Efeitos meteorológicos sobre nível do mar acendem alerta de regiões portuárias brasileiras

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Nos próximos anos as inundação e secas de recintos portuários associados às marés meteorológicas serão mais sentidos na zona costeira com inúmeros efeitos.

O 14º Seminário Nacional sobre Indústria Marítima e Meio Ambiente (Ecobrasil 2018), que acontece nos dias 24 e 25 de abril, no Rio de Janeiro, vai abordar os efeitos potenciais das mudanças climáticas sobre as zonas costeiras. Eventos meteorológicos percebidos nos últimos 15 anos, inclusive no oceano Atlântico Sul, acenderam o alerta sobre os riscos de elevação e de rebaixamento do nível médio do mar associados a eventos meteorológicos extremos. O professor Cláudio Neves, da Coppe/UFRJ, alerta que nos próximos anos as inundação e secas de recintos portuários associados às marés meteorológicas serão mais sentidos na zona costeira com inúmeros efeitos. Em terra, os riscos são de acidentes com danos às instalações e até interrupção da operação portuária.

No Mar do Norte, no Golfo do México e na costa leste norte-americana existem históricos de elevação de dois metros no nível do Mar. No Brasil já houve casos recentes de elevações de um metro que causaram transtornos em cidades como Rio Grande (RS), São Francisco do Sul (SC) e Santos (SP). Em 2017, houve inundação no Rio Grande do Sul, que se propagou até São Paulo como reflexo de uma ressaca. Em março de 2004, o furacão “Catarina” atingiu a costa da região Sul do Brasil e, desde então, a presença de eventos meteorológicos extremos no Atlântico Sul se tornou mais comum. As marés meteorológicas consistem na sobre-elevação do nível do mar devido à presença de ventos fortes na zona costeira, empilhando a água junto à costa.

O professor explica que as sobre-elevações podem tanto causar inundações quanto rebaixamentos no nível do mar. Ele cita um episódio em que o mar secou na Flórida (EUA) após um furacão e outro em Montevidéu (Uruguai), que secou as marinas. “Assim como o vento pode empilhar a água junto à costa, o vento pode retirar a água da costa”, descreve Neves, que será palestrante no painel “Mudanças climáticas e seus impactos nas zonas costeiras brasileiras” do Ecobrasil 2018. Em termos de zonas costeiras, o país não está preparado para drenagem adequada da chuva. O professor também observa que os sistemas meteorológicos brasileiros melhoraram, porém ainda estão aquém do ideal, na medida em que ainda estão focados na ocorrência de eventos. Neves ressaltou que as previsões de longo prazo devem ser baseadas na compilação de dados colhidos por décadas.

O professor observa nas regiões costeiras despreparo dos municípios e governos estaduais. Para ele, a administração pública não está preparada para indicar variações ao longo do tempo. Ele lembra que, mesmo com toda precaução e sistemas de proteção japoneses, a região em que a usina nuclear de Fukushima está instalada foi atingida por um tsnumai em 2011. Neves aponta necessidade de se pensar também no que o meio ambiente pode causar aos empreendimentos. Ele identifica que o foco dos órgãos ambientais no Brasil é saber os danos sobre ambiente, mas ninguém questiona o que o ambiente pode exigir ao empreendimento e qual o resultado de eventos extremos.

Neves diz que, já em 2012, falava sobre as possíveis consequências do degelo no verão das calotas polares no Oceano Ártico e do risco de abertura na passagem norte do planeta. Ele destaca que, em 2018, a conjectura de seis anos antes já é realidade a navegação passando pelo Oceano Ártico, tanto para rota Japão-Estados Unidos contornando o Canadá, quanto para rota Holanda-Japão contornando a costa russa. “Abriu-se uma nova passagem por um mar que antes era permanentemente coberto gelo”, observa.

Ele alerta que o aumento do tráfego nessas rotas nos próximos anos pode trazer uma série de mudanças, desde emissões e produção de ondas até mistura, poluição e aquecimento de águas que era alimentador de toda uma circulação planetária. Neves avalia que a possível interrupção da circulação planetária oceânica de grande escala, onde as águas frias na região da Groenlândia afundavam e alimentavam águas profundas dos oceanos, pode trazer consequências sérias para todo planeta. “As mudanças atribuídas ao clima em geral foram mais rápidas do que se imaginava”, comentou.

Por Danilo Oliveira / Portos e Navios