Pesca de arrasto: entenda como acontece a destruição do habitat

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A destruição de habitats, principal causa de perda de biodiversidade marinha, não é o único problema da pesca de arrasto. Uma equipe de pesquisa com membros da Espanha, Argentina e Itália, descobriu que a modalidade em águas profundas leva a desertificação do fundo do mar.

Em artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, a equipe relata o que encontrou em sedimentos retirados de áreas fortemente arrasadas, em comparação com áreas no fundo do mar não utilizadas pelo arrasto.Segundo os pesquisadores, o arrasto não apenas reduz as populações de peixes. Mas também as populações de todos os tipos de fauna que vivem no fundo do mar.”O arrasto de fundo está alterando dramaticamente o solo oceânico.”

No Mediterrâneo

No noroeste do Mediterrâneo, onde o arrasto industrializado ocorre desde meados da década de 1960,  cientistas descobriram que a prática deslocou 5.400 toneladas de sedimentos em apenas 136 dias monitorados.Ambientes de encostas continentais com redes de arrasto são o equivalente submarino de uma encosta de morros, parte da qual foi transformada em campos de cultivo que são arados regularmente, substituindo o padrão natural de contorno normal por áreas niveladas.

Impacto no arrasto de fundo é visível do espaço

Resultados de estudos científicos mostram que o arrasto de fundo mata  grande número de corais, esponjas, peixes e outros animais. Por isso foi banido em um número crescente de locais protegidos nos últimos anos. Agora, imagens de satélite mostram que nuvens de lama se espalham e permanecem suspensas no mar muito depois que a traineira passou.

Captura acidental ou fauna acompanhante

A ONG Oceana informa que  a morte de vida marinha, não intencional, chega até 40% da captura global (estimada hoje em 90 milhões de toneladas), algo em torno de 36 milhões de toneladas.

Milhões de toneladas de peixes, moluscos, mamíferos, tartarugas, e aves marinhas morrem em artes de pesca (especialmente redes, mas não apenas) destinadas a capturar outras espécies. Todo esse dano colateral é chamado de “bycatch“.

Vídeo não deixa dúvidas dos malefícios da pesca de arrasto

O vídeo que apresentamos (com legendas) mostra o dano causado pelas redes de arrasto. Ele conta que, em 2006 alguns países, entre eles o Brasil, pediram na ONU uma moratória da pesca de arrasto profundo em águas internacionais. Mas não foram ouvidos.

O recado é claro: “o tempo está se esgotando”. Os governos devem agir enquanto ainda há tempo. Uma rede de arrasto pode varrer uma área equivalente a cinco mil campos de futebol numa única pescaria.

 

Pesca de arrasto no Brasil

Infelizmente esta modalidade é praticada no Brasil sem qualquer fiscalização. Aqui, cada um dos 17 estados costeiros tem uma regra a respeito de como deve ser praticada, sempre em relação à distância da costa.

Em alguns estados a distância é de uma milha náutica. Em outros, três milhas. Mas, como não existe fiscalização, é comum ver barcos passando o arrasto na zona de arrebentação.

Pesca de arrasto no mundo

Os cientistas provaram o mal que este tipo de pesca provoca. O que falta é força aos governos para proibirem de vez a modalidade.

Com medo do desemprego, muitos governos fingem não ver o mal que o arrasto provoca. E adiam uma solução. Recentemente, até Portugal que tem forte tradição pesqueira, proibiu o arrasto.

O Governo português aboliu por decreto todas as pescas de fundo, exceto a pesca  com espinhel, autorizada sob certas condições. A proibição vale para uma área de 2.280.000 km2 , cerca de quatro vezes o tamanho da Península Ibérica.

A última novidade é um estudo que mostra que, ao revolver o subsolo marinho, as redes de arrasto contribuem para mais gases de efeito estufa na atmosfera.

 

A pesca de arrasto no Brasil de Bolsonaro

Depois de anos de luta, em 2018 o Rio Grande do Sul aprovou uma Lei (por unanimidade na Assembléia Legislativa) restringindo o arrasto a menos de 12 milhas da costa.

O que era comemorado por cientistas, pescadores e ambientalistas, foi criticado em agosto de 2019, pelo presidente da República que investiu contra um dos poucos Estados brasileiros que tiveram a coragem de adotar medidas restritivas  à pesca de arrasto no Brasil.

O Mar Sem Fim considera que o setor da pesca é tão mal dirigido, na atual administração, como o do Meio Ambiente. Ambos, uma secretaria, e um ministério, dirigidos  por amadores. E notórios transgressores de leis ambientais.

                                        Milhares de tartarugas marinhas são mortas inutilmente

Outros problemas do arrasto além da destruição de habitats

A destruição de habitats, maior causa de perda de biodiversidade marinha mundial, não é o único problema do arrasto, antes fosse.

Fonte: mar sem fim