Enquanto a produção das hidrelétricas mingua com a seca, as usinas eólicas e solares têm batido recordes de geração e ajudado a sustentar o atendimento da demanda de energia. No entanto, gargalos no sistema de transmissão têm feito com que, em alguns momentos do dia e da semana, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determine cortes de geração eólica e solar, principalmente por falta de capacidade para escoamento de toda a energia nas linhas.
Esse tipo de ocorrência não é novidade para o setor elétrico e está relacionado à rotina de operação do sistema. Mas agentes do setor de renováveis relataram ao Valor que ordens de redução temporária de geração têm se acentuado nos últimos meses, em meio à crise hídrica – no caso da solar, estima-se que a quantidade de energia “perdida” tenha crescido três vezes. Para alguns agentes, isso evidencia o descasamento entre o ritmo de crescimento da geração, sobretudo no Nordeste, e da transmissão, que tem ficado para trás.
Reduções involuntárias na produção de energia das usinas (“curtailment por constrained-off”, na expressão técnica) podem acontecer com qualquer tipo de fonte, e por motivos variados. As usinas podem, por exemplo, sofrer restrições pontuais pela capacidade de escoamento das linhas de transmissão, por manutenções e contingências específicas na rede.
Na visão dos geradores, o aumento recente das ocorrências tem a ver com a crise hídrica, que não só tornou o “bolsão” de geração eólica e solar do Nordeste ainda mais relevante ao sistema, mas também intensificou os envios de energia da região para o Sudeste.