Indústria naval pede união entre empresários e governo para evitar mais demissões

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No Rio de Janeiro o caso mais alarmante ocorre na indústria naval, principal geradora de empregos do estado, que cortou cerca da metade de suas vagas em 2015

Com o crescente desemprego em todo o país, fruto da atual crise política e econômica, setores como a agricultura, a construção civil, e administração pública são alguns dos que mais sofrem.

Os estaleiros do estado se veem como reféns da situação caótica que se instaurou no setor petroleiro. A Petrobras, envolta em graves problemas financeiros decorrentes das investigações da Operação Lava Jato e da constante queda do preço do barril de petróleo, não está em condições de realizar, na média de anos anteriores, as contratações de que a indústria naval tanto depende. No que se desenha como um efeito em cadeia, empresas prestadoras de serviço aos estaleiros, já em dificuldades, também acabam arrecadando menos e demitindo mais.

Metalúrgicos fazem protesto contra demissões: cenário desaminador

“O setor metalúrgico está hoje em crise”, avalia o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, Manuel Monteiro, responsável pelo setor de indústria naval. “Nós começamos 2016 com um quadro realmente muito ruim, a situação é crítica. Nós tivemos três mil trabalhadores demitidos no estaleiro Eisa, aproximadamente seis mil no estaleiro Inhaúma, antigo Ishibrás, na Enseada, alguns estaleiros, como o Sermetal, fecharam, e nós não temos perspectiva de reabertura desses que fecharam ou mesmo de melhora nos que vêm reduzindo postos de trabalho”, afirma. O diretor faz um apelo: “Falta um envolvimento maior dos empresários no sentido de buscar uma solução para o problema, com os trabalhadores e o governo. Acho que todos devem estar juntos para que possamos reverter esse quadro”.

As demissões no Eisa, que ocorreram em dezembro de 2015, exemplificam bem a gravidade da situação, apontada pelo diretor sindical. Os 3 mil funcionários demitidos da empresa chegaram ao estaleiro para trabalhar na manhã do dia 15 de dezembro, uma segunda-feira, e se depararam com portões lacrados. Sem perceber de início o que acontecia, receberam então uma carta da presidência que os informava de seu desligamento da empresa, resultado da recessão econômica e dos desdobramentos da Lava Jato.

“Temos discutido a redução das demissões, mas as perspectivas não são boas, por conta da Transpetro, da crise da Petrobras, e também do preço do barril de petróleo, que caiu muito. Isso inviabiliza, inclusive, a questão do pré-sal”, aponta Manuel Monteiro.

O diretor acredita que um maior envolvimento do governo é necessário para que o quadro apresente alguma melhora, mas a crise dificulta: “Uma solução depende de uma mudança na estrutura de governo, por conta dessa crise política que o país atravessa e da Operação Lava Jato. Nós esperamos que este quadro que está sendo colocado se desfaça a partir do momento em que a Lava Jato entre em reta final. Acho que haverá uma mudança a partir disso”.

“Há a lei de leniência, que nós temos discutido em Brasília. Contudo, o governo segue não enquadrando os empresários da forma que deveria. Isto é, punir o empresário, prendê-lo se for o caso, mas que a empresa possa ter vida própria. O CNPJ dela tem que estar ativo para que a gente possa estar buscando a retomada da geração de emprego”, acrescenta Monteiro, defendendo que os trabalhadores das empresas envolvidas em escândalos de corrupção não sejam indiretamente prejudicados.

Uma crise dessa envergadura na indústria naval pode trazer graves consequências também para outros setores, dependentes da venda de produtos e serviços para os estaleiros. Estes, aponta o diretor sindical, são “geradores de empregos indiretos”. “Isso (crise no setor) mexe com toda a cadeia produtiva de estado. Há, por exemplo, os fabricantes de válvulas, equipamentos no geral para a indústria naval, que também vão entrar nessa onda das demissões pelo que vem acontecendo. As empresas que prestam serviço aos estaleiros também estão tendo que demitir trabalhadores”, afirma Manuel Monteiro.

Fonte: JB