Risco de recuperação judicial da Ecovix provoca tensão em Rio Grande

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Companhia que mantém cerca de 3,8 mil funcionários no polo naval da cidade não confirma a informação / Willian Silva
Companhia que mantém cerca de 3,8 mil funcionários no polo naval da cidade não confirma a informação / Willian Silva

O risco de que a Engevix Construções Oceânicas (Ecovix) entre com pedido de recuperação judicial em razão de dívida bilionária levou preocupação a Rio Grande, no sul do Estado. O receio envolve a perspectiva de demissão em massa e a deterioração do fragilizado polo naval da região.

Especulado desde o agravamento da crise na Petrobras, o pedido ocorreria ainda neste mês, segundo reportagem publicada ontem pelo jornal Valor Econômico. No entanto, a Ecovix não confirmou a informação e disse que negocia com representantes dos trabalhadores “para vencer da maneira mais adequada as dificuldades que o setor enfrenta”.

 

No polo naval, a Ecovix mantém 3,8 mil funcionários dos 6 mil que atuam em Rio Grande e São José do Norte. O complexo de estaleiros ainda tem com a Petrobras o contrato para a construção de dois cascos que nem começaram a ser produzidos e soma uma dívida de R$ 6 bilhões com a petroleira, fornecedores e bancos.

A hipótese de recuperação judicial do maior dos complexos em operação na região motivou reações. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, Benito Gonçalves, reuniu-se com a direção da empresa e tratou de tranquilizar os trabalhadores. A Ecovix informou que negocia com a Petrobras alternativas para sobreviver à crise e que a recuperação judicial seria a última delas.

Conforme o sindicalista, uma das possibilidades envolveria a redução do quadro de funcionários para a contenção de despesas. Se não houver como evitar esse cenário, Gonçalves indica que pode ser feito um plano de demissão voluntária, a exemplo do método adotado pela própria Petrobras.

— A empresa está estudando outras hipóteses antes de chegar à recuperação judicial. Essa possibilidade é pequena, mas existe. Antes, está discutindo o preço do cascos ou se produzirá com menos pessoas. Se nada der certo, e a Petrobras não apontar outra solução, a empresa pode vir, em última instância, a entrar com o processo (de recuperação judicial) — disse Gonçalves.

Prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT) mantém discurso semelhante. O município começou uma ofensiva junto aos governos estadual e federal na tentativa de reanimar o mercado naval na região. Uma das aspirações inclui a atração de uma parcela dos R$ 9,15 bilhões do Fundo da Marinha Mercante aprovados pela Marinha na semana passada para o financiamento de projetos.

— A recuperação judicial é a última ação que a empresa deve fazer. Antes disso, há uma política de negociação em relação à Petrobras e a contratos na tentativa de equacionar dificuldades que a empresa vem passando. Nossa expectativa é de que não cheguem a essa medida, consigam preservar os contratos no fluxo necessário para cumpri-los e ter acesso aos recursos do Fundo da Marinha Mercante para auxiliar o pagamento de credores — aponta Lindenmeyer.

O processo de recuperação judicial tem como objetivo evitar a falência da empresa e possibilitar a reorganização dos negócios a partir da ampliação de prazo para o pagamento de dívidas. Braço da construção naval e offshore da empreiteira Engevix, a Ecovix foi criada em 2000 diante da encomenda da Petrobras de oito cascos de navios-plataforma previsto em um contrato de US$ 3,5 bilhões.

Fonte: Zero Hora  / Por: Débora Ely