Pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicada na revista “Science of the Total Environment” indica que o Estuário de Santos, no litoral Sul paulista, é um dos locais com maior contaminação por microplásticos do mundo.
A conclusão se baseia na comparação de amostras de ostras e mexilhões coletados na região com os dados de mais de cem estudos realizados em 40 países. Na Baixada Santista, os moluscos foram recolhidos na região da balsa Santos-Guarujá, na Praia do Góes e na Ilha das Palmas.
De acordo com Victor Vasques Ribeiro, doutorando no Instituto do Mar (IMar-Unifesp), foram encontrados mais de 300 microplásticos por grama em um único mexilhão. Nos animais também foram identificados vestígios de fibras, compostos de celulose e acrílico.
O professor Ítalo Braga de Castro, da Unifesp, explica que o nível de contaminação por microplásticos na região não surpreende, já que o local está próximo ao Porto de Santos e sofre influência direta da descarga de resíduos industriais e domésticos dos municípios vizinhos.
Castro diz que a atividade portuária contamina as águas do estuário (ambiente aquático de transição entre um rio e o mar) por soltar partículas de plástico a cada vez que um navio é carregado ou descarregado com matéria-prima para a produção desse material.
— Muitas bolinhas de plástico, chamadas de pellets, acabam escapando para o ambiente, contaminando o estuário e as praias da região com esse material — disse em entrevista publicada pela Agência Fapesp.
Segundo o professor, parte dos resíduos encontrados nos mexilhões tem como provável origem os resíduos da lavagem de roupas trazidos pelo esgoto doméstico:
— Grande parte das nossas roupas é sintética, portanto, plástica. Quando você as lava, muitas dessas fibras se soltam e caem na rede de esgoto, onde o resíduo é lançado. Como não tem tratamento nas estações para remover essas partículas, elas acabam contaminando o ambiente.
Um dos objetivos do estudo é que os seus dados sejam apresentados para a formulação de novas políticas públicas que exijam a remoção dos microplásticos dos efluentes. Os pesquisadores também pretendem agora estender a análise para os estuários do Ceará, de Pernambuco, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.