Especial: demissões continuam na indústria naval

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19/04/2006
Os dados do crescente desemprego fazem parte do documento Cenário da Construção Naval, elaborado pelo Sinaval

 

Os postos de trabalho na indústria naval continuam em queda, principalmente na região Sudeste, informa o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Desde janeiro foram perdidos 12.810 empregos, dos quais cerca de 11 mil no Sudeste. As regiões Norte e Nordeste registram perda cerca de mil empregos. Já na região Sul, os empregos apresentam relativa estabilidade.

Em meio a incertezas quanto ao destino da Sete Brasil e do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro, um contraponto é a expansão da navegação de cabotagem no país. Para o Sinaval, fretes competitivos e modernização portuária explicam a evolução do modal. Mas o crescimento não se traduz em novas encomendas de navios aos estaleiros nacionais.

Abaixo, o documento do Sinaval

Prioridades do FMM
O Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante, em reunião realizada em 25/9/2015, com resultados publicados no Diário Oficial da União em 5/10/2015, concedeu prioridades de financiamentos e suplementações no valor de R$3,8 bilhões. Os valores apontam os segmentos em que existe demanda: construção de comboios para transporte fluvial; construção de navios de apoio marítimo; construção de rebocadores portuários; construção de dois estaleiros para reparos: no Rio de Janeiro, para reparos de navios de apoio marítimo; no Amazonas, para reparos de embarcações de transporte fluvial.

Incertezas no Promef
O dinamismo nestes segmentos contrasta com as dificuldades que ocorrem no programa de construção de navios petroleiros para a Transpetro, com a paralização de atividades no Estaleiro Eisa-PetroUm (RJ), e incertezas em relação aos contratos de construção de petroleiros no Estaleiro Atlântico Sul, onde quatro navios Suezmax estão em construção, confirmados pela Transpetro.

Plataformas de produção
No segmento de construção de plataformas de produção de petróleo existem incertezas quanto ao cumprimento dos contratos de construção cascos de FPSOs. no Estaleiro Rio Grande (ERG-RS). Dos oito cascos previstos cinco serão construídos no Brasil. O ERG entregou o casco do P-66 e o casco do P-67 (2/3 construído na China), segue viagem para integração de módulos no país asiático.

No Estaleiro Inhauma (RJ), onde o Enseada Indústria Naval realiza a conversão dois cascos de petroleiros em cascos de FPSOs. O casco do FPSO P-74, há quase um ano no dique seco, aguarda previsão de entrega. O casco para ser convertido no FPSO P-76, chegou ao estaleiro em março de 2015, aguarda sua vez. Outros dois cascos estão prevista para conversão em estaleiro da Ásia.

Demanda futura de plataformas
A Petrobras anunciou novo corte de investimentos em 15/10/2015, uma redução de US$ 11 bilhões até o ano que vem, em toda companhia. Durante a Marintech-Navhalshore, realizado no Rio de Janeiro, em agosto de 2015, o representante da Petrobras informou que novas plataformas de produção de petróleo serão afretadas em licitação internacional. A demanda é estimada em cerca de 30 novas plataformas até 2030. Número que mostra o Brasil como mercado relevante, no panorama mundial.

A Pré-Sal Petroleo S/A (PPSA) informa que o desenvolvimento do campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, está dentro do cronograma. O FPSO para Libra, contrato conquistado Teekay-Odebrecht, para testes de longa duração, tem primeiro óleo previsto para 2017. Está em construção no Jurong, em Cingapura, e recebe a visita de inspeção dos representantes do consórcio que tem a Petrobras como operadora e como sócios a Shell (Reino Unido), Total (França), CNPC e CNOOC (China).

Novas plataformas para o campo de Libra e Sépia já tem licitação internacional correndo, com entregas de propostas prevista para fevereiro de 2016, adiamento solicitado pelos participantes da licitação, visando operação em 2019.

Com 10 plataformas previstas para Libra a PPSA informa planejamento de conteúdo local, com sistema de monitoramento para saber qual o índice que pode ser atingido ao final de cada etapa. A Petrobras, através da gerencia de conteúdo local do gabinete da presidência realiza mais um mapeamento da capacidade de fornecimento local para atender a demanda.

