Cobertura de gelo na Antártida cai a níveis jamais vistos e intriga a ciência

0
76
IMPRIMIR

Gelo no mar na região antártica está em níveis baixos recordes desde o começo das medições por satélites em 1979

A cobertura de gelo marinho na Antártida nunca esteve em níveis tão baixos e os números intrigam os cientistas. O que está acontecendo? Os efeitos do aquecimento do planeta se acentuam no continente gelado? Há o risco de uma repetição do Ártico que aquece três vezes mais que a média mundial?

Os cientistas ainda não têm todas as respostas, mas apenas os números. E o que eles mostram causam o temor de que as mudanças climáticas possam, enfim, estar atingindo o extremo Sul do planeta com força que ainda não tinha sido documentada.

A Antártida tem ciclo anual de gelo marinho. Um período de pico e outro de baixa, segundo as estações do ano. O gelo do mar cresce durante o inverno antártico, que vai de junho a agosto, e então recua derretendo e se quebrando no verão, que vai de dezembro a fevereiro.

A extensão do gelo no mar normalmente atinge pico de cerca de 19 milhões de quilômetros quadrados entre setembro e outubro no máximo anual, e depois diminui para cerca de 3 milhões entre os meses de fevereiro e março no mínimo anual. Esse processo se repete todos os anos.

Agora, neste começo de junho, primeiro mês do inverno no Hemisfério Sul, o gelo no mar segue a sua tendência normal de aumentar, mas o que existe de diferente neste ano e intriga a ciência é a sua extensão atual que está muito abaixo do normal: quase dois milhões de quilômetros quadrados abaixo da média para esta época do ano.

“Parece que será um inverno com menos gelo marinho, e se for assim, isso significa um recuo precoce e então uma chance mais provável de outro verão com menos gelo no mar outra vez”, disse Ryan Fogt, cientista do clima antártico da Universidade de Ohio, em entrevista ao Wired. “Tem sido esse tipo de padrão nos últimos anos”, afirma.

Sinal de uma nova era na Antártida?

Na última década, a tendência de gelo marinho era oposta entre o Norte e o Sul do planeta. Se no Norte, no Ártico, a curva de tendência mostrava uma diminuição média acentuada do gelo no mar, no Sul, na Antártida, ao contrário, a curva de tendência era de aumento do gelo sobre o mar. Em meados da década passada, a cobertura de gelo marinho bateu até recordes desde o começo das medições por satélite em 1979.

Agora, os dois polos do planeta seguem a mesma tendência com diminuição do gelo marinho. Isso significa que a Antártida entrou em uma nova fase climática? Os cientistas ainda possuem uma resposta para esta pergunta. Ted Maksym, cientista do clima e oceanógrafo polar da Woods Hole Oceanographic Institution, afirma que “alguns de nós estão especulando que isso pode ser verdade, onde a variabilidade no gelo marinho da Antártida mudou e podemos ver essas extensões baixas de gelo marinho por algum tempo. Estaremos assistindo com a respiração suspensa para ver se vamos continuar tendo esses recordes mínimos ou se realmente vai voltar ao normal”.

O Ártico experimenta uma redução há muito tempo da sua cobertura de gelo no mar por um fenômeno que os cientistas denominaram de amplificação do Ártico. o derretimento do gelo expõe a água do oceano ou a terra mais escura, que absorve mais energia do sol do que o gelo branco, o que, por sua vez, leva a mais aquecimento.

Na Antártida, o cenário é diferente. O continente polar é quase todo congelado e cercado por oceano aberto, enquanto o Ártico é um oceano de gelo flutuante cercado por terra, como a Rússia, o Alasca e o Norte do Canadá. O gelo da Antártida é isolado, de certa forma, por fortes e frias correntes oceânicas que giram ao redor do continente. Além disso, a Antártida possui muitas áreas altas que garantem maior resfriamento.

Gelo marinho não é gelo continental

É fundamental separar gelo do mar de gelo em terra. O gelo marinho da Antártida, que se forma quando a água do mar congela, é diferente das camadas de gelo e plataformas do continente. Uma camada de gelo repousa sobre a terra e pode ter milhares de metros de espessura. Torna-se uma plataforma de gelo quando começa a flutuar nas águas costeiras.

Embora as camadas de gelo e as plataformas da Antártida tenham se deteriorado com o aquecimento do planeta, o gelo marinho do continente é muito mais sazonal, aumentando e diminuindo dramaticamente entre o inverno e o verão e influenciado não apenas por temperatura, mas também por correntes de vento que sopram com muita força na região.

Perder gelo marinho não aumentará o nível do mar, mas o gelo marinho desempenha papel crítico na proteção do gelo continental e sobre terra firme da Antártida. Uma das áreas que os cientistas mais prestam atenção é a geleira Thwaites, também conhecida como Geleira do Fim do Mundo (foto).

Fonte: METSUL