Dois municípios da Serra confirmam morte de milhões de abelhas por uso indevido de inseticidas

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Um dos produtores da região, Adair Zardo, comentou que precisará de cinco anos para recuperar as colmeias perdidasIvan Wetzel / Divulgação

O uso irregular de inseticidas em parreirais de uva na Serra gaúcha atingiu, pelo menos, 250 colmeias em Cotiporã e Veranópolis, matando milhões de abelhas. Os dados foram fornecidos pela Inspetoria Veterinária de Veranópolis e compreendem o período entre agosto e novembro deste ano. Há relatos de situações semelhantes em outros nove municípios da Serra.

A partir das amostras, os apicultores registraram boletins de ocorrência. No momento, as polícias Civis de Cotiporã e Veranópolis investigam o caso, mas ressaltam a complexidade da identificar a origem do problema, que pode ser enquadrado como crime ambiental. Além destas cidades, a polícia de Flores da Cunha também investiga. Antônio Prado, Ipê, Monte Belo do Sul, Nova Prata, Nova Roma do Sul, São Valentim do Sul,  Serafina Corrêa e Vila Flores também aguardam confirmação da relação das mortes de abelhas com o fipronil.

—  A identificação dos autores é bem complicada, pois há uma grande quantidade de produtores no município e a problemática ocorre em um período curto de tempo. De qualquer forma, estamos apurando —  disse o delegado de Flores da Cunha, Rodrigo Duarte.

“Estavam todas mortas. Foi horrível”

Segundo a Emater, a morte das abelhas pode provocar danos para a produção de árvores frutíferas. Isso porque um número reduzido de abelhas resulta em uma menor polinização, o que prejudica o desenvolvimento das plantas. Apesar de ainda não haver um levantamento de prejuízos econômicos, esse é um reflexo negativo que os apicultores também irão enfrentar.

Exemplo disso é o produtor de mel e própolis para exportação Adair Zardo, de Cotiporã, que perdeu cerca de 170 colmeias por conta do inseticida. Ele desabafou sobre o choque ao perceber que havia perdido suas abelhas.

— Quando cheguei no apiário estavam todas mortas. Foi horrível. Nossa, eu nem recolhi nada. Só me sentei no meio do apiário e chorei, de verdade, foi pancada! Deixei tudo lá, voltei para casa e resolvi nem trabalhar mais naquela semana.  Já tive que mudar, ter outro planos de outra coisa para fazer, pegar outro serviço. Muitos guris que mandam mel para mim, para exportação, já estavam falando em colocar os filhos na aula de violão, mas isso não vai mais acontecer  —  desabafou Zardo.

Para resolver os prejuízos causados, é necessário que as abelhas fortaleçam outras colmeias. No caso de Zardo, ele estima que levará em torno de cinco anos para recuperar as 170 colmeias perdidas.

— Vamos ter que fazer uma super limpeza nas caixas, porque ficam resíduos nessas colmeias que morrem, e se uma abelha entrar e se contaminar, outro enxame também vai acabar morrendo —  disse.

Segundo o delegado Duarte, os produtores que aplicaram o inseticida de maneira incorreta podem ser enquadrados no Artigo 54 da Lei dos Crimes Ambientais, o que resultaria, em tese, de um a quatro anos de reclusão. Entretanto, caso o produto utilizado seja proibido no Brasil, o caso pode ser entendido como crime de contrabando, de acordo com o artigo 334-A do Código Penal — em casos assim, a pena é dois a cinco anos de reclusão.

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Fonte: Jornal Pioneiro / Grupo RBS