Tempestade, resgate e cirurgias. A viagem da fragata União

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por Fernanda Balbino / A Tribuna de Santos

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Sensores e monitores do Centro de Operações de Combate permitem monitoramento de outras embarcações

As missões de paz no Líbano, que integram as ações da Força Interina das Nações Unidas no país (Unifil na sigla em inglês), são repletas de tensão, já que a região vive em conflito armado. Mas, em uma viagem tão longa como a realizada pela fragata União, da Marinha do Brasil, outros riscos são enfrentados. Incêndios, alagamentos e ataques externos podem acontecer a qualquer momento.

Entre janeiro e outubro deste ano, a embarcação participou da missão que tem como objetivo impedir a entrada de armamento ilegal no país da Ásia Ocidental. De acordo com o comandante da embarcação, o capitão-de-fragata Guilherme Lopes Malafaia, esta foi uma viagem “tranquila”, mas a tripulação estava sempre atenta aos perigos, tanto em mar, quanto em terra.

“A região é complicada, com o conflito agora na Síria. Sempre tem situações também de pequenas interações ou conflitos pontuais na fronteira do Líbano com Israel. De vez em quando, a gente acompanha, pela mídia, algumas notícias de problemas na fronteira terrestre. Mas, na parte marítima, a gente não teve nenhum problema neste período em que o navio esteve lá. Correu tudo normalmente”, revelou o oficial.

Por conta desses conflitos, no Mar Mediterrâneo, é grande o número de refugiados que se arriscam para tentar uma vida mais segura na Europa. E a fragata União foi acionada para atuar no salvamento de cerca de cem pessoas, durante a viagem de volta ao Brasil, em setembro.

“Estávamos em patrulha pela Unifil e fomos acionados de madrugada, porque tinha uma embarcação com cerca de cem refugiados próximo ao Chipre. Eu estava um pouco distante, mas era o navio de guerra mais próximo. Fomos acionados para aproximar e fazer o resgate, mas os refugiados já estavam sendo recolhidos por lanchas”, contou o comandante.

A fragata União esteve no Líbano de janeiro a outubro deste ano, em missão de paz

Madrugada

Além dos perigos externos, o dia a dia no navio também é repleto de aventuras. Nesta última viagem, um dos compartimentos da embarcação foi totalmente alagado, durante uma tempestade, por volta da meia-noite. “Os problemas, para variar, só acontecem de madrugada, quando está todo mundo dormindo. Nesses casos, o navio todo guarnece, todos acordam. Começamos a preparar para combater e tentar evitar que a água entrasse. Vimos que não tinha como, porque as ondas estavam quebrando bem ali, na popa (parte de trás da embarcação). Isolamos o compartimento para que a água não passasse e o mar só foi melhorar lá pelas 6, 7 horas da manhã. Esse é um momento de tensão constante e que precisa ser administrado rapidamente”, explicou.

Sensores e monitores do Centro de Operações de Combate permitem monitoramento de outras embarcações

Tripulação

 Com 252 militares a bordo, a União conta com dois médicos e um dentista. Entre os atendimentos mais comuns, estão as queixas de enjoo e dor de cabeça dos tripulantes.

Mas, nesta missão, dois militares tiveram crises de apendicite e precisaram ser desembarcados e removidos para um hospital em Beirute, a capital libanesa.

“Se a gente estivesse muito longe de terra, atravessando o Atlântico, e tivesse que mandar alguém para o hospital para fazer uma cirurgia de apendicite, seria impossível. Aí, seria obrigado a fazer a cirurgia no mar mesmo, senão a pessoa poderia morrer. Em casos de emergência, a gente faz porque é melhor tentar fazer e sobreviver do que não fazer nada e a pessoa morrer”, admitiu o oficial.

COC 

O Centro de Operações de Combate (COC) é o local da fragata União, da Marinha do Brasil, onde são tomadas todas as decisões operacionais durante uma missão. Assim, é onde o comandante da embarcação, o capitão-de-fragata Guilherme Lopes Malafaia, passa a maior parte do tempo durante jornadas e operações de treinamento.

No COC, estão concentradas as informações captadas por todos os radares. É possível selecionar os ambiente aéreo, de superfície e até submarino para verificar a aproximação de ameaças à segurança da embarcação.

Em 2005, a União foi totalmente modernizada. Foram trocados sensores, armamentos e os próprios equipamentos de navegação. A embarcação ganhou mísseis, canhões e consoles novos, além da atualização de todos os sistemas de combate.

“Aqui, a gente recebe dados de câmeras que têm informações e imagens infravermelho, para que a gente possa, à noite, detectar uma embarcação. Assim, é possível ver se ela é realmente amiga, um barco pesqueiro, um navio mercante ou qualquer outra coisa. Essas informações também vão para um sistema, para que seja direcionado o armamento adequado para detê-lo, se for uma ameaça”, explicou o oficial.

É deste local também que o comandante dá as ordens para inspeções de embarcações suspeitas de tráfico de armas, já que a principal missão no Líbano é impedir a entrada de armamento no país. Neste momento, entra em ação o grupamento de operações especiais da fragata brasileira.

“Em caso de ser necessário abordar algum navio que não esteja obedecendo as orientações, a gente manda um helicóptero, uma lancha, para tomar o navio e, a partir daí, ele passará a obedecer as nossas ordens para ser inspecionado”, explicou o comandante Malafaia.