Capitão holandês lidera operação antipirataria da UE

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Por John Tyler

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“Eles transformaram nosso equipamento em cinzas. Este era um de nossos principais centros de abastecimento.” Quem diz isso é o autodenominado comandante pirata Bile Hussein, falando com um repórter da Associated Press sobre o bombardeio feito há duas semanas pela União Europeia na costa da Somália.

“O combustível alimentava as chamas da destruição. Nada foi salvo.” Lanchas, depósitos de combustível e armas foram destruídos durante o ataque. Nenhuma vítima foi reportada.

Primeira vez
Esta foi a primeira vez que forças da UE fizeram uso de sua recente expansão de mandato para atacar bases de abastecimento de piratas na costa africana. E a operação ocorreu precisamente como planejada. O capitão Ad van Linde, diretor do novo Centro de Operações Antipirataria da EU disse à Radio Nederland que é assim que o novo mandato da EU deve funcionar. Ele acredita que buscar alvos ao longo da costa poderá fazer uma grande diferença na luta contra a pirataria.

“Só podemos ir atrás dos piratas depois que eles partem em seus barcos e entram a enorme extensão do oceano”, diz o capitão Van der Linde. “Nossa política é mantê-los o mais próximo possível da costa, então queremos privá-los de seus suprimentos antes que eles possam usá-los.”

Forças da UE e da Otan vêm querendo bombardear alvos na costa somali há algum tempo, e em março deste ano Bruxelas concordou com o desejo dos militares e permitiu estes ataques.

Não só ação militar
Mas os líderes da UE sabem que para resolver o problema da pirataria será preciso mais do que ação militar. Por isso Bruxelas está expandindo a chamada ‘Abordagem Abrangente’ para a Somália. O oficial naval holandês Ad van der Linde está liderando o Centro de Operações e será sua tarefa coordenar os vários aspectos da política da UE em relação à Somália. As duas operações militares em andamento serão acompanhadas por uma missão civil de treinamento.

Os esforços militares para combater a pirataria nas águas próximas à Somália têm mostrado algum sucesso depois de 4 anos. Isso não é surpresa, uma vez que UE, Otan, EUA, China, Rússia, Índia e Malásia estão gastando em conjunto quase 2 bilhões de euros para lutar contra alguns homens de lancha.

Estabilizar a Somália
A costa da Somália tem 3 mil quilômetros e cerca de 16 mil navios passam por aquelas águas todos os anos. Mas mesmo um militar de carreira como Van der Linde admite que não há solução militar.

“Não se vai solucionar este problema com a marinha. É preciso estabilizar a Somália, ter certeza de que há um governo, de que eles têm meios suficientes, de que têm uma força policial, uma guarda costeira, um sistema judicial, prisões. Esta é a única maneira de realmente acabar com a pirataria.”

Van der Linde está convencido de que a UE está bem posicionada para ajudar a estabilizar a Somália, pelo fato de ser uma organização única: “Tem tantas capacidades diferentes: politica, econômica, militar. A União Europeia pode realizar coisas em todos este níveis. É por isso que a UE é exatamente a organização que pode solucionar este tipo de problema.”

Tarefa difícil
Mas encontrar uma solução definitiva para o problema continua sendo uma tarefa difícil. O Governo Federal Transitório da Somália não é amplamente aceito. E embora a pirataria tenha diminuído (houve 43 ataques nos primeiros 3 meses de 2012, comparados com 97 no mesmo período do ano passado), os piratas também se tornaram mais profissionais e mais violentos. No final de março, estimava-se que piratas somalis ainda mantinham 15 navios, 253 tripulantes e mais outras 49 pessoas reféns em terra.

Longo prazo
A atuação de piratas como Bile Hussein pode ter ficado mais difícil com o novo mandato da UE para atacar alvos na costa. Mas até que a Somália seja novamente um Estado em funcionamento, a pirataria continuará a ser uma opção lucrativa.Van der Linde fará tudo o que puder para ajudar os somalis a reconstruir sua nação, mas ele adverte que isso não acontecerá tão cedo. Levará anos.

“Mas temos que fazer isso. Temos que pegar o problema pela raiz. De outra forma teremos que proteger nossos navios e nossas fontes de energia até o fim dos tempos. A única solução para o problema é realmente estabilizar a Somália.”