Falavam em qualificação e agora querem mão de obra escrava?

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Temos feito um trabalho voltado não apenas para nossa categoria, mas também para a comunidade em geral. Cale lembrar que, enquanto o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicoschamou para si a responsabilidade no que diz respeito à empregabilidade, convocou a categoria para sair às ruas na defesa do Polo Naval e juntos irmos atrás de respostas, no resto do país os trabalhadores ficaram sozinhos para encarar as dificuldades e botar a cara a tapa. O fato de nosso sindicato se envolver diretamente na briga pela empregabilidade é decisão de diretoria pois, apesar de não ser uma obrigação legal e não constar em nossos estatutos, entendemos que devemos estar sempre ao lado de nossos companheiros. Desde a chegada do Polo Naval em Rio Grande o Sindicato dos Metalúrgicos promoveu vários cursos de qualificação e já empregou muito mais trabalhadores que qualquer outro órgão da região, afora parcerias como o Sine e suas indicações diretas.

Tão logo surgiram as denúncias da Operação Lava Jato, este sindicatou mobilizou trabalhadores e a comunidade no sentido de unirmos forças na briga em defesa de nossos postos de trabalho. Foram diversas atividades que chamaram a atenção do Brasil para a Região Sul. A imprensa nacional e até internacional noticiou nossa grande mobilização do dia 12 de fevereiro, enquanto o programa “Profissão Repórter”, da Rede Globo, mostrou para todo o país os destroços causados pelas denúncias da Operação Lava Jato e que fomos o único sindicato a sair às ruas e cobrar uma atitude do Governo e Petrobras.

Além daquela histórica paralisação, por várias vezes participamos de reuniões com autoridades em Brasília e na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. Tivemos dois encontros com a presidente Dilma Rousseff, quando ela foi taxativa na defesa do Polo Naval gaúcho. Este foi o fato que nos levou a acreditar que estaríamos seguros. Porém, o quadro atual não condiz com esta garantia dada, nada mais, nada menos, que pela Presidente da República e também pelo ministro Miguel Rossetto. Agora, a realidade que temos é um mar de incertezas que nos coloca à deriva, onde a classe trabalhadora fica fragilmente exposta a se afogar em um mar de desemprego, corrupção e interesses particulares de agentes da Petrobras a levar projetos para fora do país.

A realidade que temos é um mar de incertezas que nos coloca à deriva, onde a classe trabalhadora fica fragilmente exposta a se afogar em um mar de desemprego, corrupção e interesses particulares de agentes da Petrobras 

Para nós, representantes dos trabalhadores, existe uma dúvida: o fato de levarem projetos para fora do país não será para fugirem dos olhos das leis, que hoje estão direcionadas a todo e qualquer tipo de movimentação contratual desta estatal, que deveria proteger os interesses dos trabalhadores brasileiros e não de empresários e políticos? Além do mais, o fato de deixarmos de criar frentes de trabalho no país, levando as obras do Polo Naval para a China e Indonésia, onde a mão de obra escrava é muito utilizada, não seria um incentivo a essa prática criminal de empregabilidade? Outra grande dúvida: como nós, hoje, já com nossa mão de obra muito qualificada, poderemos chegar ao nível de excelência se, ao invés de manterem os trabalhos aqui, continuarem patrocinando obras fora do país?

E agora, o que fazer? Nosso sindicato já começou a elaborar um plano de cobrança direta. Várias ações serão tomadas país afora. Iremos novamente, junto com a classe trabalhadora, bater nas portas dos governos federal, estadual e da Petrobras, a fim de perguntar: quem estava mentindo para quem? O que eles realmente irão fazer? Cobrar também a garantia do conteúdo local sem pagamento ridículo de uma multa em troca de criação de mão de obra. Gostaríamos de acreditar que eles não utilizaram a classe trabalhadora apenas para garantir votos e que agora, depois de seus objetivos alcançados, irão nos descartar como lixo. Logo nós, que aqui no Sul construímos plataformas que estão mundo afora produzindo petróleo em grande escala, responsável por quase 50% da produção do petróleo e gás brasileiro.

 Benito Gonçalves

Presidente Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande e São José do Norte (STIMMMERG)