próxima da América do Sul).