Antártica: Criosfera é tema de reportagem especial

0
1011
IMPRIMIR
Toda a infraestrutura do Criosfera 1 foi desenvolvida, integrada e testada no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que também é responsável por receber os dados por satélite enviados pelo módulo científico. As informações servem para analisar efeitos de gases poluentes gerados na América do Sul e em outras partes do mundo sobre o continente gelado.

Vou tentar antecipar algumas informações que serão apresentadas no programa Fantástico da TV Globo neste domingo. Trata-se de um projeto magnifico, grandioso, coordenado por um pesquisador gaúcho, o glaciologista Jefferson Cardia Simões da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Criosfera 1 estava desativado fazia dois anos por falta de recursos. Em dezembro (2019), Cardia montou um grupo para reiniciar os serviços. A retomada da missão trouxe uma preocupante revelação: houve um aumento da concentração de CO2 nos últimos anos, em 410 partes por milhão, próximo da média global de 415 por milhão‚ um espanto, ponto de atenção, tendo em vista a distância do continente dos grandes centros urbanos, poluidores. Há uma hipótese. Segundo Cardia qualquer modificação no planeta afeta a Antártica, ao indicar as mudanças climáticas como motivo por trás da incômoda descoberta, atalho para outras trilhas de observações em torno do aquecimento global. Desde 2002, o grupo EcoPelagos, da Universidade Federal do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, estuda o ecossistema autóctone.

Nesses dezoito anos, percebeu-se a diminuição da disponibilidade da microalga que serve de alimento para o krill, invertebrado que é semelhante ao camarão e está na base alimentar dos animais marinhos. E mais consequências são notadas: o recuo das geleiras e o aumento da temperatura, numa elevação de 3 graus em cinquenta anos.

O derretimento, detectado pelos cientistas brasileiros e por grupos de outros países (há 29 com acesso autorizado à Antártica), representa evidente ameaça global: se todo o gelo antártico derretesse, o aumento do nível do mar seria de 60 metros, o que causaria a destruição de cidades litorâneas.

O gaúcho  Jefferson Cardia Simões foi o primeiro brasileiro a chegar ao polo por via terrestre numa expedição científica. Em 2002 Embarcou numa aventura de dois meses e US$ 3 milhões ao lado de 12 chilenos, que bancaram 95% dos custos da missão – o Brasil entrou com 5% da verba, cedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Petrobras. A expedição percorreu cerca de 2.300 quilômetros. Foi da estação chilena Parodi, já no interior da Antártica, a 80° de latitude sul, até o polo e voltou ao ponto de partida. No caminho, Jefferson retirou testemunhos (cilindros) de gelo e amostras de neve.

Estive na Antártica em novembro de 2019 a bordo do navio polar Maximiano da Fonseca para mostrar a importância da pesquisa dos brasileiros naquele continente. A equipe do Criosfera 1 chegou no continente em dezembro, quando estávamos retornando para o Brasil. Infelizmente não foi possível conhecer de perto o trabalho coordenado pelo glaciologista gaúcho.

A reportagem do Fantástico neste domingo vai mostrar uma aventura que durou 15 dias. A repórter Mayara Teixeira, junto de uma equipe de cientistas, enfrentou o frio de -30°C numa expedição na Criosfera 1, módulo brasileiro de pesquisa, isolado no interior da Antártica. Por tudo isso recomendo assistir essa reportagem especial. Muito interessante e com certeza vai nos ajudar a entender porque o Brasil tem que manter suas pesquisas no continente antártico.

“Criosfera” é o termo usado para se referir coletivamente a todo o gelo e a neve existentes na superfície terrestre. Seus principais componentes são a cobertura de neve, o gelo de água doce em lagos e rios, o gelo marinho, as geleiras de montanha (ou de altitude), os mantos de gelo e o gelo no subsolo (permafrost). Atualmente cobre cerca de 10% da superfície terrestre.