Transporte marítimo na costa brasileira
O transporte marítimo na costa brasileira prossegue em expansão, resultado da maior competitividade dos preços de fretes dos navios em relação aos caminhões, reflexo da modernização da atividade portuária. Neste segmento inexiste plano de negócios de estaleiros para construção de navios porta-contêineres. A Aliança Navegação e Logística confirma o bom momento e informa que a empresa vai operar também no segmento de apoio portuário, informa a encomenda de três rebocadores ao Estaleiro Detroit (SC). O diretor da empresa, Julian Thomas, diz que durante cinco anos tentou construir navios no Brasil e não conseguiu interessar os estaleiros, lotados com encomendas do segmento offshore. Agora, com a redução dos investimentos da Petrobras, vai retomar o projeto de construir navios porta-contêineres em estaleiros locais.

FMM – Investimentos apontam a demanda

A resolução do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM) publicada no Diário Oficial da União de 5/10/2015, apresenta, através das prioridades de financiamento a investimentos, os segmentos em que a demanda pala construção naval existe:

Carteira de encomenda dos estaleiros

A carteira de encomendas dos estaleiros apresenta um total de 250 projetos em construção.

Navios petroleiros e gaseiros

A carteira de encomendas de navios para a Transpetro foi redimensionada para 12 contratos, considerando a paralização do Estaleiro Eisa-PetroUm e quatro contratos de construção de petroleiros Suezmax, reconhecidos como obras em andamento pela Transpetro, no Estaleiro Atlântico Sul. A construção de sete navios gaseiros no estaleiro Vard Promar prossegue.

Promef – Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro
12 navios entregues:
Navios de produtos construídos no EISA PETRO-UM (RJ) (Mauá)
Novembro de 2011 – Celso Furtado – Navio de produtos
Julho de 2012 – Sérgio Buarque de Holanda – Navio de produtos
Janeiro de 2013 – Rômulo Almeida – Navio de produtos
Janeiro de 2014 – José Alencar – Navio de produtos
Junho de 2015 – Anita Garibaldi – petroleiro Panamax
Navios de produtos construídos no EAS – Estaleiro Atlântico Sul (PE)
Maio de 2012 – João Cândido – Navio petroleiro Suezmax
Maio de 2013 – Zumbi dos Palmares – Navio petroleiro Suezmax
Abril de 2014 – Dragão do Mar – Navio petroleiro Suezmax
Dezembro de 2014 – Henrique Dias – Navio petroleiro Suezmax
Maio de 2015 – André Rebouças – Navio petroleiro Suezmax
Setembro de 2015 – Marcílio Dias – Navio petroleiro Suezmax
Navio gaseiro construído no Vard Promar (PE)
Julho de 2015 – Oscar Niemeyer – navio gaseiro para transporte de gás liquefeito?
Navios de apoio marítimo

A carteira de construção de navios de apoio soma 28 contratos. Ocorreram entregas realizadas pelos estaleiros Eisa, Oceana e Wilson, Sons. Em função do novo plano de negócios da Petrobras os operadores de frotas de navios de apoio são chamados para renegociar contratos já licitados. Novas contratações são adiadas para reduzir a frota de apoio offshore em cerca de 90 navios. Navios de apoio de bandeira internacional não teem seus contratos renovados e navios de bandeira brasileira não estão sendo contratados pela Petrobras, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), informando dificuldades em obter posição da Petrobras.

Plataformas de produção de petróleo

Estão em construção cinco cascos de plataformas de produção de petróleo tipo FPSO e 9 contratos de integração de módulos de produção aos cascos. A Petrobras anunciou encomendas de cerca de 30 novas plataformas até 2030, as licitações internacionais serão para afretamento das unidades.

Sondas de perfuração

A imprensa informa que as exigências da Petrobras para confirmar o contrato para as sondas da Sete Brasil anunciam o fim da empresa. Uma solução esperada durante 2015 não se confirmou. Uma decisão favorável em 2016 é uma hipótese cada dia mais distante. A hipótese de um pedido de recuperação judicial da Sete Brasil é especulado pela imprensa, para permitir a condução do contencioso jurídico da Sete Brasil com a Petrobras e dos cinco estaleiros contratados com os acionistas da Sete Brasil.

O novo formato do fornecimento sondas considera fornecimento de 15 sondas pela Sete Brasil e quatro sondas pela Kawasaki Heavy Industries.

Cenário Mundial

Navios petroleiros
Apesar da queda geral nas encomendas de novos navios, nos estaleiros mundiais, os contratos para construção de navios petroleiros continuam. Este ano de 2015 mais 207 petroleiros foram encomendados a estaleiros, no total de 16,6 milhões de toneladas brutas, segundo informações da Clarksons, divulgadas em Londres, dia 22/10/2015.

