Conheça o papel do navio brasileiro Almirante Maximiano na busca pelo avião militar chileno

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O navio Polar Almirante Maximiano da Fonseca em missão na Antártica em novembro deste ano / Foto Guga Volks

Na noite de segunda-feira, às 23h, a Força Aérea do Chile relatou o desaparecimento de um avião C-130 Hércules, que voava de Punta Arenas à Antártica com 38 pessoas a bordo. O contato com a aeronave foi perdido a 730 km ao sul da capital da região de Magallanes, e depois de quase 48 horas de intensas buscas, com ajuda internacional, na tarde de quarta-feira foram encontradas as primeiras pistas.

O barco de bandeira chilena Antarctic Endeavour, da empresa Pescachile e que prestava serviço na busca, soou o primeiro alarme, a cerca de 30km de onde o avião fez contato pela última vez. Ao meio-dia de quarta-feira, o navio encontrou diversos pedaços de esponja dos tanques internos de combustível do C-130. Após a descoberta, a Marinha chilena mudou sua estratégia e passou a focar nessa zona.

O barco mais próximo, além do Endeavour, era o navio polar Almirante Maximiano, da Marinha brasileira, uma das seis embarcações internacionais colaborando com as buscas. O navio, apelidado de Tio Max, é o único dos seis equipado com sonares de feixes múltiplos, capazes de capturar imagens a grandes profundidades.

Na noite de quarta, o Ministério da Defesa brasileiro informou que o navio coletou, por volta das 15h30, itens pessoais e destroços compatíveis com o C-130. As afirmações foram detalhadas posteriormente pelo intendente da região chilena de Magallanes, José Fernández.

Além dos destroços e itens, o navio também encontrou corpos supostamente pertencentes a passageiros do avião. Nesta quinta-feira, o chefe da Força Aérea chilena, Arturo Merino, disse que não há sobreviventes.

— As condições dos restos que descobrimos tornam praticamente impossível o fato de alguém ter sobrevivido ao acidente — afirmou.

O protagonismo do navio brasileiro, no entanto, chamou atenção. Segundo o jornal El Mercurio, “as últimas — e mais importantes — descobertas foram graças às atividades do Almirante Maximiano”.

Capacidade em profundidades

Segundo o contralmirante Ronald Baasch, da Terceira Zona Naval chilena, o barco foi essencial no tormentoso mar do Estreito de Drake.

— O navio Maximiano tem a capacidade de usar um sonar de feixes múltiplos para obter a localização de elementos de tamanho importante sob as profundidades do mar — afirmou.

Segundo ele, o Cabo de Hornos, um navio chileno de características similares, chegará no dia 15, domingo, para somar esforços ao Maximiano, aumentando as possibilidades de encontrar evidências para entender o que houve com o C-130 e com seus tripulantes.

     Nessa foto o navio está atracado no porto de Punta Arenas no Sul do Chile / Foto Thiago Piccoli Cunha

O Almirante Maximiano, através de seus sonares, consegue captar objetos a 4.500 metros de profundidade, um feito importante, considerando que a zona em que as buscas acontecem tem profundidade de 3.200 metros.

O barco foi construído nos Estados Unidos e lançado em fevereiro de 1974. A Marinha brasileira adquiriu o navio em 2008, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para o programa brasileiro na Antártica. O “Max” tem foco em investigações oceanográficas e já colaborou com países vizinhos em outras buscas, como a do submarino argentino ARA San Juan , em 2017.

O navio passou, ao longo dos anos, por diversas modificações e melhorias e atualmente é uma ferramenta essencial para pesquisadores e para apoio logístico. Com 93,4 metros de comprimento, ele conta com um hangar para dois helicópteros, com uma estação meteorológica e com instalações para pesquisas.

Em novembro, por exemplo, ele rebocou uma rede de microplásticos em apoio a um projeto científico da Universidade Federal de Pernambuco, com o objetivo de investigar a estruturação do ecossistema na Ilha Rei George, onde fica a Estação Antártica Comandante Ferraz.Parte do sucesso nas buscas pode se dar ao fato de os tripulantes do Maximiano já estarem acostumados com a região, à medida que Punta Arenas é um ponto usado por barcos brasileiros para abastecimento durante viagens à Antártica. Além disso, o Ministério da Defesa disponibilizou duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (SC-105 e P3) para ajudar em operações de busca e salvamento.

Fonte: O Globo