Alunos desenvolvem sistema de monitoramento de gases

0
630
IMPRIMIR
Projeto prevê que a população seja orientada em casos de vazamento de produtos prejudiciais à saúde
    Projeto prevê que a população seja orientada em casos de vazamento de produtos prejudiciais à saúde

No meio da noite, moradores de um bairro próximo ao Porto de Santos acordam com um cheiro estranho. Sem saber o que realmente está acontecendo, ficam preocupados com a possibilidade daquilo ser algum acidente que comprometa sua saúde. E, em plena madrugada, ninguém sabe a quem recorrer para ter informações corretas e orientações sobre o que deve fazer.

Foi pensando nesta situação, que não é rara na região, que alunos do último semestre do curso de Técnico em Portos do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) Antonio Souza Noschese, na Vila Mathias, em Santos, criaram um projeto para ajudar as empresas, população e as autoridades nos momentos de crise.

Trata-se do Alertar, um sistema de monitoramento de gases perigosos que possibilita a rápida a integração entre empresas e autoridades no momento de um vazamento, além da informação segura, quase que em tempo real, para a população.

O projeto é composto por sensores, software de gerenciamento e aplicativo para celulares e tablets. Os equipamentos captam a presença do gás e enviam os dados para o servidor, que analisa se a quantidade está dentro do limite de tolerância.

Caso algum risco seja detectado, a empresa responsável pelo produto é acionada, assim como a Defesa Civil, que encaminha a solicitação do envio de alerta ao sistema de gerenciamento. Assim, as pessoas que têm o aplicativo recebem a informação sobre qual produto está vazando e a orientação correta de qual medida de segurança deve ser adotada em caso de acidente, uma vez que cada composto químico tem um procedimento específico.

“Inicialmente, foi pensado em enviar a mensagem diretamente do servidor para a população, mas como especialistas nos alertaram de que a situação poderia gerar pânico, colocamos a Defesa Civil para intermediar essa comunicação pela expertise do órgão”, explica a professora Samanta Roveri, que orienta o grupo de alunos.

A ideia é que não sejam apenas avisados os moradores do bairro que possa ser atingido pelo acidente. “Todos receberiam o alerta, uma vez que pessoas podem passar pelo local de carro e inalar o produto também”, diz Samanta.

O software também permite que o morador cadastrado encaminhe uma mensagem de até 200 caracteres para Defesa Civil, caso sinta-se inseguro ao sentir um odor diferente em alguma região da cidade.

Para atender toda a área do Porto de Santos, o estudo dos alunos do Senai aponta que a cobertura ideal ocorreria com a integração de sete sensores.

Início

Os primeiros passos para a formatação do projeto aconteceram no ano passado, quando a aluna (hoje já formada) Mariana Dominguez Alves, também analista de sistemas, desenvolveu o aplicativo para celulares. Além dos alunos, sob orientação de Samanta, o grupo também teve apoio do professor de Tecnologia da Informação, Leo Billi.

Neste ano, os alunos participaram da Hackaton Mais, uma maratona de hackers para promover o desenvolvimento de projetos que visam a transparência de informações públicas por meio de tecnologias digitais, e ficaram quarto lugar na competição pela criação do Alertar.

“Dá muito orgulho saber que vamos deixar um trabalho para ajudar as pessoas nestes momentos de crise”, diz o estudante Denis William dos Santos, de 18 anos.

Projeto surgiu após susto em Guarujá

A experiência pessoal de dois dos integrantes do grupo foi determinante para o desenvolvimento do projeto Alertar. Bianca Nascimento Bernardo, de 17 anos, e Matheus Maia dos Santos, de 18 anos, conviveram com o cheiro e a fumaça de um vazamento na Localfrio, empresa que fica na Margem Esquerda do Porto de Santos, em Guarujá, em janeiro do ano passado.

“Foi um fato muito ruim para quem mora no Guarujá. A gente não sabia o que estava acontecendo e as redes sociais traziam várias informações. Postagens traziam até orientações de que as pessoas deveriam fazer para evitar problemas com o gás, o que depois se descobriu que, em alguns casos isso só potencializava o efeito do produto”, conta o estudante.

Bianca também lembra com angústia dos dias que se seguiram ao vazamento. “A névoa do gás ainda ficou por uns dias na região em que moro e, mesmo passado algum tempo, a gente não sabia o que era de fato e o que deveríamos fazer”.

O problema começou após o vazamento de dicloroisocianúrico durante incêndio de contêineres e o combate às chamas durou cerca de 50 horas.

A empresa foi multada pela Cetesb, depois que a fumaça tóxica desencadeada pelas chamas provocou mal estar em pelo menos 250 moradores das cidades de Guarujá, Santos e Cubatão. O vazamento químico ainda pode ainda ter sido responsável pela morte de três idosas, que moravam próximo à empresa, em Vicente de Carvalho.

Fonte: A Tribuna de Santos / EGLE CISTERNA