Demissões colocam em risco futuro do polo naval de Rio Grande

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Cálculo da Fundação de Economia e Estatística (FEE) indica que aproximadamente R$ 10,5 milhões deverão deixar de circular, por mês, no município
Cálculo da Fundação de Economia e Estatística (FEE) indica que aproximadamente R$ 10,5 milhões deverão deixar de circular, por mês, em Rio Grande

A demissão coletiva de 3,2 mil trabalhadores do Estaleiro Rio Grande (ERG), de propriedade da Engevix Construções Oceânicas (Ecovix), lança, mais uma vez, uma nuvem de incertezas sobre o futuro do polo naval da Metade Sul. Anunciada nesta segunda-feira, quatro dias após a entrega do casco da plataforma P-68, a dispensa vai significar um enxugamento de cerca de 50% no atual número de trabalhadores dos estaleiros da região.

Investigada na operação Lava-Jato, a empresa acumula dívidas de cerca de R$ 6 bilhões e poderá entrar com pedido de recuperação judicial (leia reportagem na página ao lado). Inaugurado em 2010, o estaleiro assinou contrato de US$ 3,5 bilhões com a Petrobras para fabricação de oito cascos para plataformas de exploração de petróleo. No entanto, apenas três foram entregues, sendo o último na semana passada, com mais de dois anos de atraso.

Além de colocar em risco a continuidade das operações do polo naval de Rio Grande, as demissões terão impacto na economia local. Cálculo da Fundação de Economia e Estatística (FEE) indica que aproximadamente R$ 10,5 milhões deverão deixar de circular, por mês, no município de pouco mais de 200 mil habitantes, considerando apenas a remuneração média desses trabalhadores.

O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), disse que políticos e empresários do municípios estão se organizando para viajar a Brasília na tentativa de convencer a Petrobras a manter os investimentos para a construção das plataformas. Amanhã, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, estará em Rio Grande. Não foram divulgados detalhes da agenda dele.

— Uma demissão de 3,2 mil trabalhadores é extremamente impactante na economia local, com reflexos sociais graves. Mas não vamos jogar a toalha. Nossa expectativa é de que a gente possa superar esse momento de adversidade — disse Lindenmeyer.

De acordo com economista César Conceição, do Núcleo de Contas Regionais da FEE, até outubro, houve queda de 925 empregos diretos em construções de embarcações em Rio Grande. Ou seja: o ano vai terminar com 4,1 mil postos a menos no município.

— Haverá um impacto não só em termos de renda, mas de conteúdo tecnológico. Provavelmente, esse setor vai voltar a ser o que era antes, uma indústria pequena — avaliou Conceição.

O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de Rio Grande, Sadi Machado, classificou as demissões como “uma atitude covarde da empresa e do governo federal”. Segundo ele, 85% dos trabalhadores são de Rio Grande e de municípios vizinhos. No passado, quando o polo vivia o seu auge, empregando quase 20 mil pessoas em 2013, um grande número de operários vinha de outros Estados, o que estimulou a rede hoteleira e o comércio local.

— Nosso sentimento é o de revolta. É muito triste ver mais de 3 mil pais e mães de família saindo de cabeça baixa, sem nenhuma perspectiva — lamentou Machado.

Conforme o Sindicato dos Metalúrgicos, 2,2 mil pessoas seguem trabalhando nos estaleiros da EBR, em São José do Norte, e cerca de 400 no do consórcio QGI (Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás). Na Ecovix, apenas 200 trabalhadores seguiram atuando na manutenção da estrutura do estaleiro — outros 300 continuam porque estão afastados.

Embora as demissões coletivas fossem esperadas, o tamanho do corte surpreendeu. Na quarta-feira passada, o sindicato tinha informações de que a empresa iria demitir mil pessoas. No dia seguinte, o número evoluiu para 1,5 mil.

— O cenário é o pior possível. A região sul sofreu baque grande — disse Machado.

Fonte: Zero Hora/Cleidi Pereira