Ondas e temperatura geram energia a partir dos oceanos

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O gigantesco potencial dos oceanos para geração de energia está movimentando investimentos ao redor do mundo. Mas ainda são poucos os projetos comerciais economicamente viáveis.

Um novo passo nessa direção no Brasil foi o memorando de entendimento para implantação de usina de ondas, fechado no ano passado entre o Complexo de Pecém (CE) e a empresa sueco-israelense Eco Wave Power. A meta da parceria é a implantação no terminal portuário de uma unidade de geração de energia limpa com capacidade instalada de até 9 MW. É a segunda iniciativa do complexo nesse sentido.

Entre 2010 e 2015, protótipo com capacidade de 100 KW em parceria com a Engie recebeu investimentos de R$ 15 milhões com apoio do programa de P&D da Aneel. “O aprendizado foi valioso, com utilização de capital intelectual de pesquisadores providos por universidades brasileiras”, destaca Danilo Serpa, presidente do complexo. Nesse caso, a expertise empregada foi a do Laboratório de Tecnologia Submarina da Coppe UFRJ.

A Eco Wave Power foi fundada em 2011 e de lá para cá implantou projetos-piloto para avaliação da tecnologia, que emprega flutuadores próximos da costa para converter o movimento das ondas em energia. Desde 2014 tem uma planta em operação no porto de Jafa, em Israel, e desde 2019 tem apoio de joint venture com a EDF. Outro piloto, em Gibraltar, previa geração de 5 MW e este ano foi desativado e destinado a reforma para implantação em Los Angeles (EUA). Em abril, a empresa fechou acordo para construção de planta de 2 MW no Porto Adriano, em Majorca (Espanha).

A companhia se apoia em estimativas da Agência Internacional de Energia Renovável com indicação de que o uso de 2% dos 800 mil km de costas no mundo tem potencial de geração de 500 GW de energia elétrica baseado em ondas. O tema é foco de interesse mundial. Portugal é um dos países com maior número de testes até agora. A Escócia abriga a maior turbina de maré do mundo, sedia o Centro Europeu de Energia Marinha (EMEC) desde 2003 para incentivar estudos na área e criou em 2014 a Wave Energy Scotland (WES), com atuação em 18 países até agora.

O gigantesco potencial dos oceanos para geração de energia está movimentando investimentos ao redor do mundo. Mas ainda são poucos os projetos comerciais economicamente viáveis

No Brasil, estudo da Universidade Federal do ABC, de 2020, calcula que a região Nordeste teria potencial de energia oceânica estimado em 22 GW. Outro estudo, realizado pelo Laboratório de Tecnologia Submarina da Coppe UFRJ, em 2019, indica que o país tem potencial na área estimado em 91,8 GW, considerando 7.491 km da costa. A conversão de um quinto desse potencial seria suficiente para abastecer 35% da demanda de eletricidade do país.

O laboratório da Coppe tem traquejo de mais de 30 anos na geração de energia oceânica baseada em petróleo. Mas agora intensifica pesquisas sobre o potencial renovável, incluindo desde o movimento de ondas e marés até o aproveitamento da diferença de temperatura entre a superfície e o fundo do mar – de quebra, todas essas modalidades podem ser empregadas também em dessalinização da água.

Segundo o professor de estruturas oceânicas Segen Estefen, a primeira experiência no Brasil nesse sentido foi a implantação, com a Eletronorte, de usina maré motriz baseada em uma espécie de represa no Maranhão, nos idos dos anos 1970.

O projeto nunca foi motorizado e quando foi reavaliado, no início do século, a ocupação urbana havia reduzido a capacidade do reservatório.

Outro estudo foi feito em cooperação com o departamento de energia americano para avaliar o aproveitamento da variação de temperatura, com testes em laboratório de uso de plataformas similares às de petróleo.

Mais um projeto baseado em ondas teve financiamento de Furnas em primeira fase de laboratório. A meta é implantar dispositivo apoiado no fundo do mar perto da Ilha Rasa (RJ) e, depois de interrupção pela pandemia, deve ser retomado com apoio da Faperj no ano que vem. Hoje os projetos contam com apoio de técnicas digitais para maior competitividade e miram sistemas híbridos, como parques eólicos offshore somando vento, ondas e até capacidade de dessalinização da água e produção de hidrogênio verde, alvo de parceria recente com empresa internacional de grande porte, segundo o professor.
Fonte: Valor