Conta da empresa não fecha, diz especialista em infraestrutra

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Pires defendeu a capitalização da empresa, sugerindo que o governo seja responsável por algo como 30% do novo investimento

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse na Fiesp na sexta-feira (17/6) que a Petrobras está quebrada. “A conta não fecha”, afirmou durante reunião do Conselho Superior de Infraestrutura da Fiesp. O preço do petróleo, que deve se manter entre US$ 45 e US$ 55 por barril por longo tempo, o câmbio, o enorme endividamento e os cortes nos investimentos –e consequentemente nas perspectivas de aumento de produção- estão entre os obstáculos que ele vê para a empresa.

Pires defendeu a capitalização da empresa, sugerindo que o governo seja responsável por algo como 30% do novo investimento, ficando os restantes 70% para a iniciativa privada. Para isso, listou uma séria de mudanças que seriam necessárias para tornar o negócio atraente para os investidores. “Não dá para recolocar a empresa na rota da rentabilidade sem a capitalização”, afirmou.

O diretor do CBIE explicou o que considera um tripé para refundação da Petrobras: melhora da governança corporativa; plano estratégico de qualidade, realista, com foco nas áreas de atuação mais atrativas; melhor estrutura de capital.

Os números

Com uma dívida de R$ 502 bilhões (em dezembro de 2015), dos quais R$ 280 bilhões vencendo entre abril de 2016 e 2020, a Petrobras precisaria ter R$ 650 bilhões a R$ 700 bilhões para cobrir a necessidade de caixa no período, mas só haverá de R$ 230 bilhões a R$ 280 bilhões de geração de caixa, sugerindo funding gap de R$ 450 bilhões. Dificilmente a produção crescerá até 2020, disse.

Houve corte de investimentos, e a meta revista de produção, que é de 2,7 milhões de barris por dia, representa crescimento de 35% em relação à atual produção de 2 milhões de barris por dia. E mesmo isso, no cenário atual, é difícil, analisa Pires, ressalvando que está mais otimista com o novo governo, que nomeou gente preparada, como Pedro Parente, o novo presidente da Petrobras.

Pires ressaltou que a maioria do crescimento de dívida, de R$ 106 bilhões em 2009 para R$ 502 bilhões de reais, não se deveu a investimentos. Foram R$ 160 bilhões em subsídios para gasolina e diesel entre 2010 e 2016. Outros R$ 80 bilhões se deveram a “custos extraordinários”, em projetos sem retorno financeiro, inviáveis, como Rnest, Comperj e as refinarias premium do Maranhão e do Ceará.

Outros R$ 20 bilhões foram gastos em custos extraordinários nos investimentos em outros ativos demidstream e downstream. Por fim, R$ 75 bilhões em variações cambiais da dívida sem hedge.

Para chegar a um nível sustentável de 1,5 vezes a dívida líquida/EBITDA, o primeiro ponto, segundo Pires, seria dividir a conta entre os stakeholders, como feito no setor elétrico em 2001. O consumidor precisaria devolver o subsídio de R$ 160 bilhões (ou R$ 220 bilhões, com correção), por meio de uma fórmula de preços que permita prêmio em relação aos preços internacionais, por um determinado período. Isso é um erro para corrigir outro erro, mas precisa ser feito para recuperar a Petrobras, disse.

Outra questão seria a renegociação com credores, que emprestaram com a perspectiva de produção de até 5 milhões de barris por dia.

Em relação aos ativos que poderiam ser vendidos, Pires considera viáveis os de distribuição de combustíveis, termoelétricas, ativos internacionais como a Petrobras Argentina e o lease back de plataformas. Isso geraria US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões, muito abaixo do US$ 52 bilhões ambicionados no plano de desinvestimento.

Pires considera que seria útil a Petrobras vender parte dos campos, por não ter capacidade de investimento para explorá-los. Custos do pré-sal vêm caindo, pela boa surpresa na produtividade, e dão atratividade às áreas, disse.

Sobre os ativos da Petrobras que estão em monopólios naturais, como gasodutos, Pires considera que se forem vendidos sem atenção à regulamentação, podem criar uma “grande bagunça” no mercado. Carlos Cavalcanti, vice-presidente do Coinfra, citou posicionamento da Fiesp em relação à venda das distribuidoras de gás. Lembrou que a entidade emitiu duas notas duras na época do negócio. “Estamos atentos”, avisou.