Brasil precisa investir R$ 600 bilhões para driblar gargalos

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Diagnóstico foi apresentado pelo diretor da Empresa de Planejamento e Logística em fórum promovido pela Câmara Brasil-Alemanha


 

O déficit da área de transportes no País já soma R$ 600 bilhões. Este seria o montante necessário para suprir os gargalos imediatos do setor, conforme estudo desenvolvido pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL) em parceria com o Movimento Brasil Competitivo (MBC). Na opinião do diretor da estatal, Hederverton Santos, mesmo que metade do investimento já esteja sendo aplicada em programas como o PAC, ainda faltam iniciativas que resolvam a carência do eixo que a EPL chama de estruturante. “É necessário investir em complementação de linhas da malha ferroviária e na remodelação de quase a totalidade (20 mil quilômetros) da malha rodoviária brasileira”, sinalizou o executivo durante o Fórum de Infraestrutura e Logística, promovido pela Câmara Brasil-Alemanha no dia 18 de setembro em Porto Alegre (RS).

A EPL tem avaliado a viabilidade de “novas ondas de investimentos” em estudo e deve apresentar o resultado ao Ministério dos Transportes em breve. Santos afirma que o Brasil perde em competitividade para outros países ao investir pouco em infraestrutura. “A análise do que precisa ser feito partiu dos polos onde estão as 10 principais cadeias produtivas do Brasil e como se dá o deslocamento da produção e ligação entre elas”, resume o diretor da EPL.

 

Competitividade em jogo

Entre 2012 e 2013, o Brasil caiu da 48ª para 56ª posição no ranking do relatório de Competitividade do Fórum Econômico Mundial de Davos. “As principais causas para o resultado foram a falta de infraestrutura básica, ambiente hostil aos negócios com alto índice de burocracia e a piora das expectativas em relação à economia nacional”,afirmou o presidente da FIERGS, Heitor José Müller. Müller ressaltou que, enquanto a frota nacional de veículos cresceu 107% entre 2002 e 2012, a infraestrutura viária se expandiu apenas 5% no mesmo período. “Apesar deste número, em vez de debater as estradas, ainda discutimos sobre os pedágios”, observou, questionando como ser competitivo quando um trabalhador perde até três horas por dia com deslocamento devido à falta de estrutura.

O industrial também destacou o manifesto emitido recentemente pelo Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIERGS, em parceria com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), pedindo a urgente reindustrialização das exportações do País. A elaboração do documento foi motivada pela redução da participação de produtos industriais nas vendas externas, que passou de 59% em 2000, para 37% em 2012. O evento foi coordenado pelo diretor da Revista Conexão Marítima Jayme Ramis.

 

Pedágios em debate

Na opinião do presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti, não existem projetos que avancem de um governo para outro. Segundo ele, quando muda o governo, muda tudo e isso é um fator complicador. Bertinetti disse que é favorável que o usuário pague a manutenção das estradas, mas é necessário ter isonomia. “Temos sete pedágios para chegar a Rio Grande e nenhum até o porto de Imbituba (SC), e com um enorme esforço comercial conseguimos manter quase 100% da carga gaúcha saindo pelo porto do Rio Grande. O governo tem que tomar decisões mais fortes. Os números mostram que estamos atrasados”, concluiu Bertinetti.

Para o vice-presidente da Câmara Brasil-Alemanha de Porto Alegre, Renê Wlach, o exportador tem que ser mais arrojado. “O dono da carga reclama muito, mas não faz a sua parte. A indústria deve apostar em novos modais”, enfatizou o executivo.

O coordenador do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da FIERGS, Ricardo Portella Nunes disse que o Rio Grande do Sul perdeu espaço porque o setor público gaúcho não tem capacidade de investimento. “Toda vez que se cria uma despesa o governo vai atrás da receita. Um Estado que não investe perde a qualidade em todos os setores.

 

HEDERVERTON SANTOS /  DIRETOR DA EMPRESA DE PLANEJAMENTO E LOGÍSTICA (EPL)

O Brasil tem 30 mil quilômetros concedidos para a ferrovia, mas apenas 10 mil são utilizados. O modal ferroviário, exceto com o minério de ferro, opera com uma defasagem tecnologia, com equipamentos envelhecidos, e com baixo padrão de produtividade.

 

 

PAULO BERTINETTI / PRESIDENTE DO TECON RIO GRANDE

Apostamos muito na cabotagem. É impossível ficar suportando, por exemplo ,sair três mil caminhões da Serra gaúcha com móveis para o Maranhão. Estamos trabalhando muito forte neste segmento.

 

JAYME RAMIS, DIRETOR DA REVISTA CONEXÃO MARÍTIMA

O mercado necessita saber o que o governo gaúcho está fazendo para promover nossos produtos, nosso parque industrial, os parceiros estratégicos. E o porto de Rio Grande é a porta de saída e de entrada da produção gaúcha. É necessário integrar os modais.

 

RENÊ WLACH /GERENTE REGIONAL DA ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA

O que precisamos de fato, é que a Fiergs seja mais atuante. Eu vejo a Fiergs atuando nas crises, quando tem greve no porto, quando o sindicato fecha estradas. É necessário reunir os grandes setores de cargas e convidá-los a entrar com algum volume dessas cargas para a hidrovia, e ferrovia, para conseguirmos baixar o custo, para trazer mais cargas para o porto.

 

 

RICARDO PORTELLA NUNES / COORDENADOR DO CONSELHO DE INFRAESTRUTURA DA FIERGS

A Fiergs é uma federação que representa as indústrias, mas elas buscam resultados. De nada adianta dizer “leva a carga para Rio Grande”. Não funciona dessa maneira. O objetivo da Fiergs é destravar esse tema.

 

CLAUDIO GUENTHER/ PRESIDENTE DA STIHL NO BRASIL

O governo precisa saber de nossas necessidades. Existe uma classe política que elegemos. É necessário cobrar mais dos governantes.

 

JOSÉ LUIS DEMETERCO / PRESIDENTE DA BRADO LOGÍSTICA

Sou um otimista. Se analisarmos há alguns anos, não tínhamos um BNDES disponibilizando recursos para a infraestrutura e logística.Existem empresas privadas operando em diferentes modais, e o embarcador, o cliente precisa fazer a sua parte, buscar alternativas.O grande desafio é mostrar para o embarcador que podemos fazer de uma forma diferente, mais competitiva.

 

EVERSON OPPERMANN/ PRESIDENTE DA CÂMARA BRASIL-ALEMANHA

Estamos demonstrando nesse encontro a capacidade de mobilização da sociedade civil. Se tudo quer achamos que esteja errado, nos como cidadãos podemos mudar. Tudo passa por uma atitude política. É necessário continuar nos organizando.