Uma esperança para o Pampa gaúcho

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por Diniz Júnior / Especial

Já foram entregues 100 caixas com colmeias para 10 produtores da Ilha dos Marinheiros, Banhado do Maçarico e APA da Lagoa Verde no Bolaxa

Não há ser vivo com papel mais importante na preservação da biodiversidade do que as abelhas.Inúmeras espécies vegetais e, consequentemente, de animais, dependem do serviço de polinização prestado por esses pequenos insetos. A sua função, garante a  propagação das plantas, torna as abelhas as principais responsáveis ​​pela existência de plantas com flores e frutos para áreas verdes, bosques e florestas do nosso planeta. A sua presença é, pois, decisiva nestas zonas que continuam a fornecer alimentos e muito do oxigênio que respiramos.

As notícias de redução de populações de insetos polinizadores e suas possíveis consequências têm sido amplamente divulgadas na mídia nacional e internacional. Sabe-se hoje que o declínio dos polinizadores ameaça a produção mundial de alimentos, portanto, a segurança alimentar dos seres humanos. No caso específico das abelhas no Brasil, sua extinção pode ser atribuída, em tudo, ao uso alarmante de agrotóxicos. O Brasil, além de ostentar a má fama de campeão mundial no uso de agrotóxicos nas lavouras, faz uso indiscriminado de agrotóxicos sistêmicos, altamente tóxicos para as abelhas. Os neonicotinóides estão entre as principais causas de morte em massa de abelhas.

Um projeto pioneiro e inovador

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de mel do Brasil. Para fortalecer ainda mais a produção gaúcha, além de proteger a natureza, o projeto Polinizando o Pampa incentiva a criação de abelhas Jataí (Tetragonisca fiebrigi), uma espécie sem ferrão e tem a parceria da Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria da Pesca, Agricultura e Cooperativismo da Prefeitura do Rio Grande (RS) com a empresa Halinski Soluções Ambientais e Estatísticas.

A equipe iniciou o trabalho em outubro de 2022, quando os produtores receberam capacitação teórica para a criação de abelhas. Na semana passada 10 produtores receberam de graça cada um 10 caixas com as abelhas, além de orientações sobre como cuidar das colmeias, extrair o mel e um acompanhamento durante dois (2) anos. Na primeira quinzena de fevereiro outros cinco produtores serão contemplados. Além disso, o projeto também contará com Educação Ambiental nas escolas da região, jardins urbanos e diversos materiais educativos sobre abelhas.

Na opinião do secretário do meio ambiente, Pedro Fruet, o projeto irá contribuir para a sustentabilidade na região, compatibilizando alternativas de renda para pequenos agricultores locais com a conservação da natureza. Ele destacou as regiões que foram selecionadas para o projeto. “São áreas de relevante interesse socioambiental para a cidade do Rio Grande:  Reserva da Vida Silvestre Banhado do Maçarico – Unidade de Conservação estadual que está próxima da região da reserva ecológica do Taim, que é uma Unidade de Conservação federal; Área de Proteção Ambiental Lagoa Verde (APA da Lagoa Verde) – Unidade de Conservação municipal; e Ilha dos Marinheiros, que embora não sendo uma UC, é uma região de grande valor cultural e onde se desenvolve muita atividade agrícola”, destacou Fruet.

A ideia é difundir o projeto, que terá a duração de dois anos, a outros municípios, especialmente os da região do pampa. “Os benefícios aos produtores vêm em forma de geração de renda na produção de mel, própolis, geleia real entre outros produtos, e também na exploração do turismo. Além disso, a polinização auxilia na recuperação do meio ambiente, destacou Rosana  Halinski, doutora em zoologia e proprietária da empresa contratada para o projeto, Halinski Soluções Ambientais e Estatísticas, coordenadora do projeto.

 Apicultura x Meliponicultura

O universo da apicultura e da meliponicultura são muito diferentes: enquanto a apicultura tem como foco cuidar das Apis mellifera, abelhas com ferrão, a meliponicultura cuida dos Meliponíneos, abelha sem ferrão. O manejo das abelhas sem ferrão, dispensa a necessidade de trajes especiais de proteção. Também é considerado seguro colocar caixas de abelhas nativas em espaços escolares, como ferramenta de educação ambiental, para ensinar as futuras gerações sobre a importância da polinização no ecossistema e, na prática, promover a reflexão sobre ações de proteção ambiental.

 

    Os produtores recebem orientações sobre como cuidar das colmeias, e extrair o mel

Quando se fala em abelha vem logo na nossa cabeça, mel e ferrão. Mas a abelha significa muito mais do que isso, principalmente as abelhas nativas. Elas são são responsáveis por 30% da polinização da Caatinga e Pantanal, 90% da Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Floresta Subtropical, e por 80% das plantas que dão recompensa alimentar, tanto para os animais quanto para os seres humanos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Grande parte dessas plantas dependem exclusivamente da polinização feita por insetos, e em especial as abelhas nativas, que, graças à variedade de tamanho, conseguem ajudar na fertilização cruzada de uma forma mais rápida e eficaz.:

“Acreditamos que as abelhas vão mudar o cenário do bioma pampa, que vai ter uma melhor qualidade. Sabemos que o bioma está muito degradado. Além disso, nas propriedades de alguns produtores, já existem plantações de morango, hortas de frutas, legumes, hortaliças onde a Jataí vai agir na polinização dessas plantas agrícolas. “Eles terão um ganho com o aumento da produção e da qualidade”, destacou a doutora em biologia  do projeto Polinizando o Pampa Tatiana Kaehler.

“Homem-abelha” 

Apesar de iniciativas, como o Projeto Polinizando o Pampa, a falta de polinizadores no planeta já é uma realidade hoje. Em 2016, uma comunidade na China, em Hanyuan, província de Sichuan, cuja população rural, depois de ver a sua população de abelhas dizimada pelo efeito letal do uso indiscriminado de agrotóxicos ao longo de muitos anos, vem realizando a polinização de árvores frutíferas com as próprias mãos. Agricultores chineses, pendurados em árvores, desempenhando o papel de abelhas na polinização das flores preocupa muito e,  nos remete para uma profunda reflexão.

O surgimento de  “homens-abelhas”, como ficaram conhecidos,seriam capazes de polinizar todas as flores de todas as árvores e de todos os terrenos agrícolas, valendo-se apenas do esforço individual e dos pincéis ? O fato é que as abelhas estão perdendo seu hábitat quando florestas e jardins dão lugar a construções ou mesmo a plantações de uma única cultura – a espécie necessita de alimentação variada para sobreviver. As intensas mudanças climáticas pelas quais passa o planeta, em consequência do aumento da emissão de gases do efeito estufa pelo homem, também colaboram para o desaparecimento dos insetos.Não há tempo para desespero, precisamos reagir prontamente a esse alerta. É sempre bom lembrar: é atribuída a Albert Einstein a frase “Se as abelhas vierem a desaparecer da face da Terra quatro anos após o homem também desaparecerá”.

CONHEÇA MAIS SOBRE O PROJETO POLINIZANDO O PAMPA