A falta de barcaças e combustível para o abastecimento de navios no Porto de Santos gera demoras, prejuízos e muita dor de cabeça às agências de navegação e às tripulações. Há casos de atrasos de até 15 horas na partida de embarcações e, ainda, cargueiros que seguiram desabastecidos para outros países, em busca de solução para a falta de óleo bunker. A Petrobras reconhece o problema e afirma que ele foi causado pelo aumento da demanda de usinas termelétricas.
A situação é grave, considera o Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar). Segundo a categoria, em muitos casos, o término do abastecimento acontece após o final das operações de embarque e desembarque de mercadorias. Isso causa um transtorno entre agentes marítimos e os terminais, que ficam impedidos de receber novas embarcações enquanto o bombeamento do óleo não é concluído.
Os navios utilizam um produto especial em seus motores denominado óleo bunker. No Porto de Santos, seu carregamento é realizado pela Transpetro, subsidiária da Petrobras.De acordo com o diretor-executivo do Sindamar, José Roque, a Transpetro alega que o agendamento de abastecimento não é cumprido pelas agências. Mas, segundo o representante da categoria, o problema gira em torno da redução da oferta de óleo combustível para os navios. “O que temos notado é que, diante da falta do produto e de barcaças, usa-se a justificativa do descumprimento do agendamento do navio. Várias embarcações tiveram seus abastecimentos reduzidos sob o pretexto de falta de barcaça, no que temos as nossas suspeitas, já que o abastecimento foi parcial”, destacou Roque.
O navio Adestra é um exemplo de abastecimento em quantidade reduzida. Em Santos desde o último dia 14, a embarcação atracou no último sábado para carregar açúcar a granel para o Líbano. O cargueiro partiu no dia seguinte. No entanto, foi necessário trocar janelas de prioridade entre navios da agência. Além disso, foi reduzida a quantidade fornecida de 650 toneladas para 250 toneladas para que o navio conseguisse ser abastecido antes da saída do berço.
Já o navio TC Gold chegou no Porto no último dia 18, atracou no domingo e foi embora terça-feira para a Arábia Saudita. Neste caso, a Petrobras não forneceu o combustível dentro da janela de atracação e, mesmo com a possibilidade de mudança para outro berço, não garantiu o fornecimento. Por isso, o navio desviou seu destino para ser abastecido em Cabo Verde, na África.“Não há produto para fornecimento. O MPF (Ministério Público Federal) deveria apurar o que está ocorrendo na Petrobras quanto ao abastecimento dos navios”, diz Roque.
Segundo o Sindamar, como consequência dos atrasos, os navios são obrigados a aumentar a velocidade, o que acarreta em um gasto de combustível até três vezes maior. Para José Roque, outro fator determinante para aumentar os custos com o abastecimento de navios é a necessidade do armador contratar empresas que lancem barreiras de contenção para evitar vazamento de combustíveis. Segundo ele, essa atribuição é da Petrobras.
“Com base em uma resolução da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) foi atribuído ao armador/agente a responsabilidade pelo cumprimento do quesito segurança na proteção do meio ambiente. Somos favoráveis ao controle do meio ambiente, evitando poluição do estuário e do mar, mas essa responsabilidade foi transferida, no nosso entendimento, pela relatividade de proximidade entre armador e agente”, afirmou o representante do Sindamar.
O combustível a ser abastecido nos navios que atracam em Santos fica armazenado em tanques da Transpetro, localizados em suas instalações na Cidade e em Cubatão. As unidades são interligadas por cinco dutos – cada um com dez quilômetros de extensão. Com essa rede, eles ainda ficam conectados à Refinaria Presidente Bernardes, também em Cubatão.Para que um navio seja abastecido, seus consignatários fazem uma solicitação à Transpetro. O pedido tem de ser apresentado com 7 a 10 dias de antecedência.
Petrobras