A Grécia lidera a lista de países em volume de encomendas de petroleiros, contratando a construção de 51 navios, no total de 4,4 milhões de toneladas brutas (GT), 25% do total das encomendas aos estaleiros mundiais, incluindo 11 petroleiros de grande porte (VLCC) e 18 Suezmaxes.

A China é o segundo país em volume de encomendas de petroleiros com 30 navios com construção contratada, no total de 2,3 milhões toneladas brutas. A empresa estatal China Ocean Shipping Company (Cosco) representa metade do total da tonelagem contratada.

O Japão é o terceiro país em volume de encomendas de petroleiros com 27 navios, no total de 1,9 milhões de toneladas bruta. Empresas de transporte marítimo da Arábia Saudita voltaram ao mercado este ano encomendando 10 petroleiros de grande porte (VLCC), para renovação da sua frota. Empresas de transporte marítimo da Noruega contrataram este ano 15 navios petroleiros.

Concentração
Cinco países controlam 70% dos navios petroleiros. Segundo a Clarksons, os números demonstram o aumento da concentração da frota de petroleiros e uma queda no total de empresas operadoras que caiu de 119, no período 2010 a 2014, para os atuais 74 operadores, em 2015.

O relatório anual Review of Maritime Transport 2015, produzido pela Unctad (United Nations Conference on Trade and Development), divulgado em 15/10/2015, apresenta a situação do transporte marítimo mundial em 2014. Em 2014 a frota mundial de navios mercantes apresentou uma expansão mais lenta de toda a década, o aumento da tonelagem de porte bruto ofertada pelos navios foi de 3,5%. No início de 2015 o total de navios mercantes em operação somava 89.464, com um total de capacidade de carga de 1,7 bilhão de toneladas de porte bruto.

O relatório aponta o processo de concentração das empresas de transporte marítimo, cujos exemplos são as fusões da Compañía Sudamericana de Vapores com a Hapag-Lloyd, e da Compañía Chilena de Navegación Interoceánica com a Hamburg Süd. A estatística demonstra que o volume de transporte de contêineres por empresa e países triplicou, mas o número de empresas em operação reduziu 29%. Essa tendência mostra que os navios ficam maiores e busca de economia de escala reduz o número de empresas operando em cada mercado.

A realidade da concentração do transporte marítimo em menos empresas coloca para os formuladores de políticas o desafio de apoiar os avanços tecnológicos que implicam em redução de custos ao mesmo tempo assegurar que exista um ambiente competitivo que assegure o repasse aos clientes, importadores e exportadores, da redução de custos produzida pelo aumento da escala de operações.

No início de 2015 as 10 maiores operadoras de transporte marítimo dominam 61% do total do transporte de contêineres. As 20 maiores operadoras dominam 83% do total do transporte marítimo neste segmento. O tamanho médio dos novos navios porta-contêineres em construção tem em média capacidade para 10 mil contêineres. Poucas empresas, fora da lista das 20 maiores, estão contratando novos navios e mesmo assim são menores que a média.

Apesar da nova capacidade de carga acrescentada, com a construção de novos navios, apresentar expansão menor ainda é superior que a expansão da economia global e ligeiramente superior ao crescimento do transporte marítimo mundial de 3,4%. Uma explicação é o ciclo longo da construção naval, que ainda mantém em construção encomendas realizadas, em alguns casos, em 2008. O relatório aponta que em 2014 a entrega de menos navios e a redução do sucateamento de navios antigos resulta numa frota mundial mais velha.

Plataformas de produção de petróleo
O Congresso FPSO Europa 2016 (www.fpsoeuropecongress.com), promovido pela FPSO Network, já está anunciado para 24 e 25 de fevereiro de 2017. O Congresso FPSO Ásia 2015, apresentou a visão dos executivos sobre o cenário mundial atual na construção de FPSOs:
Regiões de demanda
África = 29%
Ásia – Pacífico = 27%
Américas = 18%
Outros = 11%

Operadores mundiais de FPSOs
Informações produzida pela Wood Group apresentam a estatal da China CNOOC e a brasileira Petrobras como operadoras líderes mundiais, entre as petroleiras, por tamanho da frota de plataformas tipo FPSO, com 13 cada uma.

As gestoras de ativos offshore BW, SBM (sozinha e com parceiros) e a Modec lideram a lista das proprietárias das maiores frotas de FPSOs alugados.