Rio Grande sofreu impacto dramático na economia

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EBR, em São José do Norte, conclui a construção de módulos e, ao final da obra, ficará sem novos projetos
EBR, em São José do Norte, conclui a construção de módulos e, ao final da obra, ficará sem novos projetos / Willian Silva
Diferentemente do que ocorreu na Bahia, as obras de construção do estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo, ainda não foram paralisadas, já que estão 90% concluídas. A empresa, contratada para construir quatro sondas, está quase terminando a primeira delas com recursos próprios. Hoje, o Jurong tem 1.800 trabalhadores, mas a continuidade vai depender do processo de recuperação judicial da Sete Brasil, que reduziu seu projeto de 28 para 10 sondas.
Em Rio Grande (RS), o impacto na economia foi grande com a redução das atividades dos estaleiros QGI (Queiroz Galvão/Iesa), Rio Grande e EBR. Além da retração das encomendas da Petrobras, vários controladores de alguns desses estaleiros foram envolvidos nas investigações da Operação Lava Jato. Nos últimos dois anos, houve redução de 13 mil postos de trabalho na região. Hoje, são apenas 7 mil empregados.
O EBR está concluindo a construção de módulos de uma plataforma, e não tem novos projetos na mesa. Rio Grande não tem projetos, segundo fontes, já que a construção de oito cascos para os navios-plataforma foram redirecionados para o exterior. Já o QGI, após a paralisação das atividades por meses, assinou aditivo ao contrato com a Petrobras em meados de 2015 para a construção e montagem de duas plataformas. Assim, espera gerar dois mil empregos até 2017, dando um pouco de alívio à região.
Para especialistas, vários fatores explicam a crise do setor. Um deles é o fato de a Petrobras estar direcionando parte das encomendas para a China. “A Petrobras anunciou que as encomendas de plataformas serão direcionadas para a licitação internacional de grandes integradores”, disse o Sinaval. A estatal destacou que “avalia junto com parceiros a execução no exterior de parte do escopo das obras de plataformas com o objetivo de mitigar atrasos”.
Maurício Almeida, presidente da Associação Brasileira dos Engenheiros e Técnicos da Construção Onshore, Offshore e Naval, com 2.800 associados, critica a condução da política de conteúdo nacional. “Foram criados polos navais pelo País por interesses políticos, e não por razões técnicas. Foi uma desgraça anunciada. Pensou-se na criação de um setor somente num momento de pico, e não na continuidade de demanda a longo prazo.”
Miro Arantes, presidente do estaleiro Vard Promar, também critica a política de conteúdo nacional, que exige patamares a partir de 50%, em alguns casos. Atualmente, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda a flexibilização das regras. Ao mesmo tempo, o órgão regulador pretende convocar audiências públicas sempre que uma petroleira alegar que não conseguiu atingir os índices exigidos, que são definidos em contrato no momento do leilão de blocos de petróleo. “É preciso ter bom senso. De um lado, é uma temeridade não ter. Do outro, ter índices de 70% a 80% em alguns caso é exagero”, diz Arantes.
Marcelo Gomes, diretor executivo da Alvarez & Marsal, que conduz o processo de recuperação da Sete Brasil, destaca que as empresas do setor precisam mudar. Um exemplo é o Estaleiro São Miguel, no Rio, que voltou a operar após se reestruturar. “O setor naval passa por forte momento de reestruturação por causa da crise da Petrobras e do novo patamar do preço do petróleo. As empresas precisam se reestruturar operacional e financeiramente para se adaptar à realidade. Ainda existem oportunidades no setor naval”, disse.