Com aposentadoria dos Hércules, Brasil está sem aviões homologados para pousar na Antártica

Desde que os aviões de transporte de tropas C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB) foram aposentados, no final de fevereiro, o Brasil não tem aeronaves autorizadas para pousar na Antártica.

Por décadas, os Hércules realizaram voos entre o Brasil e a Antártica, com escalas frequentes em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e em Punta Arenas, no Chile. Em diversas ocasiões, inclusive, jornalistas de GZH acompanharam de missões na Antártica a bordo dessa aeronave — inclusive esse colunista, em 2018. (veja reportagem aqui)

Ao longo de sua história, o avião transportou milhares de militares e pesquisadores do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) para a Estação Antártica Comandante Ferraz, comandada pela Marinha. Sem autorização para pousar em Frei, base vizinha à estação brasileira, o Brasil agora só pode conduzir tripulantes para Ferraz por meio dos navios da Marinha, que precisam cruzar a passagem de Drake, um dos mares mais perigosos do mundo.

O pouso em Frei não é simples, e os pilotos da FAB são exímios conhecedores da pista chilena.

Apesar disso, em 2014, um Hércules da FAB derrapou. O cargueiro que transportava militares e civis pousou de barriga, o que provocou danos em uma de suas hélices e nos trens de pouso. O impacto não deixou feridos, mas causou vazamento do combustível. (Aqui, conto como é voar no Hércules entre Punta Arenas e a Base Aérea Eduardo Frei)

Enquanto não pode pousar na Antártica, o novo KC-390 realizou duas operações de lançamento de carga sobre a Estação Comandante Ferraz no ano passado. No último dia 19 de fevereiro, uma das aeronaves, pertencentes do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa (1ºGTT), Esquadrão Zeus, realizou uma missão de apoio logístico ao Proantar, decolando do aeroporto de Pelotas até Punta Arenas e retornando no mesmo dia, sem ir até a Antártica.

Os novos aviões de transporte da FAB só serão considerados operacionais para pousar em Frei após testes e avaliações.

No último dia 29, uma cerimônia marcou, de forma simbólica, o legado do Hércules, na Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro. O avião era utilizado pelo Brasil desde 1965. Além de missões na Antártica, levou militares ao Haiti durante os 13 anos em que o Brasil participou da força de paz no país caribenho, prestou apoio humanitário em países como Chile, Venezuela, Bolívia e Peru e participou das buscas aos aviões acidentados da Gol, em 2006, e da Air France, em 2009.

Fonte: GZH – Rodrigo Lopes