Shell versus defesa ambiental

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Por Hélène Michaud

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A imprensa está cheia de notícias sobre roubo de petróleo na Nigéria, ambientalistas lançam novas campanhas acusando a Shell – isso só pode significar uma coisa: está na hora da reunião anual de acionistas da multinacional do petróleo.

Organizações holandesas de defesa do meio ambiente e a Royal Dutch Shell estão acostumadas a disputar a atenção do público, mas esta competição se acirra todos os anos em maio, às vésperas da reunião anual de acionistas da Shell, que tem início hoje em Haia.

A força dos roubos de petróleo
A atual ofensiva começou com novos relatórios sobre novos casos de roubo de petróleo na Nigéria. No dia 4 de maio, a Shell declarou “motivos de força maior” (significando que não conseguiria cumprir suas obrigações de produção) por causa do que chamaram de “incessante” roubo de petróleo de um grande oleoduto no Delta do Níger.

A gigante anglo-holandesa, recentemente criticada pelo Programa Ambiental das Nações Unidas e pela Anistia Internacional por não reparar e limpar grandes vazamentos de petróleo, relatou que estava “trabalhando duro para consertar o oleoduto e retomar a produção o mais rápido possível”.

O necessário fechamento para reparos, segundo a companhia, custaria 60 mil barris de petróleo por dia de produção. Esta informação foi divulgada pela imprensa internacional, também na Nigéria e na Holanda. A Shell também conseguiu considerável atenção da mídia holandesa com a notícia sobre a recente ‘Eco-maratona da Shell’, na qual estudantes de todo o mundo foram convidados a construir veículos energeticamente eficientes.

Vivendo com o pior
Ao mesmo tempo, a organização ambiental Friends of the Earth da Holanda lançou uma nova campanha anti-Shell – ‘Worse than Bad’ – , com o slogan: ‘Viver com a Shell é ruim e está ficando pior a cada dia. Conte ao mundo.’

O clímax desta campanha pré-reunião de acionistas veio há uma semana, com o lançamento de um aplicativo sarcástico para iPhone, o ‘Live with it’. Um vídeo apresentado por um ator representando um alto executivo da Shell convida o público a usar o aplicativo para denunciar vazamentos de petróleo em troca de pontos. É uma paródia do aplicativo official da Shell para iPad, ‘Inside Energy’.

O vídeo ‘Live with it’ já foi assistido mais de 20 mil vezes, a maioria por internautas dos EUA, Holanda, Grã-Bretanha e Alemanha. Um porta-voz da Friends of the Earth diz que a ação gerou muita discussão. Já um porta-voz da Shell disse à Radio Nederland que a companhia não tem nenhuma reação oficial ao vídeo ou a seu impacto.

Culpa da sabotagem
Como em reuniões anuais recentes, é provável que a Shell diga a seus acionistas em Haia e Londres (via vídeo link) que a maioria dos vazamentos de petróleo na Nigéria é causada por roubo e pelo que definem como ‘sabotagem de terceiros’. Altos executivos provavelmente irão repetir argumentos apresentados numa declaração oficial do dia 14 de maio: que sabotagem e roubo são responsáveis por 73% do volume total de vazamentos de petróleo das operações da Shell entre 2007 e 2011.

Estes números têm sido constantemente questionados pela Friends of the Earth da Holanda, que provavelmente o fará novamente neste ritual anual dos acionistas. Do lado de fora do local da reunião, membros da organização estarão a postos para receber os acionistas com ‘drinks’ contendo poluentes encontrados nas águas do Delta do Níger.

A novela continua
As reuniões anuais da Shell seguem uma rotina familiar. Funcionários da companhia relatam sobre as atividades e sobre a performance do ano anterior, ativistas usam este período para protestar por esforços mais efetivos para limpar a poluição causada por vazamentos e parar com queima de gás no Delta do Níger.

Executivos da Shell respondem da maneira mais educada possível, e depois voltam aos negócios como sempre – até que o próximo impasse aconteça no tribunal. A Friends of the Earth da Holanda abriu uma ação legal contra a Shell por causar vazamentos de petróleo que teriam poluído as terras de quatro fazendeiros nigerianos. O julgamento deverá acontecer em Haia em 11 de outubro.