Instalação de aerogeradores traz renda extra

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Conheça a história de pessoas que aumentaram a renda com o aluguel das terras para a construção dos parques eólicos da Renova Energia

 

CAETITÉ E GUANAMBI (BA)- Desde que os parques eólicos começaram a ser erguidos na região de Caetité, Guanambi e Igaporã, no sudoeste da Bahia, Leôncio Borges Carvalho, de 58 anos, virou o “partidão” do bairro Santana. Dono de 466 hectares de terra, ele arrendou parte da propriedade para a instalação de 11 aerogeradores da Renova Energia. O contrato vai lhe render mensalmente R$ 4,6 mil durante os próximos 20 anos. Se tudo der certo, a renda será ampliada com a assinatura de um novo contrato para seis torres. “Sempre gostei do vento, que por essas bandas é forte. Agora gosto mais ainda.”

Como ele, outros 301 proprietários aumentaram a renda com o aluguel das terras para a construção dos parques eólicos da Renova Energia. Foram desembolsados até o momento R$ 3,54 milhões a título de arrendamento no complexo eólico Alto Sertão I. Outros 144 moradores já firmaram contrato com a empresa para a construção dos 15 novos parques. O dinheiro vai direto para as mãos dos sertanejos, que vivem momento de bonança, apesar da pior seca dos últimos 30 anos.

A renda tem destino variado. Leôncio usou o primeiro pagamento para quitar uma dívida bancária feita no passado para construir silos, caixa d’água e outras melhorias. Depois decidiu reformar a casa, erguida há mais 50 anos. Pintou as paredes e trocou o piso. Não tem geladeira nem televisão em casa. Depois de um dia pesado na roça, ele gosta mesmo é de ficar sentado na sala – que só tem uma mesa e algumas cadeiras – descansando. O próximo sonho de Leôncio é comprar um imóvel na cidade. “De preferência, em Guanambi, que é mais agitada”, diz ele, que é solteiro e mora sozinho.

Deixar a vida dura da roça também faz parte dos planos de Osvaldino Fernandes de Souza, de 69 anos. “Nasci e cresci aqui. Mas, para as crianças, a cidade é melhor”, diz ele, que vive no bairro Capão, ao lado da mulher Edilça da Silva Souza, de 34 anos, e três filhos. A família tem dois aerogeradores em suas terras. Cada um rende quase R$ 500. Parte do dinheiro vai para a poupança. O resto é usado para comprar alguns presentinhos para as crianças.

Como Leôncio, o sertanejo não tem o sonho de equipar a casa com modernidades da cidade. Na cozinha não há geladeira. Na sala, só algumas cadeiras e um monte de sacos com ração para o gado – a grande paixão de Souza. No quintal de terra batida, muitos porcos, galinhas e palma para alimentar o gado. “Televisão pra quê? Acho muito ruim quando vou na casa de alguém e fica todo mundo virado para a TV e não presta atenção na gente. O povo não conversa”, reclama ele.

 Sudoeste baiano tem boom de obras

O sudoeste da Bahia está em ebulição. Além dos parques eólicos que movimentaram – e continuarão movimentando nos próximos meses – o dia a dia do sertanejo, a construção da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e a exploração de minério também prometem trazer progresso para a região. A estrada de ferro já foi iniciada, mas alguns trechos foram paralisados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por suspeitas de irregularidades.

O licenciamento ambiental também não tem sido fácil por causa de cavernas existentes no meio do traçado. Mas o governo não vai desistir do projeto. “Para a cidade, a ferrovia é essencial. Ela vai tirar os caminhões que hoje passam por dentro da cidade”, afirma o secretário de Meio Ambiente de Caetité, João Antônio Portella Lopes.

A cidade também é sede do Projeto Pedra de Ferro da Bahia Mineração, empresa que foi comprada por um grupo de investidores do Casaquistão. A previsão é que a mina, com capacidade para produzir aproximadamente 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, inicie suas operações em 2014. No momento, afirma Lopes, a empresa está fazendo testes para verificar a qualidade do minério e saber se há aceitação no mercado internacional.

O único negócio que não é bem recebido na região é a exploração de urânio, que já foi motivo de uma série de protestos e confusões em Caetité. Em 2008, foi detectada uma contaminação da água da cidade. Desde então, a população vive com medo de que algo mais grave possa ocorrer.

De qualquer forma, os novos investimentos trouxeram alento para o sertanejo. Até aqueles que desistiram de esperar o progresso da região estão mudando de ideia. É o caso do filho de Manoel Cirico Cotrim. Ele conta que, depois de 18 anos em São Paulo, o filho estará de volta no próximo mês. Nesse tempo fora, conseguiu guardar dinheiro e construir uma casa e uma padaria, que será inaugurada em breve em Morrinhos, distrito de Guanambi. Será a primeira padaria da comunidade, que tem apenas 3 mil habitantes.

O filho de Joaquim José, de 60 anos, também deverá fazer o mesmo caminho. Nesse caso, ele ainda não tem emprego definido. “Mas vai procurar na Renova, como os dois outros irmãos que já estão trabalhando lá”, diz o ex-cortador de cana. “Essa região é boa demais. Não tem água, mas venta bastante.”