Temer e Delcídio ajudaram J&F no Porto de Santos, diz ex-diretor

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Autoridades favoreceram grupo na implantação do terminal da Eldorado, afirmou Saud
            Autoridades favoreceram grupo na implantação do terminal da Eldorado, afirmou Saud

O ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo J&F, Ricardo Saud, relevou, em delação premiada, a interferência do então vice-presidente da República, Michel Temer, junto à diretoria-executiva da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), para a liberação de uma obra embargada no terminal da Eldorado do Brasil no cais santista. Além disso, também declarou que o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) intercedeu para que a mesma área não fosse leiloada pelo Governo Federal, na gestão de Dilma Rousseff.

A Eldorado, controlada pelo Grupo J&F, iniciou a construção de seu terminal no Porto de Santos em 2014. A instalação, que seria operada pela Rishis (outra empresa do conglomerado), é resultado de um investimento de R$ 90 milhões. Deste total, R$ 50 milhões foram para a compra dos direitos de exploração do Armazém XIII (13 externo), onde a unidade foi erguida. O contrato de arrendamento estava firmado com o Grupo Rodrimar, que o vendeu à empresa.

Segundo Saud, cerca de um mês após o início da construção do terminal, a obra foi embargada pela Codesp, a Autoridade Portuária. O empresário disse que isso ocorreu por conta da exigência de “uma série de documentos”.

Para reverter a situação, Saud afirmou ter feito uma visita ao então vice-presidente da República, Michel Temer. No encontro, o atual presidente disse que entraria em contato com a diretoria da Docas para resolver o problema. Ainda segundo o empresário, uma semana depois, a gestora do Porto levantou o embargo e a obra foi retomada. O terminal foi inaugurado em junho de 2015.

Procurado, o presidente da Codesp à época, Angelino Caputo e Oliveira (que esteve à frente da estatal de 24 de abril de 2014 a 9 de novembro de 2015), disse não se recordar de tratativas sobre à implantação do terminal da Eldorado no Porto. Segundo ele, esses trâmites podem ter sido concluídos antes do início de sua gestão. “Não me lembro de ter sido tratado em nenhuma reunião da Codesp algo sobre a liberação desta obra”.

Caputo relatou que, em 2014, os trabalhos de construção do terminal da Eldorado foram embargados “por algo em torno de 24 e 48 horas”. O motivo, segundo o executivo, foram irregularidades apontadas pela equipe da Segurança do Trabalho da Docas.

O ex-presidente da Codesp explicou, ainda, que após reuniões com representantes da empresa, os problemas foram resolvidos e as obras, liberadas. “Eu nunca falei com o Michel Temer em toda a minha vida. Isso eu garanto”, disse.

Procurada, a Codesp reiterou a questão de segurança que causou a interrupção da obra. Mas, segundo a estatal, a paralisação dos trabalhos ocorreu entre 19 de maio de 2014 e 2 de junho do mesmo ano, e que, por força do marco legal do setor, o assunto foi tratado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Em nota, o Palácio do Planalto informou que “o presidente Michel Temer jamais interferiu em assuntos do Porto de Santos para beneficiar o grupo J&F”. Já a Eldorado do Brasil não se posicionou sobre as denúncias até o fechamento desta edição.

Licitação

Em outro trecho da delação, Saud citou mais um caso de favorecimento no Porto. Desta vez, ele afirmou ter recorrido ao ex-senador Delcídio do Amaral para impedir a licitação da área hoje operada pela Eldorado. Segundo o diretor da J&F, para atender ao pedido, o ex-senador entrou em contato com a então presidente Dilma Rousseff (PT) e a então ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman (PT). A Reportagem não conseguiu contato com Delcídio.

Já a Rodrimar, empresa que arrendou a área operada pela Eldorado, destacou, através de sua assessoria de imprensa, que a área em referência teve a transferência de titularidade de seu contrato de arrendamento feita em 8 de outubro de 2013. “A partir de então, a administração do terminal passou a ser realizada única e exclusivamente pela empresa Eldorado S/A, sem qualquer participação ou responsabilidade do Grupo Rodrimar, que apenas atua como operador portuário”, informou.

Fonte: A Tribuna de Santos