A concorrência mora ao lado

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Para Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, portos do sul vão perder importância caso se confirme o financiamento do BNDES para a construção de terminal no Uruguai

Por Laura D’Angelo e Marcos Graciani / Revista Amanhã

A semana começou com águas agitadas para os portos brasileiros, principalmente os da região sul. O possível financiamento de um superporto no Uruguai por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem preocupado o setor. O porto seria no município de Rocha, a 288km de Rio Grande, onde está localizado o terminal portuário do Rio Grande do Sul. O terminal uruguaio teria capacidade de 87,5 milhões de toneladas,  quase o dobro do de Paranaguá (PR), o maior da região Sul (leia mais aqui)

Enquanto o presidente do Uruguai, José Mujica, afirma que 80% da construção do superporto será financiado pelo Brasil, a Secretaria dos Portos do governo federal garante que a relação com ao país vizinho não passa de um apoio técnico para avaliar as instalações do local. No fim da tarde da terça-feira, o BNDES reiterou que não está analisando nenhum pedido de financiamento referente ao Porto de Rocha. Wilen Manteli (foto), presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), afirma que o setor espera agora um posicionamento por parte do Palácio do Planalto e do Itamaraty que, até o momento, não confirmam nem negam o investimento brasileiro nas águas uruguaias.

A ideia de um financiamento brasileiro para a construção do Porto das Rochas está sendo fortemente criticada pelo setor de logística. Mesmo a idéia de um simples “apoio técnico” não é vista com bons olhos por Manteli. Ele acredita que é uma forma de colaborar com um concorrente direto dos terminais portuários do sul do Brasil – que, segundo ele,  sofrem com a falta de um sistema de ramais aquaviários adequado, além de enfrentarem inúmeros obstáculos de infraestrutura para a sua expansão. “Existem questões técnicas e legais que estão trancando o processo de expansão. Faltam serviços de dragagem, os custos são elevados, existe muita burocracia… Enfim, uma montanha de problemas e o que nos aparece? Um porto que vai competir com os da região sul e sendo financiado pelo governo”, dispara.

Caso a construção do terminal de Rocha se confirme, os portos de Paranaguá (PR), Itajaí (SC) e Rio Grande (RS) terão seu papel modificado na rota comercial internacional, de acordo com Manteli. “A tendência é virarem apenas meros portos auxiliares, pois os navios de longo curso vão acabar aportando no terminal uruguaio. Afinal, estarão perto da África e da Ásia, onde há muito potencial de comércio”, prevê Manteli, que se reúne com o Ministro da Secretaria dos Portos, Antonio Henrique Pinheiro Silveira, nesta quinta-feira, para tratar da liberação de investimentos aos portos brasileiros de uso público, inclusive os do sul.

Procurado por AMANHÃ, o secretário de Infraestrutura e Logística do Rio Grande do Sul não quis se manifestar sobre o assunto.