“Dragão do Mar” é homenageado pela Mangueira

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O Prático abolicionista Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, foi um dos homenageados pela Mangueira no desfile dessa madrugada na Marquês de Sapucaí.
Com o enredo “História pra ninar gente grande”, a verde e rosa ganhou o Estandarte de Ouro de melhor escola ao levar para a avenida os heróis esquecidos nos livros de História.
Francisco José do Nascimento teve papel decisivo na abolição da escravidão no Ceará muito antes de a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea. Por coincidência, a Mangueira desfilou no dia em que o aniversário de sua morte completou 105 anos.

“Não veio do céu / Nem das mãos de Isabel / A liberdade é um dragão no mar de Aracati”, diz o trecho do samba que se refere ao Prático. Em dezembro do ano passado, ele foi finalmente reconhecido, ao entrar para o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Em 1881, Francisco José do Nascimento foi muito além da defesa do interesse público que caracteriza a Praticagem, provando todo o seu espírito cívico. Em janeiro, aos 42 anos, Chico da Matilde (nome da mãe) liderou o movimento que fechou o Porto de Fortaleza (CE) ao tráfico de escravos, conhecido como a Greve dos Jangadeiros.

Em agosto, em mais uma tentativa de venda de escravos para o Sudeste, Práticos sob sua liderança, a bordo de jangadas, impediram novamente um embarque, obrigando fazendeiros que não tinham como sustentá-los a libertá-los. Chico da Matilde chegou, inclusive, a oferecer abrigo em sua casa.

“Não há força bruta neste mundo que faça reabrir o Porto ao tráfico negreiro”, declarou à época.

A partir do episódio, não houve mais tráfico no Porto e o abolicionismo na região foi acelerado, culminando com a extinção da escravidão na Província em 1884, muito antes da assinatura da Lei Áurea no Brasil. Foi este pioneirismo que levou José do Patrocínio a batizar o Ceará de Terra da Luz.

Naquele ano, Chico da Matilde levou a jangada Liberdade, símbolo da resistência, no barco negreiro Espírito Santo, até o Rio de Janeiro, Capital do Império, onde foi ovacionado. Pela bravura, acabou ganhando outra alcunha, de Dragão do Mar, do escritor Aluísio de Azevedo.

Pelo seu envolvimento na luta, o Prático perdeu a licença para exercer a atividade, devolvida somente em 1889 pelo Imperador Dom Pedro II. Um ano depois, recebeu a patente de Major-Ajudante de Ordem do Secretário-Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará.

Nascido em Canoa Quebrada, filho de pescador e rendeira, Francisco José do Nascimento morreu em 1914, próximo de completar 75 anos. No centenário de sua morte, em 2014, foi homenageado no país inteiro. Hoje, ele é nome de rua, centro cultural, estabelecimentos, navio e escola. Em 2017, finalmente foi reconhecido como Herói da Pátria pela Lei 13.468, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República.

Assista ao documentário sobre ele na página do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.