Impacto de evento climático nos portos acende alerta

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O setor de portos é altamente vulnerável aos riscos climáticos, pois está exposto a uma variedade de ameaças, incluindo tempestades, inundações e erosão costeira. Além disso, o aumento do nível do mar pode afetar a profundidade dos canais de acesso aos portos, bem como a segurança das instalações portuárias

O crescente impacto de eventos climáticos extremos nos portos brasileiros já acendeu um alerta no setor e tem gerado mobilização na Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) e entre alguns terminais. As medidas de mitigação, porém, ainda são escassas e iniciais.

Entre os principais riscos à infraestrutura estão: chuvas, vendavais e o aumento do nível do mar – situações que já prejudicam a operação em diversas áreas, mas que tendem a se agravar nos próximos anos.

Segundo estudo da Antaq, mesmo no cenário mais otimista de mudanças climáticas analisado, ao menos cinco portos terão risco “muito alto” de ameaças causadas pelo aumento do nível do mar em 2030: Aratu (BA), Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), Santos (SP) e São Francisco do Sul (SC). O levantamento, de 2022, analisou 21 portos públicos.

Em relação a vendavais, o porto do Recife (PE) também pode atingir o maior grau de risco em 2030. No cenário mais pessimista, até 2050, outros entram na lista: Salvador (BA), Santos, e Imbituba (SC).

No caso de tempestades, o estudo não prevê pioras tão significativas, porém, hoje as chuvas já representam risco elevado para ao menos três portos, Rio Grande, Aratu e Cabedelo (PB).

A perspectiva é de piora, mas os efeitos já são um problema concreto no presente. Segundo a Antaq, a paralisação em portos devido a “chuva” ou “condição climática desfavorável”, subiu de 6.608 horas, em 2018, para 13.843 horas, em 2022, nos sete portos públicos que reportaram os dados nos últimos anos – o preenchimento por ora é facultativo.

“Os estudos ainda não permitem atestar que as paralisações são fruto de mudanças climáticas, porém, há fortes indícios”, avalia José Moreira Neto, gerente de Regulação da Navegação da Antaq, que coordenou o levantamento. “Há uma percepção de que as mudanças estão em curso e impactam também os portos.”

No mapeamento da agência junto a 21 portos públicos, foi constatado que, dos 27 eventos mais graves já registrados, 25 ocorreram na última década e 17 deles se deram entre 2019 e 2020.

“A produção científica dos últimos dez anos endossa que o aquecimento global já está acontecendo”, afirma Guarany Osório, coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGVces). Ele destaca o relatório mais recente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), que mostra que a temperatura média mundial já subiu 1,1ºC em relação aos níveis pré-industriais. “Temos uma janela de oportunidade curta, até 2030, para reduzir as emissões e não ultrapassar o aumento de 1,5°C, para evitar um ponto de não retorno”, afirma.

Na avaliação de Eduardo Nery, diretor-geral da Antaq, hoje a situação dos portos não é “catastrófica”, mas demanda planejamento para evitar que as operações se tornem inviáveis. “Nossos portos não estavam se preparando para mitigar os impactos climáticos, o objetivo do estudo foi chamar a atenção para esse fato. A ideia é encorajar que todos façam seu dever de casa”, disse. Na semana passada, a agência lançou um guia para que os terminais façam levantamentos sobre seus riscos.

Alguns Terminais de Uso Privado (TUPs) também têm feito estudos nesse sentido. O Porto Sudeste, em Itaguaí (RJ), concluiu recentemente um mapeamento que identificou riscos de vendavais, secas, tempestades e do aumento do nível do mar.

No Porto de Santos, a avaliação, a partir dos estudos da Antaq, é que hoje o risco estrutural é baixo, considerando a infraestrutura atual, mas que “as paralisações de operações e interrupções de canal serão mais frequentes” no futuro, segundo a Autoridade Portuária de Santos (APS).

“O porto vem promovendo meios para trazer as mudanças climáticas para o cerne de discussões em nível estratégico”, diz a administração. Entre as medidas em curso, está a implantação do Vessel Traffic Management Information System (VTMIS), que permitirá um melhor monitoramento das condições climáticas.

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