Água potável no mundo: cada gota conta

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Companhias holandesas estão envolvidas com o abastecimento de água em todo o mundo.

 

 

Por Belinda van Steijn

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Inacreditável, mas é verdade: a metade da – escassa – água potável em países em desenvolvimento é desperdiçada. Isso acontece por rachaduras nos dutos, conexões ilegais e vandalismo. As muitas contas não pagas não ajudam a fortalecer a infraestrutura. Companhias holandesas estão envolvidas com o abastecimento de água em todo o mundo.

 

Os holandeses apoiam empresas locais em grande escala para conectar mais pessoas às redes de água, diminuir perdas e vazamentos, e fortalecer estas organizações.

 

As companhias de saneamento não veem isso como ajuda ao desenvolvimento, mas como uma cooperação com empresas locais, que devem elas mesmas procurar os holandeses para um parecer ou colaboração.

 

Atualmente, companhias de saneamento holandesas estão trabalhando ativamente em dezenas de projetos, pagos com dinheiro holandês e subsídios europeus, ou por meio de ‘crowdfunding’ (com dinheiro doado por empresas e cidadãos holandeses). Os projetos descritos a seguir são um bom exemplo dos problemas que as empresas holandesas encontram em outros países.

 

Moçambique
A companhia holandesa Vitens Evidens International tem projetos em nove países, entre eles Moçambique. Mais especificamente nas cidades de Angoshe e Nampula. “Damos consultoria para uma nova estrutura organizacional e treinamento. Ensinamos como reparar um duto, mas também como criar um sistema para recolher faturas”, conta Marco Schouten, da Vitens Evidens.

 

Os moçambicanos têm que conectar centenas de milhares de pessoas à rede de água encanada. “Há regiões da cidade onde casas ou hospitais têm uma conexão própria à rede, mas também regiões mais pobres onde as pessoas usam uma torneira pública numa praça, onde podem pagar para pegar água”, explica Marco Schouten.

 

“No começo percebemos que 50% da água vazava. Isso agora foi reduzido para pouco mais de 20%. Os vazamentos são em parte causados por conexões ilegais. Portanto, eles têm que constantemente procurar estas conexões. Além disso, as torneiras públicas têm que ser extra-fortes, porque estão suscetíveis a vandalismo.”

 

Egito
No Egito, a empresa holandesa Waternet está em atividade no delta de Beheira, Alexandria e Damieta. O foco é na melhoria da água potável e do esgoto nas cidades. “A qualidade da água é ruim porque muito lixo vai parar na água de superfície. Nós lhes perguntamos como funciona seu tratamento de resíduos e damos sugestões de como melhorar”, diz Otto Ferf Jentink, líder de projetos da Waternet Mundial.

 

Desde a revolução no Egito as atividades da Waternet estão mais lentas. “Mantemos os contatos, mas por enquanto não há muito progresso sendo feito.” Ferf Jentink espera que depois das eleições haja novamente atenção para a qualidade da água.

 

Suriname
A Waternet também trabalha há 15 anos com empresas surinamesas em todo o ciclo da água. De acordo com Ferf Jentink, o Suriname usa uma quantidade maior de água subterrânea do que a que é reabastecida pela natureza. “A água subterrânea fica salina, vem muita água salgada junto. Eles têm que mudar para a utilização de água de superfície, com a purificação da mesma.”

 

Desde que Desi Bouterse reassumiu o poder no Suriname, a Holanda cortou as ligações e não se pode mais iniciar novos projetos. Projetos humanitários podem ser concluídos. Mas, segundo Ferf Jentink, por parte das organizações surinamesas há necessidade de continuar com a cooperação.

 

Nicarágua
Companhias de saneamento holandesas receberam em 2005 um pedido de ajuda da Nicarágua. O município de Matagalpa tinha que parar de usar água do rio durante a colheita do café porque os fazendeiros estavam poluindo a água.

 

Louis Bijlmakers, da empresa Waterschap De Dommel, conta: “Nós ajudamos grandes fazendeiros de café a desenvolver uma instalação de purificação. A água que eles despejam agora na superfície é menos suja. Com isso a qualidade da água potável também melhora. Da água suja agora também é produzido gás e assim eles produzem sua própria energia.”

 

A companhia holandesa agora vai ajudar a tomar medidas contra a inundação de dois rios em Matagalpa e melhorar o sistema de esgoto. Depois de chuvas fortes, as ruas ainda ficam frequentemente alagadas porque o esgoto não dá conta.

 

Pouca atenção para a manutenção
Da experiência de todas as companhias, fica claro que em países em desenvolvimento há pouca atenção para a manutenção e administração do sistema de saneamento. Como comenta Marco Schouten, da Vitens Evidens: “Isso não é tão ‘sexy’ como um novo plano de investimentos, mas a longo prazo pode-se dar passos muito maiores. Temos que enfatizar isso o tempo todo. Eles têm que saber onde está a infraestrutura, quando você pode substituir uma parte ou não e por que há tantos vazamentos. Os estoques e peças de reposição também devem estar em ordem.”

 

Segundo Otto Ferf Jentink, da Waternet, o valor agregado pelos holandeses está justamente no estímulo à manutenção a longo prazo. “Nós somos fortes na parte organizacional, em comparação com outros países que também têm muito conhecimento de sistemas de saneamento d’água.”