Como o aquecimento global pode desencadear guerras no mundo

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Campo de refugiados sírios fica alagado no Líbano, em foto de janeiro de 2013 (Foto: Hussein Malla/AP)

Combater o aquecimento global é  importante não só para evitar extinções e eventos climáticos extremos, mas também para prevenir guerras. Um estudo publicado o ano passado na revista Science mostra que mesmo mudanças leves na temperatura ou no padrão de chuvas podem desencadear guerras, violência urbana e confrontos étnicos.

O estudo, liderado por Solomon Hsiang, da Universidade da Califórnia, é uma meta-análise. Os pesquisadores fizeram um levantamento de todas as publicações científicas que relacionam violência e clima nos últimos anos. No total, eles analisaram 60 estudos com dados tão diferentes quanto guerras civis na África, conflitos rurais no Brasil e aumento da violência urbana nos Estados Unidos e Índia.

Ao usar uma métrica comum para todos os dados, os pesquisadores descobriram evidências da relação entre uma mudança de temperatura com o aumento de conflitos. Por exemplo, o aumento de 0,4ºC na temperatura anual de um país africano aumenta a possibilidade de um conflito regional em 14%. Um aquecimento de 3ºC por um mês em um condado dos Estados Unidos aumenta a possibilidade de surtos de violência urbana em 4%. Pode parecer pouco mas, se as previsões mais pessimistas de mudanças climáticas se concretizarem, o número de conflitos pode aumentar 50% no mundo até 2050.

A pesquisa publicada nesta quinta é mais uma de um boom de estudos que exploram a hipótese de que mudanças ambientais interferem no destino de sociedades. Essa tese ganhou corpo com o pesquisador Jared Diamond. Em seu livro Colapso – Como as sociedades escolhem o sucesso ou o fracasso, Diamond argumenta que desmatamento e mudanças climáticas regionais foram fatores cruciais na queda de grandes civilizações do passado, como os antigos maias e os povos da Ilha de Páscoa.

A ideia vem sendo estudada em conflitos modernos. No Egito, por exemplo, a revolta que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak pode ter sido estimulada pela inflação no preço dos alimentos, causada principalmente por problemas climáticos e quebra de safras em países asiáticos. Na Síria, pesquisadores associam a severa estiagem no país, que destruiu a colheita de centenas de milhares de agricultores, ao levante popular que resultou numa guerra civil – e que, ao menos até o momento, já matou mais de 100 mil pessoas.

Apesar dos resultados, os cientistas são cautelosos, e explicam que não estão argumentando que o clima é o único ou o principal fator na questão da violência. Afinal, outras causas estão presentes nos principais conflitos do mundo, como a ação de um regime repressor, crises econômicas agudas e disputas étnicas ou religiosas.