A Lagoa comporta diversos usos, alguns mais sensíveis e dependentes da integridade do sistema. A atividade da pesca, por exemplo, que já sente a redução do estoque, pode sofrer fortes mudanças e isso levar mais prejuízo e mais miséria para centenas de famílias. O que não significa dizer que a geração de energia não seja uma possibilidade. É claro que é viável e precisamos tirar o melhor proveito disso.
Só não é possível querer fazer isso sem um plano, sem um instrumento que nos permita reconhecer cada uso, demanda e conflito, no seu devido lugar. E, neste momento, não há sequer um termo de referência que liste as diretrizes metodológicas para a elaboração dos estudos de impacto ambiental (EIA/Rima) necessários para o licenciamento de parques eólicos em lagoas gaúchas, nem resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) que regule esse tipo de empreendimento em águas estaduais. Uma loucura! E chamar isso de sustentável, uma loucura ainda maior.
O discurso fácil da sustentabilidade não se sustenta. Não é tão simples assim e envolve um processo de construção política e social que é bem diferente de tudo o que está aí.
Um projeto de economia, com características de sustentabilidade, deve buscar, para além do sucesso financeiro da captação de investimentos, lucro, arrecadação, emprego e geração de renda, também a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. Que é a parte mais difícil. Afinal, não se constrói desenvolvimento destruindo. A base de qualquer economia saudável é o respeito às pessoas e o uso racional dos recursos e dos serviços prestados pela natureza. Não se faz economia sustentável degradando, flexibilizando leis e/ou alinhando-se a políticas negacionistas. Aliás, o desenvolvimento sustentável jamais será alcançado a menos que façamos uma verdadeira revolução social, baseada na associação inseparável entre ecologia e economia. Então, não basta sair por aí colocando torres de geração eólica e dizer “somos verdes e sustentáveis”.
Sem um plano, não vai dar certo.