Quem quer imigrar para Marte?

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Por Marco Hochgemuth

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É ficção científica, delírio ou vai realmente acontecer? A empresa holandesa Mars One quer ser, em 2023, a primeira a enviar passageiros para Marte. Com uma viagem só de ida, financiada por um reality show internacional. E já há interesse mais que suficiente por este exclusivo pacote de viagem com pensão completa.

É um plano incrível do jovem empreendedor Bas Lansdorp: em 2023, quatro pessoas irão aterrissar em Marte e iniciar uma colônia onde passarão o resto de suas vidas. Em seguida, a cada dois anos, mais quatro pessoas chegarão ao planeta. O foguete que fará o trajeto está sendo construído no momento pela organização espacial norte-americana SpaceX. Para produzir todo o equipamento necessário (unidades de residência, veículos, roupas especiais) foi feito contato com empresas aeroespaciais.

Preparativos

Uma viagem tão longa precisa de muitos preparativos. O que deverá acontecer antes que os astronautas possam fazer suas malas?

2013: Seleção de astronautas. Depois, anos de treinamento.

2016: Um satélite de comunicação será lançado e uma primeira missão de abastecimento (com 2500 quilos de alimentos não perecíveis) será enviada a Marte.

2018: Um veículo robótico de exploração será enviado a Marte para buscar o melhor local para a criação da colônia.

2021: Mais equipamentos serão enviados a Marte, entre eles unidades de residência, além de um segundo estoque de suprimentos.

2022: No dia 14 de setembro, os quatro astronautas selecionados partem para Marte.

2023: Sete meses mais tarde, os primeiros humanos aterrissam em Marte, constroem a colônia e podem passar o resto de suas vidas no Planeta Vermelho.

O custo do projeto: 5 bilhões de euros. Bem mais barato do que o que a NASA havia calculado (75 bilhões de dólares), e isso porque se economizou no que seria o mais caro: a viagem de volta. Não será preciso ter um foguete caríssimo com tanque cheio e provisões para a viagem de volta, pois os participantes da missão não retornarão mais à Terra.

Espetáculo A maneira como o dinheiro para o projeto será arrecadado também é única: a missão para Marte será um grande espetáculo de mídia. Big Brother 3.0. A seleção dos astronautas, os primeiros passeios do veículo espacial em Marte, as aventuras no foguete e a criação da colônia: tudo será seguido por câmeras e poderá ser acompanhado online e pela televisão.

Belos ingredientes para um excitante livro de ficção científica, pode-se pensar. Comentários críticos sobre a viabilidade não faltam, mas o projeto Mars One é real. O professor de física Gerard ‘t Hooft, vencedor do prêmio Nobel em 1999, é um dos embaixadores do projeto: “Minha primeira reação foi, como todo mundo, de que isso não funcionaria nunca. Mas quando se olha melhor, vê-se que é possível. Como empresa privada, sem implicações políticas e sem mexer com dinheiro público. Será um grande espetáculo de mídia, perto do qual o Big Brother vai empalidecer.” Não por acaso, um dos co-criadores e produtores do Big Brother, Paul Römer, também é um dos embaixadores do Mars One.

A grande questão é: há pessoas loucas o suficiente para abandonarem a Terra e passarem o resto de suas vidas em Marte?

Muitas, diz o criador do Mars One, Bas Lansdorp. “Nós ainda não abrimos nenhuma vaga oficialmente, mas desde que divulgamos o projeto, na semana passada, já recebemos centenas de inscrições. O interesse é enorme: de uma menina de 13 anos a um senhor de 75, da Holanda à Nigéria. Também recebemos um e-mail de um homem que quer levar sua esposa e os três filhos. Mas há muitas pessoas sérias que enviaram longas cartas explicando porque estão capacitadas para participar do projeto.”

Treinamento extensivo Quando as vagas forem divulgadas oficialmente, provavelmente será uma loucura, prevê Lansdorp. “Em seguida haverá uma extensa pré-seleção para ver quem é realmente adequado para um projeto pioneiro assim.” A intenção é formar grupos de quatro pessoas que receberão treinamento extensivo e, entre outras coisas, terão de passar por alguns meses de simulação no deserto. Naturalmente, tudo acompanhado por câmeras.

Os telespectadores definirão qual grupo de astronautas poderá enfim embarcar no foguete em setembro de 2022. Além de todas as exigências científicas, tecnológicas, médicas e psicológicas, as primeiras pessoas a pisar em Marte também têm que ser suficientemente interessantes para serem assistidas. “A única maneira de financiar este projeto é criando o maior evento de mídia de todos os tempos”, salienta Lansdorp.

A maioria das inscrições até agora é de homens, mas a intenção é que o grupo seja formado por homens e mulheres. “Pela experiência de expedições à Antártica, nas quais as pessoas também ficam meses isoladas do mundo exterior, ficou provado que grupos mistos funcionam melhor”, comenta Lansdorp.

Marcianos Mas dois homens e duas mulheres, num planeta onde não há nada para se fazer, não vai acabar em sexo? E possivelmente no nascimento do primeiro marciano? Segundo Lasndorp, a reprodução não é a prioridade da missão: “Com certeza, nos primeiros anos, as condições na colônia não serão ideais para crianças. Além do mais, ainda é preciso saber se é possível se reproduzir em Marte, onde a gravidade é menor que na Terra. Num primeiro momento, nós desaconselhamos. Mas no futuro quem sabe isso seja diferente. Será, afinal, a única maneira de realmente criar uma sociedade em Marte.”

Sexo em Marte, portanto, ainda é coisa para um futuro mais distante. Mas o resto não: dentro de um ano o projeto Mars One espera poder divulgar oficialmente em seu website as vagas para astronautas. E aí tem início a seleção, o treinamento e o reality show internacional. E os candidatos terão uma vantagem em relação a outros reality shows: não precisam ter medo de serem reconhecidos na rua.