Entenda o que é o pó preto que polui o ar e o mar de Vitória há anos

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O pó preto despejado no mar e no ar de Vitória rende reclamações e investigações de crime ambiental há anos no Espírito Santo

Em janeiro de 2016, a Polícia Federal interditou parte das atividades com minério de ferro e carvão, no Porto de Tubarão, que é administrado pela Vale, por causa da poluição na capital.

Para entender o que é, como se forma e quais são os malefícios causados pelo pó preto, o G1 procurou especialistas de diversas áreas.

O que é o pó preto?

Grande parte do pó preto de Vitória vem da mistura das particulas de minério de ferro (exportado) e carvão (importado), que passam pelo Complexo de Tubarão. Restos de cal,  borracha e outras ligas, inclusive arsênio, também se integram a este material que polui ar e mar na capital.

Como o pó preto se espalha?

O carvão que chega ao Porto de Tubarão é retirado dos navios e colocado em funis através de guindastes. Durante esta operação, a substância pode se dispersar no ar ou cair na água. No caso do minério de ferro, a esteira que faz o transporte do material é aberta. O vento e a própria trepidação da esteira faz com que as partículas caiam na baia. Outro forma de poluição vem da fuligem que sai das chaminés da mineradora.

Como prejudica o Meio Ambiente?

Quando o pó preto cai na água, ele se deposita no fundo ou em uma coluna d’água e vira comida de molusculos e outros animais que filtram o mar, como o mexilhão. Quando o pó ataca o ecossistema, causa mortes de seres vivos na água. Alguns não chegam a fase adulta e outros apresentam anomalias. Estudos comprovam que o pó preto afeta, por exemplo, os ouriços e impede que saiam da fase embrionária.

Como pode ser evitado?

A Vale deveria fechar toda a passagem de minério e carvão, por fora e por dentro da empresa, inclusive nos transportadores dos piers. Para isso, ambientalistas recomendam o uso de uma estrutura chamada de ‘Domos’, que funciona como um iglu. Já as chaminés devem ter filtros que bloqueiam partículas metálicas.

Wind Fences funciona?

Em 2009, a Vale instalou uma ‘tela’ que funciona como barreira de vento chamada ‘Wind Fences’. A empresa disse que reduziu em 77,4% a emissão do pó. Mas, em 2012, o Iema disse que a ação resultou em uma redução de apenas 12,18%. Especialistas dizem que o vento leva partículas minúsculas, que sobem e conseguem ultrapassar a ‘tela’.

Como ele afeta a saúde?

Médicos avaliam que o tamanho da partícula do pó preto é tão pequena que pode chegar aos pulmões. Elas impregnam o órgão e podem diminuir a capacidade de captar oxigênio. O pó é capaz de atingir a nariz, a mucosa da boca e garganta. As consequências dependem do pulmão de cada pessoa. Crianças, idosos e pessoas com doenças como alergias, asma, enfisemas e doenças cardíacas são os mais afetados. Nos idosos, como o coração passa a ser mais exigido, aumentam casos de infarto.

Interdição das atividades no porto

No dia 21 de janeiro de 2016, as atividades com minério de ferro e carvão foram proibidas no Complexo de Tubarão. A decisão foi da 1ª Vara Federal e, segundo a Polícia Federal, representa um “marco na história” do Espírito Santo. Segundo a Justiça, a medida foi tomada por causa da emissão de poeira de carvão e pó de minério no mar e no ar de Vitória.

A Vale é a atual responsável pleas operações realizadas no complexo portuário. Entretanto, a ArcellorMital também é investigada, já que operou no porto em anos anteriores. Um inquérito policial investiga os supostos crimes ambientais cometidos pelas empresas. No dia 25, a Vale foi liberada a operar no terminal.

Mas não foi a primeira vez que a mineradora foi punida desta maneira. Em 29 de agosto de 1990, o então governador do Espírito Santo Max Mauro anunciou que iria interditar as operações das empresas poluidoras.

Uma publicação do jornal A Gazeta da época explica que a interdição parcial foi anunciada porque as empresas poluidoras não haviam assinado o acordo com o governo do estado para reduzir os níveis de poluição. Na época, a Vale ainda era Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a ArcelorMittal era Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST). A interdição parcial aconteceu apenas no dia 30 de agosto e se encerrou no dia seguinte.

CPI do pó preto

No dia 23 de fevereiro de 2015, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a origem da poluição atmosférica na Grande Vitória. Depois de oito meses de trabalho, em 7 de outubro de 2015, os deputados concluíram que as empresas Samarco, Arcellor Mital e Vale são as principais responsável pela emissão de pó preto no ar da Grande Vitória. Em depoimentos na CPI, todos os presidentes das empresas admitiram que fazem parte da poluição na capital.

População

Diversos são os relatos de pessoas impressionadas com a poluição que chega pelo ar. Em casas de diversos bairros da capital, moradores vivem com as janelas fechadas. É o caso do aposentado João Francisco Pinedo Kasper, de 69 anos. Ele mora na Ilha do Boi e gravou um vídeo impressionado com o pó preto acumulado em seu apartamento. (Assista ao vídeo)

Na Enseada do Suá, o problema também se repete. Cansados de esperar por uma solução, moradores e empresários resolveram mover um conjunto de ações contra a poluidora no dia 19 de janeiro de 2016. Na foto, o promotor Leonardo Costa Barreto mostra o pé da filha após pisar no pó preto que chega em casa, na Enseada do Suá.

Limites de poluição

Em janeiro de 2016, as medições de pó preto realizadas nas estações de monitoramento de Vitória retratam o que tanto tem incomodado a população: em quatro, das cinco unidades, os limites estabelecidos para este tipo de poeira foram ultrapassados. Uma delas superou o dobro do padrão. Mesmo assim, nenhum setor poluidor será punido ou notificado.

Fonte: G1