Produtores brasileiros ficam sem espaço em silos com acúmulo de safras recordes

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Os estoques do Brasil foram ainda aumentados pela safra extra de milho que seu clima permite, e que deverá alcançar 66,6 milhões de toneladas neste ano, de um total de 97,2 milhões de toneladas

Em um armazém na principal região agrícola do Brasil, o produtor Rafael Bilibio observa caminhões se enfileirando para descarregar milho no chão, a céu aberto, ao lado de enormes silos de armazenagem.

Seu próprio milho, pronto para ser despejado de um caminhão de 50 toneladas que acabou de chegar, está destinado a se unir ao monte, que já alcança cerca de 20 metros de altura, uma vez que os silos continuam cheios da soja colhida este ano no Estado do Mato Grosso.

“Pela primeira vez na história, produtores aqui vão empilhar uma colheita em cima da outra”, disse Bilibio, de 33 anos, que cultiva cerca de 4.700 hectares de soja e milho perto de Vera, no médio-norte do Estado.

Do Iowa à China, anos de safras recordes e baixos preços têm sobrecarregado armazéns de milho, trigo e outros alimentos básicos. A situação está pressionando a renda dos produtores e tornando mais difícil para tradings como a Archer Daniels Midland e Bunge obterem lucros.

Mas o Brasil, maior exportador mundial de soja e o segundo em milho, atrás dos Estados Unidos, vê os grãos se amontoarem por causa da segunda safra do cereal, que historicamente é uma cultura de rotação.

A segunda safra de milho, ou “safrinha”, foi tão grande neste ano, e os preços estão tão baixos, que os produtores não tiveram outra opção senão deixá-la exposta ao tempo.

No Mato Grosso, a grande colheita tornou as opções para armazenagem permanente ainda mais limitadas, uma vez que parte da produção recorde de soja ainda está nos silos enquanto produtores aguardam uma recuperação dos preços.

O acúmulo demonstra os problemas de infraestrutura na maior economia da América Latina, onde os crônicos gargalos logísticos foram piorados pela recusa de produtores a vender sua produção em meio à queda nos preços, com efeitos diversos.

Os estoques do Brasil foram ainda aumentados pela safra extra de milho que seu clima permite, e que deverá alcançar 66,6 milhões de toneladas neste ano, de um total de 97,2 milhões de toneladas.

Produtores dizem que os estoques de grãos podem ainda estar lá quando a próxima colheita de soja acontecer em janeiro, enquanto os volumes de passagem para as duas commodities terminarão a temporada em máximas recordes, segundo estimativas do governo e setor privado.

A decisão de reter a soja ocorre em outros lugares do País, com os preços locais da soja cerca de 23 por cento mais baixos, a 69 reais por saca, em relação a agosto de 2016, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

A relutância dos produtores em vender enxugou as margens de empresas como ADM e Bunge no último trimestre, uma vez que as tradings de grãos tiveram que pagar mais que o esperado pela soja para honrar compromissos.

“Eu venderia minha soja se os preços alcançassem 62 reais por saca”, disse Cayron Giacomelli, outro produtor do Mato Grosso. Houve ofertas de 55 reais na sua região, e ele ainda guarda de 15 a 20 por cento da soja colhida na safra atual.